A SANTA E O SETE PELES
I
Izabé de Chico Inácio
Lavava roupa no rio
Quando bateu-lhe um frio
Descendo pelo espinhaço
Perdeu o sentido e o tacho
As roupa que tava dentro
Voaram num pé de vento
Aparecido do nada
Foi triste a sua jornada
De medo e de sofrimento.
II
Na margem do outro lado
A besta espreitava ela
O mau das sete mazela
Vestido de oito trapo
Escondido no mei do mato
Com a cara virada pra trás
Dispensou seus dois chacais
E preparou a chegada
Foi triste a sua jornada
E Izabé num esquece mais.
III
Valeu-se na Ave-Maria
E meia dúzia de oração
Chamou até São Simão
E cadê que ele aparecia
A água que tava fria
Começou logo a ferver
As mão danou-se a tremer
E as perna ficou parada
Foi triste sua jornada
Querendo se defender.
IV
A criatura funesta
Cheirava a medo e mistério
Com um bafo de cemitério
E dois chifre enfeitando a testa
Quis logo fazer a festa
Com a pobre moça indefesa
Pensou que seria moleza
levá-la pra sua morada
Foi triste a sua jornada
E maior ainda a surpresa.
V
O pestinhoso e feroz
Foi logo chegando perto
Ela com o rosto encoberto
Pela sombra de seu algoz
Juntou um resto de voz
E gritou por nossa senhora
O céu se abriu sem demora
E desceu a imaculada
Foi triste a sua jornada
E o cão se lascou nesta hora.
VI
A santa pulou na frente
Da moça desprotegida
Com um raio abriu a ferida
No beiço do come gente
O bode que era valente
Já tava pensando ir embora
Com um palmo de língua de fora
E a honra enlameada
Foi triste a sua jornada
Apanhando de Nossa Senhora.
VII
Na briga saiu sem dente,
E a tábua do queixo rachada
As pontas que era alinhada
Ficou em lugar diferente
A surra sem precedente
Deixou o capeta acabado
Saiu com os olhos trocado
E a ossaria quebrada
Foi triste a sua jornada
E por pouco não foi capado.
VIII
Quando voltou da batalha
Perdeu a fama que tinha
Chamado de capetinha,
Tratou de aquecer a fornalha
Com as alma cortada a navalha
Fez churrasquinho de gato
Meteu farofa no prato
E comeu carne apimentada
Foi triste a sua jornada
Pra esquecer o maltrato.
IX
Desse dia em diante
Que a santa lhe socorreu
Chico Inácio prometeu
Deixar de ser tão errante
Abandonou a volante
E sentou praça de chofé
Nas missa do Padre Zé
Pra Nossa Senhora rezava
Foi triste a sua jornada
Em que quase perdeu Izabé.