ROMETA E JULIEU
Vivia lá na favela
um certo barão da droga
que tinha uma filha bela
e nunca andou de piroga
Lá embaixo, no asfalto
um político poderoso
era o barão do assalto
e tinha um filho lindoso
Num baile de Carnaval
conheceu-se o jovem par
decerto ia dar pau
nem precisava pensar
O mancebo Julieu
era moço refinado
nunca em rolo se meteu
e vivia amofinado
A bela e jovem Rometa
suspirava de amor,
com o dedo na gaveta
às vezes perdia a cor
Não saía pra escola
por proibição da avó,
andava de camisola
e vivia a cantar só
De cima do barracão
aos suspiros se entregava,
esperando o coração
que Julieu carregava
O jovem fazia versos
todo dia, toda hora,
e por caminhos diversos
recitava na aurora
O amor cresceu mui forte
por ser ele proibido
Foi dasatino ou foi sorte,
esquentar o tal libido
Rometa ardia em ais,
Julieu nem dava bola,
escrevia cada vez mais,
só comendo acerola
Mas nada fica em segredo
nem se esconde em concheira
Belo dia, sem arremedo
se espalhou cidade inteira
Que o belo e fino Julieu
estava enamorado
e o coração perdeu
por outro jovem tarado
Foi um tal de língua fora,
um vai-e-vem trás-pra-frente
E perguntavam: - E agora?
Esse jovem está doente?
Não era assim a história
mesmo que chore ou espirre
que escreveu com mil glórias
um tal de Bíu Xaquespirre
A história era de amor,
de ódio, beleza e morte
Tinha também muita dor
e muita falta de sorte
Mas nesses tempos modernos
em que nada se acredita
tem micros em vez de cadernos
e a coisa fica esquisita
O morro, não teve mais paz:
foi tiro por todo lado,
foi briga de Satanás,
um bate-boca arretado
Mas a bela da Rometa
jovem e quente rapariga
disse pra avó: - Não se meta
E fugiu com outra amiga
E assim viveram felizes
todos com muita bondade,
inversos nas diretrizes
dos homens de boa vontade
Niguém saiu castigado,
por mais que deseje e consiga:
Julieu com seu tarado
e Rometa com sua amiga