Nº 27 - LENDAS: A MULHER DA MEIA NOITE, O PAPA FIGO E O LOBISOMEM
Dentre lendas e estórias
Existem coisas reais
Normalmente na figura
De valentes animais
Mas tem coisa diferente
Que toma forma de gente
Igual aos seres normais
Não são fatos triviais
Que vem do imaginário
A Mulher da Meia Noite
Mantém seu itinerário
Aparecendo do nada
Num bar ou numa estrada
Para um homem solitário
A cor do seu vestuário
É sempre vermelha ou branca
Uma mulher nova e bela
Que chega botando banca
Tem poder de sedução
Que mexe com o coração
Do homem que não se manca
Tem uma conversa franca
Um jeito manso na fala
Pele bonita e cheirosa
Direta como uma bala
Delicada, encantadora
Como deusa sedutora
Em sua noite de gala
Ela chega e se instala
Junto de homem sozinho
Lhe envolve com ternura
Se desmancha em carinho
E lhe deixa embriagado
Parecendo ter tomado
Cinco garrafas de vinho
Ela segue o seu caminho
Pede que vá lhe deixar
Dizendo morar sozinha
O homem vai lhe levar
Pára do lado de um muro
Alto, sombrio e escuro
Convida pra ele entrar
Dizendo: é este lugar
Eivado de paz e prece
O local da minha casa
Entre que você merece
No portão do cemitério
Envolvida de mistério
A mulher desaparece
O sino então estremece
Dando doze badaladas
A Mulher da Meia Noite
Chegou e saiu do nada
O homem se vai tristonho
Por entregar os seus sonhos
Nas mãos de alma penada
Seguindo nossa jornada
Sobre costumes antigos
Tem casos que são alerta
Para afastar do perigo
De uma criança simplória
Como descreve a estória
Da lenda do Papa Figo
Pra se fazer de amigo
Faz o que criança gosta
É um homem muito velho
Que traz um saco nas costas
Tem as orelhas crescidas
Pros males da sua vida
Vou lhe mostrar a resposta
Uma doença imposta
Que a sua vida toma
Não tem cura, pega o velho
Põe no estado de coma
Na medida em que avança
Só fígado de uma criança
Alivia o seu sintoma
Preso na sua redoma
Ele tem alguns agentes
Que vão pelo mundo afora
Aliciando inocentes
Em praça, rua e escola
Põem crianças na sacola
E levam para o doente
Distribuindo presentes
Fazem esquecer do medo
Enganam os inocentes
Pra carregar em segredo
Com coisas simples da vida
Doce, dinheiro, comida
Ou um pequeno brinquedo
Ele consegue bem cedo
Ganhar sua confiança
Com brincadeira, presente
Sorriso, canção e dança
Chama o menino lá fora
E nessa maldita hora
Ele carrega a criança
Cumprindo sua aliança
Esse temido agente
Leva direto pra casa
Do Papa Figo doente
O fruto do seu assédio
Para servir de remédio
Para a dor que ele sente
Então mata simplesmente
Cada criança trazida
Come o fígado ainda quente
Preservando a própria vida
Dissimulando o seu erro
Manda dinheiro pro enterro
E pra família sofrida
De gente desconhecida
Que se faça de amigo
Procure ficar distante
Pra não ficar em perigo
Não dê bola siga em frente
Que pode ser um agente
A mando do Papa Figo
A nossa mente é abrigo
Mas também é uma trilha
A lenda do Lobisomem
É mais uma maravilha
Do folclore brasileiro
Embora tenha o tempero
De queda na armadilha
A mulher de sete filhas
Com o oitavo filho homem
Ou que namora com padre
E tem filhos no seu nome
Não é obra do acaso
Que transforma nesse caso
Esse filho em Lobisomem
Essa desgraça não some
Se o filho nasce normal
Sempre magro e amarelo
Orelha descomunal
Pra sua infelicidade
Aos treze anos de idade
Vem a maldição fatal
Ele se torna animal
Depois desse natalício
Na terça ou sexta seguinte
É que o mal tem início
Quando a noite é chegada
Vai pra uma encruzilhada
E começa o seu suplício
Como se fosse um vício
A maldição continua
Toda terça ou sexta feira
Sai correndo pela rua
Atrás dele uma matilha
Vem seguindo a sua trilha
Enquanto uiva pra lua
É uma obrigação sua
Ir a sete encruzilhadas
Sete pátios de igreja
Sete vilas, sete estradas
As luzes vão se apagando
Por onde ele vai passando
Pra seguir sua jornada
Ele sai na madrugada
Vasculhando a região
Vai a procura de sangue
De um menino pagão
Bebe tudo que ele tinha
Sangue e cocô de galinha
São sua predileção
Ao fim da escuridão
Na hora que canta o galo
Ele volta ao normal
De repente, num estalo
É gente mais uma vez
Sem saber nada que fez
Durante aquele intervalo
Quem estiver no embalo
E não puder se esconder
Na hora que ele passar
E encontrar com você
Não sofra com agonia
Reze três Ave Marias
Para assim se proteger
Pro encanto desfazer
É preciso que alguém
Bata na sua cabeça
Com toda força que tem
Sem o sangue lhe pegar
Porque senão vai virar
Um Lobisomem também
Numa bala passe bem
Cera d' uma vela usada
Que em três missas passadas
Já tenha sido queimada
Acerte no Lobisomem
Que sua maldição some
E nunca mais sente nada