CAUSO SERTANEJO

Um causo vou lhes contar

Que se passou no sertão

De três irmãs, três Marias

Na disputa por Zé João

Eram as três solteironas

Azedas que nem limão

Maria José a mais velha

Magra que nem uma vara

Andava vestida de preto

Igual filhote de gralha

Se achava a mais bela

Vivia pulando de galha

Maria do Céu a do meio

Sendo gorducha e mui branca

Achava-se a perfeitinha

Andava balançando a anca

Da dó dessa coitadinha

Parece mais u’a potranca

Maria da Luz a caçula

É alta, magra e morena

Fofoqueira linguaruda

Se diz ser moça serena

Vive de bico a sisuda

Adora fazer sua cena

O disputado Zé João

Filho de Maria da Lua

É baixo e narigudo

Calado vive na sua

Só escuta o som agudo

Do histerismo na rua

Chegou Maria de Deus

A amiga alcoviteira

Veio chegando de mansinho

Com fala mansa brejeira

Largo sorriso maroto

Andando toda faceira

O Zé João que num é tolo

Arregalou os oios vesgos

E viu Maria rebolando

Achou-se logo um deus grego

Danou-se a falar, coitado

É gago igual a Zé Nêgo

Maria da Guia a vizinha

Casada com Zé Bonito

É criadora de galinha

É sócia de Zé expedito

Passa todo tempo espiando

Para dar seu veredicto

A disputa continua

Cada Maria se exibindo

Cada qual mais tagarela

Parece abelha zumbindo

E Zé João ta só na espera

Parece um pato sorrindo

Eu vou encerrando esse causo

Que se passou no sertão

Das três irmãs solteironas

Azedas que nem limão

Esperta foi à vizinha

Ela fugiu com Zé João

Aglaure Martins
Enviado por Aglaure Martins em 03/06/2009
Código do texto: T1630765
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