NO BIGODE DA NAÇÃO

Miguezim de Princesa

I

Presidente Zé Sarney,

Queira ao menos me explicar

Se tudo o que o senhor faz

Há como fundamentar:

Se é coisa consciente

Ou, se o assunto é parente,

Costuma se abilolar?

II

Pois um homem experiente,

Que nunca perdeu uma meta,

Que apoiou a ditadura

E a renegou na indireta

Ao se eleger com Tancredo,

Vai se lascar no segredo

Do namorado da neta!

III

Vai se perder na hospedagem

Do cabra lá de Codó

(Vereador muambeiro,

Babão de uma conversa só,

Exímio catimbozeiro,

Pomba-gira de terreiro,

Amarrador de cipó)?

IV

Como dizia Platão,

Tu és do primeiro time,

Rei, príncipe, seja o que for,

Comandante do regime,

Pra cujas falhas a pena

Não passa de cantilena,

Não existe nem redime.

V

Quem sabe, não foi por isso,

Engolfado nos milhões,

Que pra ti virou besteira

O destino dos tostões

Desviados de Brasília,

Que são troco da família

De assinalados barões.

VI

E aí o presidente,

A nossa máxima excelência,

Hierarquizou o crime,

Nos pedindo paciência:

Simples mortais, a prisão;

Quem representa cifrão

Tem inteira complacência!

VII

O Brasil do Bolsa-Fome,

Que vive na precisão,

De milhões que nunca viram

A luz da educação,

Suporta agora quieto

Seiscentos atos secretos

No bigode da Nação.

VIII

Atire a primeira pedra,

Senador ou deputado,

E eu de cá escutando

A coruja no telhado

Ou algum bicho agoureiro

Campanado no poleiro

Esperando o resultado.

IX

A campanha dos jornais

Escolheu José Sarney:

Ele é a bola da vez

(Da minha lista eu rifei),

Mas eu conheço mais gente,

Supostamente decente,

Em quem não apostarei.

X

E para finalizar,

Peço a Sarney atenção:

Beiço não é arroz doce,

Polenta não é pirão;

Jumenta nunca foi égua;

Compasso nunca foi régua;

Brasil não é sua mansão!

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 28/07/2009
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