Peleja entre Petronilo e Raul (desenvolvida na comunidade Desafio de Cordel no Orkut)
Raul:
Amigo e poeta, Mestre Petronilo,
Vim lhe convidar para um desafio...
Bem sei que tens estro, talento e brio
Para porfiar seja em qualquer estilo.
As tuas palavras eu pego e compilo
Para no futuro delas relembrar.
Agora me diga se vais aceitar
Meu humilde convite a cair na arena
E ver qual de nós irá roubar a cena
Nos dez de galope na beira do mar!!
Petronilo:
No palco da vida eu sou um dos fantoches
Nunca roubei cena, sou só figurante
Como cantador sou um iniciante
Toda minha vida só levei reproches
Em vez de aplausos recebo deboches
Como sou teimoso devo aceitar
O seu desafio, vamos pelejar
Pois quem persevera é quem tem a vitória
Chega no final tendo os louros da glória
Nos dez de galope na beira do mar.
R:
Hoje eu vejo o mundo girando ligeiro
Corre em disparada a tecnologia
Já existe uma tal de robotecnia
Que tira do homem o emprego e dinheiro
É um robô trabalhando o dia inteiro
Sem parar nem sequer para almoçar
Com a maquinaria não dá pra disputar
E o humano assim vai ficando pra trás
O jeito é buscar sossego e paz
Nos dez de galope na beira do mar!!
P:
O Pedro folgado espichado na rede
Já dá uma idéia de muito sossego
Não se preocupa nem pede arrego
Não morre de fome nem morre de sede
A sua escora é a fria parede
Só eu que não tenho como descansar
Minha vida toda foi só trabalhar
Carregando pedra é só como eu descanso
Mas sei q'inda hei sair desse remanso
Feliz balançando na beira do mar.
R:
Nem um mensageiro, nem pombo-correio,
Garrafa de vidro, carta ou telegrama.
Pra mandar mensagens para quem se ama
A moda agora é o tal do e-mail
Pois a Internet é algo que veio
Para a informação revolucionar
E existe o orkut, que é o lugar
Onde qualquer um pode achar quem quiser
Só não faz amigos aqui, quem não quer
Nos dez de galope na beira do mar!!
P:
Eu tenho saudade do tempo de outrora
Em que meu recado era de bilhetinho
Mandava lembranças abraço e beijinho
Mas tudo mudou nesse mundo de agora
Por trás de uma tela é que a turma namora
Em vez de caneta hoje tem que teclar
Não tem o carinho da troca de olhar
A troca de beijo hoje é só virtual
O banco da praça virou um portal
Prefiro meu tempo na beira do mar
R:
O progresso ajuda e também atrapalha,
Serve pra criar e também destruir
Se levanta um prédio o faz também cair
Com um tiro de míssil, certeiro, sem falha.
Hoje o que ele ajunta amanhã ele espalha
E esse triste dilema vai continuar.
É cada um querendo o seu próprio lugar,
Passando por cima até da lei divina,
Mas eu abro mão e volto pra Carpina
Nos dez de galope na beira do mar!!
P:
Tá muito difícil entender a linguagem
Parece que estamos em outro país
Ninguém mais entende o que o outro diz
Nessa Internet é tanta sacanagem
É tanta besteira e tanta bobagem
Que fico pensando onde foi parar
Aqueles poemas que à noite ao luar
Fazia os amantes jurarem amor
Que até fez a lua mudar sua cor
Por isso eu lamento na beira do mar
R:
A cada ano que passa a tal velocidade
Dos automóveis só tende a crescer
E o homem, apressado, só pensa em correr,
Vai desafiando a lei da gravidade
E esquece que tem responsabilidade
Na morte de quem ele atropelar
Pois enchendo a cara antes de ir guiar,
Vai dando lugar para a estupidez
Mais cedo ou mais tarde virá sua vez
Nos dez de galope na beira do mar!!
P:
Eu nunca assisti um atropelamento
Nem uma batida de carro de boi
Me mostre um velório de alguém que se foi
Motivo da morte queda de jumento
Ou foi uma falha do equipamento
Que fez o cabresto se arrebentar
Ou se pagou multa ao sinal avançar
Quem guia cavalo cheio de cachaça
Não corre perigo de sofrer desgraça
Vivendo tranqüilo na beira do mar.
Rl.
Eu digo: não existe vaqueiro moderno
Que queira usar terno em lugar de gibão
Ou que troque o calor do sol do sertão
Pelo frio do sul e a garoa no inverno
Pois para o matuto seu solo é eterno
E ele não é doido pra querer trocar
O chão da caatinga por outro lugar
Nem seu alazão por um automóvel
Que num acidente lhe deixa é imóvel
Sem poder cantar mais na beira do mar!!
P:
Os dias de hoje são tão diferentes
Os discos de cera viraram CD
O antigo cinema virou DVD
Os carros de hoje são máquinas quentes
Os mais corajosos eram homens valentes
Mas hoje é bandido que vive a matar
Tirando a paz e o sossego do lar
A gente deixava a porta sempre aberta
Mas se deixar hoje é assalto na certa
Vivendo assustado na beira do mar.
R:
Agora inventaram a TV de plasma
O vídeo-cassete já nem mais se vê,
Perdeu a corrida para o DVD
E o toca-CD virou um fantasma,
O Mp3 agora é quem pasma,
Pois mesmo pequeno, ele pode arquivar
Centenas de músicas e o celular
Pode tirar foto e filmar também!
Na era digital não tem pra ninguém
Nos dez de galope na beira do mar!!
P:
O ronco do carro da fórmula um
Com muitos cavalos eu vi na Internet
Bonito era ouvir o som da Wemaguet
Que abria as portas de forma incomum
Se era mulher era aquele zunzum
A turma corria para espiar
Que coisa bonita ver moça a guiar
Mas hoje em dia o carro do futuro
Ligeiro demais e com vidro escuro
Nos tira a visão lá na beira do mar.
R:
Meu lindo passado eu pego e emolduro,
Prego na parede da minha lembrança:
O tempo em que eu inda era criança
Sem maldade alguma, de coração puro!
Perto de meus pais me sentia seguro,
Nada era capaz de me amedrontar;
A paz repousava por sobre meu lar...
Agora crescido me sinto tão mal...
Olhando o mundo num inferno astral
Eu choro é sozinho na beira do mar!!
P:
Ainda me lembro que na mocidade
Fazia passeios de Simca Chambord
Melhor caminhão era o carro da Ford
Levava a carga sem dificuldade
Mas hoje me espanto com a quantidade
Que uma carreta pode carregar
E um avião transportando no ar
Trezentas pessoas em poucos instantes
Chegando ligeiro a lugares distantes
Voando sereno na beira do mar
R:
Já o meu transporte era burro ou cavalo!
Eu andava léguas sentado numa sela.
Quer fosse pra feira, escola ou capela,
Eu ia contente com aquele embalo...
Por isso que eu até hoje inda falo
Do tempo passado e sempre vou falar!
Aumente o progresso o quanto aumentar,
Nada se compara à minha mocidade
Que eu relembro com imensa felicidade
Nos dez de galope na beira do mar!!
P:
Meu dicionário sofreu invasão
Até pra comer se tornou diferente
Mudaram o nome do cachorro quente
Para hot dog com um salsichão
Trocaram o nome do meu macarrão
Um tal de miojo tomou seu lugar
Hoje meu almoço tenho que pesar
Meu pão com manteiga que tinha na mesa
Agora é pizza e uma tal calabresa
Eu vou passar fome na beira do mar.
R:
A cozinha moderna é mesmo diferente
Daquela que a gente estava acostumado:
Hoje tem uns tais de hambúrguer e prensado
Que o cabra só come de um modo urgente,
Pois do corre-corre ele é um dependente,
Quase não tem tempo pra se alimentar
E a sua saúde, sem ele cuidar,
Fica a cada dia ainda mais instável...
É de suma importância comida saudável
Pra se ter boa vida na beira do mar!!
P:
Eu antes pedia pão, queijo e ovo
Agora mudaram pra um tal de “chisegue”
Tá tudo mudado e não há quem me negue
Do que aprendi na “Cartilha do Povo”
Ou volto pra escola para aprender de novo
Ou fico assim neste mundo a penar
Chisegue e chisburgue só faz engordar
Salame, presunto, beicom, mortadela
Que falta me faz um pirão de costela
Assim vou cantando na beira do mar.
R:
Sopa de legume esborrando a panela,
E um prato de cuscuz com carne de galinha:
Erra esse o menu da minha cozinha!
Somente a lembrança é o que sobrou dela...
Hoje a criançada anda obesa e amarela
E os pais nem parecem se preocupar.
Se os filhos lhes pedem, logo vão comprar:
Coxinha, pastel, “x-tudo” e “refri”,
Tanta guloseima assim eu nunca vi...
Prefiro é farinha na beira do mar!!
P:
Os pais são culpados de tanta fritura
Que nossas crianças estão consumindo
Os pratos saudáveis estão reduzindo
Pois muita gordura e muita doçura•
Nos levam mais cedo para a sepultura
O tal diabetes já vive a atacar
Em tenra idade crianças sem par
Tiraram da mesa a salada bonita
Hoje é maionese com batata frita
O prato do dia na beira do mar.
R:
Nem come de direito e nem se exercita
Trocou-se o esporte pela internet
Futebol, natação, o vôlei e o basquete
Perderam lugar pruma coisa esquisita
Chamada “playstation” que somente irrita
A vista das crianças que vivem a jogar
O dia inteiro, nem pensam em parar
E achar uma nova e boa diversão
Que ajude a mente, o corpo e o coração
E lhes dê saúde na beira do mar!!
P:
Me lembro do tempo em que eu era menino
Fazia corrida em cavalo de pau
Comia-se tudo e não fazia mal
Nadava em açude com o sol a pino
Ninguém era fraco e nem era mofino
E tinha energia para se gastar
Depois do almoço ou depois do jantar
Falava bem alto nosso lado atleta
E todos pegavam sua bicicleta
Pra ir pedalando na beira do mar.
R:
Minha “mininice”, eu digo, foi completa!
Brincava na rua sem temer bandido.
Hoje esse direito acabou, foi banido
Pois a violência a liberdade afeta!
E o humano não vive, ele apenas vegeta,
Lembrando dum tempo que não vai voltar.
Trancado em casa, vive a lamentar
O triste momento que o mundo atravessa...
Pra eu não ficar louco, vou embora com pressa
Brincar de criança na beira do mar!!
P:
Se a tosse pegava e o peito chiava
Resolvia com peitoral de angico
Podia ser pobre, podia ser rico
Emulsão de Scott era quem mais curava
Leite de Colônia é que a gente usava
O desodorante pra não transpirar
O nosso perfume era Royal Briar
A gente assistia ao Repórter Esso
Não tinha bandidos dentro do congresso
Eu era feliz lá na beira do mar
R:
Meu caro poeta, uma coisa eu confesso:
Que mesmo não sendo assim de muita idade,
Sinto no meu peito uma imensa saudade
De minha mocidade, à qual sempre regresso
E na minha mente dá um retrocesso
Que às vezes me pego, num canto, a chorar
Lembrando a família, os amigos, meu lar...
Ah, se o meu tempo voltasse atrás!
Faria dinovo o que não faço mais
Nos dez de galope na beira do mar!!
P:
Não me arrependo de tudo que fiz
Faria de novo se o tempo voltasse
E se por acaso houver um impasse
Nem mesmo assim eu me sinto infeliz
Porque minha vida é uma bissetriz
Se volto ao passado é para relembrar
Que os erros que fiz tenho que consertar
A vida de hoje é muito estressante
Ergamos a fronte e sigamos avante
Cantando galope na beira do mar.
R:
Na vida, eu sou só um principiante!
Sei que há muito chão inda pra percorrer
Espero que os erros façam-me aprender
A sempre tentar outra vez, confiante
Que o que hoje parece ser asfixiante,
Amanhã vai encher os meus pulmões de ar
E olhando pra trás, eu vou me orgulhar
Por ter vivido a vida de uma forma briosa
E enfim, descansar, com a alma ditosa,
Nos braços do Pai lá “na beira do mar”!!
P:
Hoje estou cercado de grade e de muro
Mesmo em minha casa falta segurança
O tempo tranqüilo ficou na lembrança
Eu fico temendo por nosso futuro
Há tempos atrás eu dizia seguro
A porta está aberta, você pode entrar
A gente andava em qualquer lugar
Sem medo de ser assaltado ou ferido
Nem ser abordado por algum bandido
Hoje estou com medo na beira do mar.
R:
O nosso planeta anda mesmo dorido,
Girando no espaço sem ter direção!
A vida perece não ter mais razão
E o homem parece já ter se rendido
Mas eu sou valente e solto o meu rugido
Que é pra o mundo inteiro poder escutar
Que enquanto houver vida se deve lutar
Contra o mal que ataca a nossa esperança,
Pois cedo ou tarde o sol trará bonança
E a paz gozaremos na beira do mar!!
P:
Criei-me tomando banho de açude
Subia ligeiro em pé de cajarana
Comia pão doce com caldo de cana
Sempre desfrutando de boa saúde
Nos dias de hoje a galera se ilude
Fazendo regime pra não engordar
E tanto remédio vivem a tomar
Retiram gordura em lipoaspiração
Pensando que isso resolve a questão
Depois tão sofrendo na beira do mar.
R:
Quando eu me cortava passava alfavaca
E o corte sarava já no outro dia
E quando o catarro meu peito enchia
Tomava mastruz com leite de vaca
Mas hoje em dia se a gripe ataca
O povo já corre para inalar
No pronto-socorro não tem mais lugar
É gente com todo tipo de doença
Isso só aumenta inda mais minha crença
Que o melhor remédio é a beira do mar!!
P:
Quando eu me cortava era já diferente
Sempre me curei com leite de avelós
Remédio ensinado pelos meus avós
Que tem o efeito de adstringente
E do jerimum eu usava a semente
Com mel de abelha pra tosse curar
Com um chá de alho para auxiliar
Assim eu tratava o que era de mazela
E pra digestão tinha chá de macela
Vendendo saúde na beira do mar.
R:
Foi demais essa viagem
No galope à beira-mar
Qualquer um pôde notar
Que és poeta de bagagem
Creio que nossa mensagem
Quem leu, ficou satisfeito
Mas eu vou mudar o jeito
Então desemboque o pote
E derrame logo um mote
Que eu juro que não rejeito!!
P:
Poeta só é perfeito
Quando ama a poesia
Que nos dá tanta alegria
Deixa o povo satisfeito
Ele carrega no peito
Amor, saudade e paixão
Faz bater no coração
Um novo alvorecer
A poesia faz viver
Poetas em união.
R:
Num mundo de tanta briga,
Muitos querendo ser mais
Até parece que a paz
Perdeu lugar pra intriga
Mas há algo que me instiga
A cantar outra canção
Que possa, no seu refrão,
Ao mundo inteiro dizer:
A poesia faz viver
Poetas em união!!
P:
Velho Raul, meu poeta
Como é linda a poesia
Que nos dá tanta alegria
Bons sentimentos desperta
Pois é uma porta aberta
Para o nosso coração
O adubo da paixão
Faz a gente renascer
A poesia faz viver
Poetas em união
R:
A água é a cantoria
E os versos, o regador;
O poeta, agricultor
Que trabalha noite e dia
Com outros em harmonia
Para ver brotar do chão,
Que é a população,
Frutos de paz e prazer
A poesia faz viver
Poetas em união!!
P:
É sempre uma mesa farta
De gostosas iguarias
Um altar de romarias
Onde nada se descarta
E para que ninguém parta
Para um mundo de ilusão
Irmão abraça irmão
Em cena de comover
A poesia faz viver
Poetas em união.