PRA VIVER, AMAR E SENTIR
Pra viver, amar e sentir
Henrique Moura – 16/06/09.
“Meu amigo não gabe esse jumento
Que é um bicho muito atoa;
Nas estradas ele se deita
E nas portas ele se acoa;
Quando se açoita ele faz roda
Quando se espora o peido avoa.”
Os primeiros versos que me lembro
Foram esses dito agora
Foi de um livro bem antigo
Que ganhei em boa hora
Presente dos meus pais
Desejando a minha melhora
Era menino e acamado
Sem distração ou lazer
Ficava tempos bem deitado
Pensando no que fazer
Os versos deram alegria
Descobrira um bom prazer
Era um livro de 78
Dum tal José Cavalcanti
Minha mãe me reclamava
Que eu ainda era um infante
pra tá lendo dessas coisas
com um gosto estimulante
Meu pai achava graça
Pedia ao filho pra declamar
Cordel, prosas e piadas
Cauteloso pra mãe não alarmar
E eu achava maravilhoso
Me distraia esquecia o acamar
Mas depois a saúde voltou
E das estórias fui me afastando
Fui jogar bola, correr na rua
A olhos vistos melhorando
Os cordeis fui esquecendo
Da poesia me afastando
Agora, depois de velho
Da infância a recordar
Encontrei o livro antigo
Que adorei saborear
Sua leitura prazerosa
Fez a saudade azorragar
E lembrei também de coisas
Que já nem lembrava mais
De brincadeiras infantis
E de amores de rapaz
Daqueles não correspondidos
Que fazem sofrer demais
Das peladas pela rua
Na via sem calçamento
Dos amigos tão antigos
Já caídos no esquecimento
De brincar de se esconder
E me bateu um pensamento
A gente esquece tudo
Mais ligeiro que devia
Fica pensando num futuro
Que demora e não se avia
Esquecemos do presente
E vivemos sem alegria
Planejando tudo todo tempo
Como se dependesse da gente
O tempo que se passa por aqui
Pois seja triste ou sorridente
Nosso pai é que vai decidir
O tempo que temos de presente
Pra viver, amar e sentir.