VERSOS DOIDOS
Nas pontas do meu coração
um cordel eu pendurei
e escrever uma poesia
eu até bem que tentei
mas algumas das palavras
depois vi que misturei
O cordel improvisado
virou galope de burro
que se vendo acuado
deu um aloprado zurro
porém se o pego de jeito
lá na cara dou um murro
Já um tanto irritado
com tanta estripulia
meio bobo, atrapalhado,
chamei a querida maria
que olhou-me toda prosa
e respondeu que não viria
Ora bolas, atrevida!
Não me trate desse jeito
deixe de ser orgulhosa
dormimos no mesmo leito
me traga algumas rimas
senão conto seu defeito
Vê não esse meu amargor
prá fazer algo bonito
jogar tudo para cima
rezar um terço bendito
preparar doce de coco
matando cachorro a grito?
Estou tentando ajustar
nestes versos a inspiração
mas os termos vão fugindo
tirando a completa razão
pois rimo boi com butique
e rapadura com macarrão
Isso é coisa que se faça
com nossa literatura?
os cordéis são estudados
sem borrões ou sem ranhura
até lá no estrangeiro
como parte da cultura
Eles ficam admirados
com nossa capacidade
de criar versos bonitos
sobre amor ou vaidade
fazem teses na Sorbonne
e discutem na faculdade
Vou fazer relatos novos
de corno apaixonado
narrando a Segunda Guerra
com cara de malcriado
falando de cangaceiros
libertando condenado
Se numa mesma vasilha
eu juntar flores com vela
carrapatos com farinha
à guisa de mórbida tela
o importante é ser poesia
preparada na tijela
Eis aqui uns fragmentos
de versos sem qualidade
ou cordel desamarrado
de receita mal servida
espalhada na cidade
taí minha fragilidade