UM NOVO RICO, VIVENDO, MORRE SEM SER CONDENADO?

Com a vida toda voltada

Somente para ganhar

Novo rico quer saldar

E ter conta recheada

Não liga mais para nada

Que não seja acumulado

Só percebendo o brilhado

Do vil metal, dividendo,

Um novo rico, vivendo,

Morre sem ser condenado?

Para ganhar mais dinheiro

Queria ter várias mães

Para delas tirar pães

Como, do forno, o padeiro,

Feito um edil brasileiro

Que despreza o legislado

Sem declarar apurado

Nem de onde vai colhendo,

Um novo rico, vivendo,

Morre sem ser condenado?

É chegado a falcatruas

Explora sempre o erário

Para colher numerário

Faz desfile de peruas.

Tira crianças das ruas

Para o carro não ser sujado

Além de ter evitado

A sua mão se estendendo,

Um novo rico, vivendo,

Morre sem ser condenado?

Quando presente em velório

Ante o choro dos parentes

Bota pra fora seus dentes

Ostentando seu empório.

Expõe até suspensório

que na França foi comprado

se mostra pra todo lado

mas não vê ninguém sofrendo

Um novo rico, vivendo,

Morre sem ser condenado?

Quando alguém vai emprestar

Sai depressa com lamúria

Jura até perante a cúria

Que não tem de onde tirar.

Mas se alguém lhe avistar

No novo carro importado

Diz logo que é emprestado

Mas já está devolvendo

Um novo rico, vivendo,

Morre sem ser condenado?

Para desculpar riqueza

Bota culpa em loteria

Diz que joga todo dia

Para fugir da pobreza.

Demonstra toda certeza

Quanto a cada resultado

É todo esquematizado

Para o seu peixe ir vendendo

Um novo rico, vivendo,

Morre sem ser condenado?

Metido a raparigueiro

Solta foguete e balão

Adora uma contra-mão

Dá trambique em fogueteiro.

É um tremendo marqueteiro

Vive de bom resultado

Para ele o certo é errado

Da justiça esquecendo

Um novo rico, vivendo,

Morre sem ser condenado?

Todo dia almoça fora

Somente para esnobar

Carro novo vai buscar

Aonde a riqueza mora

Sua imodéstia vigora

Em tudo que tem falado

Vantagem tem destacado

Explora a quem está vendo

Um novo rico, vivendo,

Morre sem ser condenado?