CORDEL DO COMPADRIO (OU A VELA DO BOLO)

Miguezim de Princesa

I

Venho, a pedido do povo,

Remexer na confusão.

Já estava até cansado

De tanta esculhambação,

Que nem para versejar

Eu tinha disposição.

II

Nesses dias de silêncio

Eu vi tanto compadrio,

Ajeitamentos funestos,

Atos secretos sombrios,

Lágrimas de crocodilos

Que davam pra encher rios.

III

As coisas neste Brasil

Caminham na contramão:

O poderoso que rouba,

Desvia mais de 1 bilhão,

Se tiver compadre forte

Rouba, mas não é ladrão.

IV

Perde o emprego num dia,

Mostra a cara de tormento,

Choraminga em CPI,

Diz que a vida é um lamento,

No dia seguinte sai rindo

Celebrando casamento.

V

Senador do bigodão,

Que não tem nada de tolo,

Morde e assopra todo dia

Tentando ajeitar o rolo,

Na hora H aparece

Sorrindo, cortando o bolo.

VI

O Estado brasileiro

Só funciona de verdade

Para quem tem gabarito

No bolso da amizade,

Mas massacra noite e dia

Quem vive na honestidade.

VII

A força da amizade

E do compadrio malsão

É que governa o destino

Da nossa amada Nação

E pode até decidir

A nossa próxima eleição.

VIII

Zé Dirceu, que parecia

Carta fora do baralho,

Por ser amigo de Lula

Tem tido muito trabalho:

Por todo canto que passa

Já vende voto a retalho.

IX

Disseram que na Bahia

Negociou a granel,

Mandou recado de Lula:

“Bye, bye, so long, very well,

Jaquivagui, largue o osso,

Deixe uma “carninha” pro Geddel!”

X

A grana da Petrobras

Já vaza pelo ladrão,

Queima nas brasas ardentes

Das fogueiras de São João:

Cada brasa que se apaga

Representa uma comissão.

XI

Eu conheço um cantador

Que fez show em Irecê,

Deu recibo em 13 mil,

Mas quando foi receber

Teve de deixar metade

No caixa do comitê.

XII

E lá vem Jackson Barreto

Elegante no retrato,

De combinação com Deda,

Todo cheio de espalhafato,

Com uma emenda na mão

Para um terceiro mandato.

XIII

Eu sonhei muito com Dilma

Bela e risonha governando,

Pra fazer PAC com ela

Já fui me candidatando,

Mas acordei com o barbudo,

Feio e buchudo, mandando.

XIV

Senador Boca de Bola

(Que eu não vou dizer o nome)

Diminuiu a barriga,

Reduziu o abdome,

Mas de nada adiantou,

Que é insaciável a fome.

XV

Pois a fome dos políticos

É coisa que não acaba,

Tem um comichão por dentro

Feito de ferida braba,

Que a tripa gaiteira aguenta

Mesmo que entupigaitada.

XVI

Do bolo do casamento

Da filha de Agacié,

Sobrou um toco de vela

Com fogo na chaminé

Espalhando seu braseiro

Para o povo brasileiro

Enfiar onde quiser!

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 16/06/2009
Código do texto: T1652373