CAUSO SERTANEJO
Um causo vou lhes contar
Que se passou no sertão
De três irmãs, três Marias
Na disputa por Zé João
Eram as três solteironas
Azedas que nem limão
Maria José a mais velha
Magra que nem uma vara
Andava vestida de preto
Igual filhote de gralha
Se achava a mais bela
Vivia pulando de galha
Maria do Céu a do meio
Sendo gorducha e mui branca
Achava-se a perfeitinha
Andava balançando a anca
Da dó dessa coitadinha
Parece mais u’a potranca
Maria da Luz a caçula
É alta, magra e morena
Fofoqueira linguaruda
Se diz ser moça serena
Vive de bico a sisuda
Adora fazer sua cena
O disputado Zé João
Filho de Maria da Lua
É baixo e narigudo
Calado vive na sua
Só escuta o som agudo
Do histerismo na rua
Chegou Maria de Deus
A amiga alcoviteira
Veio chegando de mansinho
Com fala mansa brejeira
Largo sorriso maroto
Andando toda faceira
O Zé João que num é tolo
Arregalou os oios vesgos
E viu Maria rebolando
Achou-se logo um deus grego
Danou-se a falar, coitado
É gago igual a Zé Nêgo
Maria da Guia a vizinha
Casada com Zé Bonito
É criadora de galinha
É sócia de Zé expedito
Passa todo tempo espiando
Para dar seu veredicto
A disputa continua
Cada Maria se exibindo
Cada qual mais tagarela
Parece abelha zumbindo
E Zé João ta só na espera
Parece um pato sorrindo
Eu vou encerrando esse causo
Que se passou no sertão
Das três irmãs solteironas
Azedas que nem limão
Esperta foi à vizinha
Ela fugiu com Zé João