Mote - Cunheço tudo do sertão/pruquê eu vim foi de lá
Airam Ribeiro
Eu cunhêço a pimentêra
Qui é quente pra daná
O bofe ela vai temperá
Né bom logo ir de premêra
Qui é quente iguá foguêra
E uma quintura de lascá
Macaxêra vai quemá
Cum mutia lenha no fugão
Cunheço tudo do sertão
Pruquê eu vim foi de lá.
Urubu ta lá avuano
Pruquê o bizerro nasceu
O imbigo num desceu
E ele pode ir devorano
Quema cum ói, vai oliano
Se o bizerro num vingá
Um arguém vai li xingá
E esse arguém é o patrão
Cunheço tudo do sertão
Pruquê eu vim foi de lá.
Se tivé cum inxurrí
Mió dizê caganêra
Pega ôi de goiabêra
E faiz um xá disso aí
Pras bosta pará de saí
E o bizerro pudê sará
Mais num dêxa ele andá
Pro lado das água não
Cunheço tudo do sertão
Pruquê eu vim foi de lá.
Sê qué ir num relabuxo
Pra móde se adivertí
Coidiado qui aquilo ali
É um grande apertuxo
Refulengo né som de luxo
Dos pé de bode a tocá
E o suó fica a derramá
No corpo inrriba do xão
Cunheço tudo do sertão
Pruquê eu vim foi de lá.
É ni dia de Son Juzé
Qui o mio a lavradô pranta
Da terra ele se alevanta
Pra alimentá os garnizé
Homi minino e muié
Cumeça intão trabaiá
Pra o mio todo tirá
Para assá no São Juão
Cunheço tudo do sertão
Pruquê eu vim foi de lá.
A festa do Bom Jesuis
Só quem faiz é os romêro
Viaja cum muitio esmêro
Para arcançá uma luis
Padim Ciço é qui conduiz
Os romêro qui vai viajá
Ele abençoa todos lá
Pur cauza das devução
Cunheço tudo do sertão
Pruquê eu vim foi de lá.
Todo bom cabra da peste
Tem pexêra na cintura
A valentia se amistura
Se qué vê faça um teste
Mais digavá num investe
A covardia num mora lá
A valentia é naturá
É a curtura daquele xão
Cunheço tudo do sertão
Pruquê eu vim foi de lá.
Tem caxôrro nas ossada
E nem uma nuvi no céu
Eu aqui nesse cordéu
Penso na vida passada
Quando num se via nada
Era só seca no lugá
Tomém mutio carcará
Disputano muitios ossão
Cunheço tudo do sertão
Pruquê eu vim foi de lá.