A VINGANÇA DO VAQUEIRO - Parte I
Deixei meu chapéu de couro
pendurado na varanda
o cavalo descansando
amarrado meio de banda
a tarde já esmorecendo
o sol lento, se debatendo
numa indolência branda
Fui logo abrindo a porta
procurando por Maria
afoito que nem um touro
buscando a vaca macia
pois o repouso do guerreiro
no labor o dia inteiro
começa ao fim do dia
Estranhei tanto silêncio
espalhando-se pelo ar
porque sempre que eu chego
Maria vem me abraçar
nos toques desse embalo
ela olha, eu me calo
logo estamos a nos beijar
Gritei logo por seu nome
estava preocupado
fui pela casa correndo
com medo, apavorado,
dei um pulo na cozinha
onde ficava sozinha
preparando o ensopado
Desabalei para o quarto
na cozinha não estava
empurrei a porta tremendo
então a vi, no chão sangrava
a faca enterrada no peito
angelical e sem defeito
quase morta arquejava
Um grito atormentado
no meu coração explodiu
uma onda de espasmos
meu corpo todo invadiu
debrucei-me sobre ela
das mulheres a mais bela
que por um instante sorriu
"Que desgraça aconteceu?"
Eu perguntei, desvalido,
ela apenas murmurou
uma palavra: "querido!"
Só depois, muito devagar,
foi que ela pode contar
o que tinha acontecido
Meu coração saltitava
eu mal podia respirar
ouvindo o relato dela
não podia acreditar
muito sangue derramava
enquanto ela falava
no seu trêmulo esboçar
Ela pausava na fala
esforçava-se por dizer
da boca o sangue fluía
eu nada podia fazer
as palavras eram aço
ao fim me deu um abraço
e logo terminou de morrer
Pela primeira vez chorei
coberto de amargura
o que por ela eu soubera
tornou-se grande tortura
agarrei de grande punhal
montei logo no animal
de vingança fui à procura