Retrato de um rio morto

Airam Ribeiro

Vê aquela areia quente

Que o jegue está espojado

Ali nos tempos passados

Ainda lembro na mente

Passava a água corrente

Que chegava com fartura

Era grande a espessura

No fundo tinha cascudo

Mas acabou aquilo tudo.

Como era uma formosura!

Descia pura e cristalina

A água lá do riacho

Quando chegava cá em baixo

Trazia peixe lá de cima

Comia velho e meninas

O que o rio oferecia

Tantas vezes ele trazia

Junto com a correnteza

A fartura que a natureza

Dava-lhes todos os dias.

A casinha nas margens

Ao lado do leito vazio

Onde passava aquele rio

Descreve outra imagem.

Com os tempos de estiagem

Ela também ficou vazia

Findou aquela alegria

Da festança no quintal

Foi embora o pessoal

Ao ver que o rio morria.

Quando olho no retrato

Inda da pra perceber

Que a água para beber

Vinha do meio do mato

Onde nascia o regato

Embaixo da capoeira

Correu a vida inteira

Sem cansar nunca parou

Tanta gente nele pescou

Na sombra da ingazeira.

A ingazeira coitada

Essa foi igual ao rio

Não agüentou o desafio

Com o tempo foi tombada

Da árvore não restou nada

Acabou tal qual a água

Que foi levando a mágua

Da quentura que evaporou

Só mesmo areia alí ficou

Não restou um pingo d'água.

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 31/07/2009
Reeditado em 31/07/2009
Código do texto: T1729109