A MULHER QUE DEIXOU O MARIDO POR UM VIRA-LATA

AUTORIAS DE EDIMOM MEDEIROS E ZÉ LACERDA

O calçadão em Campina

Tem uma grande atração

Que são os aposentados

A sucata da Nação

Que depois de tantos anos

Sofrem discriminação.

É de praxe a reunião

Desse povo experiente

Nas manhãs ensolaradas

Antes que o Sol fique quente

Se fala até de política,

De prefeito a presidente.

Quem não pega no batente

Gosta de participar

Eu, quando estou em Campina

Às vezes passo por lá

Mas sou de pouca conversa,

Prefiro mais escutar.

Sem querer ouví falar

De uma mulher sensata,

Informes com precisão

Uma estória exata,

Mulher deixou o marido

Por causa de um vira-lata.

Cidadezinha pacata

Era Perpétuo Socorro

Onde um pequeno cinema

Só tinha filme do Zorro,

Morava uma família

Nas encostas de um morro.

A dona do tal cachorro

Era mãe dessa mulher

Morreu deixando pra ela

Ou pra outro que o quiser

Mas, na vida há de tudo,

Nem sempre, o que se quer.

Essa suposta mulher

Filha da tal falecida

Gostava do cachorrinho

E ficou agradecida

Pela herança deixada

por sua mamãe querida.

Criou o cão decidida

O bichinho foi crescendo

Recebendo muito afeto

E sempre lhe devolvendo,

O noivo, desconfiado

Do que estava acontecendo.

Já ia até esquecendo

Desse que desconfiou

É que a moça estava noiva

Quando o cachorro arranjou,

Por causa do tal bichinho

Seu noivado desandou.

Crescido o bicho mostrou

Ser da sua proteção

Guarda costa de primeira

E muito bom no portão

E ela noiva de um cara,

Com aliança na mão.

Casou mas levou o cão

Pra viver em sua tutela

Ele ia para o trabalho

O cão ficava com ela

Mas ele sempre dizia:

«Eu tiro o cachorro dela.»

Vivendo entre ele e ela

O cão foi envelhecendo

E o bem dessa mulher

Ao bichinho foi crescendo

Até que um dia o marido

Terminou se aborrecendo.

Chamou a mulher dizendo:

«Ouça o que vou lhe dizer,

Você com este cachorro

Não dar para entender,

Vamos dar um fim ao cão.

O que podemos fazer?

Não adianta você

Querer meu plano obstar

Porque estou decidido

E nada me faz mudar,

Eu mato ou mata você,

Ou então mando matar.»

Essa mulher pegou ar

Com a proposta do marido

«Nunca pensei que você

Fosse ficar ofendido

Pois sente de frente a mim,

Quero fazer-te um pedido

Tu é bastante atrevido

Propondo isto prá mim

Esse cão é de família

E terá que ser assim

Agora fiquei sabendo

O quanto você é ruim.

Não vou matar nem dou fim

Também não vai dormir fora

Se não me quiser com ele

Pegue a roupa e vá embora

Que eu fico com meu cachorro

Até chegar sua hora.

Vá pra seus pais que te adora

E suas idéias acata

Eu fico com meu cãozinho

Não mato nem outro mata

Fique com sua família

Que eu fico com o vira-lata.

Sei que este fato é bravata

E não conversa granfina

Mulher se casa com homem

E não com raça canina,

Isso é somente lorota

Do calçadão de Campina.

Nesta vida severina

Tem gosto pra todo lado

Os velhos do calçadão

Sintam-se homenageados.

Quem escreveu isto aqui

Um tá perto de sair.

O outro tá aposentado.

Série Parceria, Volume III

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 02/06/2009
Código do texto: T1627622
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