Cheiro Nordestino
O meu Nordeste tem o cheiro da caatinga
do Raso da Cilibrina, da poeira do xerém;
batata doce, farinha de mandioca,
feijão verde com paçoca,
tem o canto do vem vem;
O meu Nordese tem cipó de marmeleiro,
mandacaru e facheiro, xiquexique e juá;
O meu Nordeste tem sodoro e tem jurema,
tem o gemido da ema no tronco do juremá;
O meu Nordese tem vela tem lamparina,
tem o cheiro de menina na rede de balançar;
Tem o vaqueiro, tem cambito e cambiteiro,
valoroso estradeiro na hora de viajar;
O meu nordeste tem cheiro de carne assada,
tem munguzá, tem buchada, tem pirão no arguidá;
Tem arroz doce, rapadura e cocada,
caldo de cana e coalhada, tem cuscús, tem vatapá;
No meu Nordeste bom cabrito é o que não berra,
num forró de pé de serra faz poeira levantar;
Pega a morena e sai fungando em seu cangote,
pulando feito caçote até o dia clarear;
O meu nordeste tem coco de embolada,
calvalgada e marujada, belas noites de luar;
O meu Nordeste tem batismo na fogueira,
tem escola sem carteira, tem gente sem estudar;
O meu Nordeste tem forró, tem vaquejada,
carne de bode torrada, tem mocó e tem preá;
Água barrenta esfriada na quartinha,
da cacimba de Bahia, aonde eu ia me banhar.
O meu Nordeste não tem chuva, tem a seca,
tem tamborete tem mesa, cadeira de balançar;
O meu Nordeste é o recanto brasileiro
de um povo hospitaleiro que gosta de trabalhar.