COMO SOBREVIVEMOS?
Quem nasceu durante os anos
Sessenta, setenta, oitenta,
Quando nas pias das igrejas,
Ainda havia água benta,
Quando não se fazia charque
Com a carne de jumenta.
Quando carros era feito
Sem cinto de segurança.
E quando tínhamos ainda
Na polícia esperança.
Todo mundo se conhecia
No bairro, na vizinhança.
Nem encosto de cabeça,
E nem air bag carro tinha.
Viajar não era perigoso,
Até se fazia chacrinha,
E a traseira de ônibus
Se chamava de cozinha.
Pintava camas de grandes
Com tinta bem duvidosa.
Dela não sabia origem,
Que podia ser venenosa.
Porta de carro sem trava
Não se achava perigosa.
Andava-se de bicicleta
Sem ter qualquer proteção,
Capacete, caneleira,
Joelheira, só de calção,
Quando se levava queda
ficava algum aranhão.
A água que todos bebiam
Vinha sempre da torneira
Ou até mesmo se bebia
Direto duma mangueira.
Água mineral não havia,
Nem se usava “lancheira”.
Ladeira abaixo se descia
Em carros de rolimã.
Todos nós estudávamos
Somente pela manhã.
Não havia supermercado
Pra se comprar uma maçã.
Quando se saí de casa
Ia para qualquer lugar.
Sem avisar a ninguém
Pois não havia celular.
Também nem era preciso
Pra casa telefonar.
Comia-se pão com manteiga
E também doce à vontade.
Tudo com muito açúcar
Não havia obesidade.
Nem sabia que os produtos
Perdiam a validade.
Refrigerante comprava
Na bodega da esquina.
E com os amigos se bebia
Na garrafa a turbaína.
Ninguém por isso morreu.
Não havia gripe suína.
Ainda não havia nitendo,
Nem mesmo videocassete,
Celular, playstates, chat
Computador e internet.
As disputas se resolvia
Na tapa, muro, bofete.
Sem ter ração pra cachorro
Que comia nossa comida.
Com creolina se tratava
Qualquer tipo de ferida.
Não havia essa de homem
Querer virar margarida.
Ia para casa de amigos
Onde entrava sem bater.
A qualquer hora do dia,
Até na hora do comer.
Não se vivia preocupado
Porque não havia TV.
Jogava bola na rua,
Com traves improvisadas.
Não ficava frustração
Pra pessoa não escalada.
O máximo que acontecia
A pessoa ficar zangada.
Havia bons e maus alunos,
estes quando reprovados,
não fazia qualquer terapia
só ficavam revoltados.
Naquele tempo não havia
Nada de superdotados.
Se desconhecia dislexia,
E hiperatividade.
Existia poucas favelas
Nenhuma comunidade.
Cada um desenvolvia
A sua personalidade.
Como nós sobrevivemos
Diante desses problemas?
Hoje não há liberdade
Somos presos por algemas.
Não comemos nem ovos.
Por ter medo até das gemas.
Autor: Dejan Trifunovic
Glosa: Henrique César Pinheiro
Junho/2009