PH METRIA - O exame do terror

A médica mandou fazer

uma PH metria

mas nunca pude imaginar

como tal coisa seria

e fiquei bem assustado

com o aparato que via

Primeiro me disseram

para chegar em jejum

oito horas sem comer

nada de jeito nenhum

e logo ao amanhecer

acordar que nem anum

Quando ao local cheguei

já meio escabreado

uma fome de lascar

sedento, chateado,

sentei ali num canto

esperando ser chamado

Muito tempo se passou

e eu ali aguardando

parecia que a vida

por mim ia passando

eu queria terminar

e nem estava começando

Foi preciso reclamar

às duas atendentes

a demora era demais

que é isso minha gente?

Como pode alguém tratar

tão mal os seus doentes?

Como eu pude prever

Isso deu resultado

vi que seria assim

pois logo fui chamado

então, poucos minutos,

vi o médico a meu lado

O médico e a enfermeira

já estavam esperando

prá fazer o tal exame

os dois se ajeitando

ela cobrindo a cara

ele o nariz pingando

Fiquei meio cabreiro

com o tamanho da sonda

parecendo chibata

comigo tirando onda

ou um guarda noturno

fazendo sua ronda

Tossindo e espirrando

o médico veio e explicou

tudo daria certo

eu não sentiria dor

o exame é coisa simples

bem prático e indolor

E lá vem ele com a sonda

enfiou no meu nariz

a mulher me dava água

que tinha gosto de giz

eu quase engasgava

bebendo do chafariz

A tripa de silicone

pelo esôfago foi

adentrou o estômago

como matando um boi

minha língua travada

eu não falava nem oi

Veio uma dor no peito

a garganta entupiu

deu vontade de gritar

Vão prá puta que pariu!

mas a voz não me saía

'té minha fome sumiu

Tudo isso ocorreu

eu ainda sentado

mas como dois gaviões

puseram-me deitado

eu quase explodindo

sendo examinado

Isso não era nada

meia hora ali fiquei

ela me dando água

tanta mesmo que inchei

e muito mais ela dava

por pouco não afoguei

Quando tudo terminou

após muito sofrimento

pensei aliviado:

acabou o meu tormento

posso respirar fundo

e fiz logo o juramento

Nunca mais aqui venho

fazer phmetria

o exame doloroso

se soubesse não fazia

é melhor ficar doente

com refluxo e azia

Porém a chave de ouro

com o grande toque final

não havia fechado

o espetáculo teatral

faltava algo pior

só a última pá de cal

Outra sonda trouxeram

a um micro atrelada

com fios por todo lado

e me deram a punhalada

dizendo que o engenho

era a grande jogada

Esses dois carniceiros

me deram a informação

que por 24 horas

ao lado do coração

me poriam uma sonda

do nariz até o pulmão

Eu teria que ficar

com a sonda o dia inteiro

em uma das narinas

sem tempo de ser ronceiro

a rotina cumpriria

e não seria o primeiro

Fiquei arrepiado

que sina mais desleal

esse exame infeliz

é dose par'animal

mas que podia fazer

diante desse final?

Foi outro sacrifício

o silicone absorver

para que fosse entrando

mais água tive que beber

chegando no abdome

pensei que fosse morrer

Suando feito chaleira

sentindo dores atrozes

a coisa no meu esôfago

me fazia ouvir vozes

mas tudo que eu via

era só meus algozes

Quase um metro da coisa

ficou do lado de fora

no plug do computador

como criança que chora

no berço abandonada

não sabendo onde mora

Retirei minha camisa

pus o micro a tiracolo

grudando esparadrapo

amarrando no meu colo

a enfermeira maldita

terminou o protocolo

Eu parecia um ET

na Terra recém-chegado

e em sendo desse jeito

me vi apavorado

eu começava sentir

o tempo ficar parado

Nas vinte e quatro horas

que estavam por chegar

eu viveria o terror

que já ia começar

isso é outra estória

que só depois vou contar

.......

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 02/07/2009
Reeditado em 31/12/2009
Código do texto: T1679136
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