DEIXANDO O MUNDO ADUBADO (Cordel Desencantado).

I

Na fazenda de Juvenal

O banquete era à luz de vela

E uma moça embuchuda e bangela

Lascou-se numa guerra fecal.

Rosnava que nem animal

Depois que comeu do guisado

Deixou o banheiro lotado

E a fossa da casa estourada

É só de cagada em cagada

Que o mundo se torna adubado.

II

O povo danou-se a tossir

Com a fedentina da casa

Carniça assada na brasa

Era melhor de sentir.

O peido de dez quatí

Se pudesse ser enlatado

Podia ser comparado

A perfumaria importada

É só de cagada em cagada

Que o mundo se torna adubado.

III

Neste jantar de casório

Por pouco não morreu gente

A festa alegre e contente

Quase se acaba em velório.

Se não fosse o doutô Ozório

Ligeiro feito um danado

O noivo já tava acabado

Velando uma noiva finada

É só de cagada em cagada

Que o mundo se torna adubado.

IV

Coitado do cão perdigueiro

Ficou sem o faro na hora,

O vaqueiro perdeu a espora

E o relógio parou os ponteiro.

Na cozinha sem candeeiro

O caos já estava instalado

O galo ficou assombrado

Cantando sem ser madrugada

É só de cagada em cagada

Que o mundo se torna adubado.

V

O bode pai de chiqueiro

Que estava pulando animado

Num canto caiu desmaiado

Sem agüentar mais o cheiro.

A galinha caiu do puleiro,

Levando um baque arretado,

O gato parou o miado

Sentindo a garganta engasgada

É só de cagada em cagada

Que o mundo se torna adubado.

VI

Lá pras banda do curral

A coisa foi complicada

A égua que tava amarrada

Num coice quebrou o varal.

E os pano do enxoval

Que tava todo lavado

No galope acabou-se rasgado

Sem serventia pra nada

É só de cagada em cagada

Que o mundo se torna adubado.

VII

Graças ao vento nordeste

Soprado de madrugada

A catinga que tava parada

Foi embora pra casa da peste.

Mas antes passou no sudeste

Deixando os estado afetado

O céu azul deu lugar ao nublado

Minas Gerais toda gripada

É só de cagada em cagada

Que o mundo se torna adubado.

VIII

No Rio e no Espírito Santo

O clima mudou de estação

O inverno escondeu o verão

E foi chuva pra todo canto

Camburí perdeu o encanto

E seu porto interditado

O Leblon foi evacuado

E a Tijuca abandonada

É só de cagada em cagada

Que o mundo se torna adubado.

IX

Depois de chupar o oceano

E Causar tsunami nas ilhas

O vento rumou pra Brasília

E o povo entrou pelo cano.

Os político só por engano

Pegaro os projeto aprovado,

Metero a mão no apurado

E gastaro em obras de fachada

É só de cagada em cagada

Que o mundo se torna adubado.

X

Assim que soube da notícia

O presidente encerrou a viagem

O vice só por sacanagem

Ligeiro chamou a polícia

Mandou que fizesse perícia

Pra achar o dinheiro roubado

Num instante ele foi encontrado

Na conta de uma enteada

É só de cagada em cagada

Que o mundo se torna adubado.

XI

Se o guisado não fosse mal feito

E a buchuda não tivesse comido

A cagada não tinha surgido

E o Brasil continuaria sem jeito.

Brasília a cidade dos prefeito

Seria um paraíso encantado

O Presidente viajando adoidado

Sem se preocupar com nada

É só de cagada em cagada

Que o mundo se torna adubado.

Herivaldo Ataíde
Enviado por Herivaldo Ataíde em 23/07/2009
Reeditado em 21/05/2011
Código do texto: T1714326
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