“POETA QUE NÃO ERRA”

Comigo não tem foi-não-foi

É tudo branco no preto

Sou a ponta do espeto

Com que se marca o boi

Não há peneira que me coe

Eu sou angu de caroço

Se meter a mão no meu bolso

Perde um dedo ou dois.

Eu topo qualquer parada

Comigo não tem mistério

Durmo no cemitério

Sem temer alma penada

Eu sou bom em dá lapada

Sou patada de leão

Pego serpente com a mão

Mamo na onça pintada.

Eu sou o mais alto cume

Ponho algemas no vento

E no lugar que eu me assento

Outro jamais assume

Sou a lanterna do vagalume

Não arredo de “cabra” brabo

Nem que a porca torça o rabo

E nem que a cobra fume.

Eu sou coice de mula

Sou o voou do carcará

A todos quero avisar

Que comigo ninguém bula

Não gosto de quem bajula

De quem dedura um irmão

Se num desse ponho a mão

Duvido que ele escapula.

Meu nome é valentia

Destreza meu sobrenome

Meu vulgo é Tome-tome

No lombo da covardia

Da coragem eu sou cria

Sem medo eu me criei

Nas caretas que encontrei

Eu bolachava e cuspia.

Eu sou punhal, sou espada

Sou a pancada do martelo

Sou a lâmina do cutelo

Quando está bem afiada

No seu pescoço encostada

Pronta pra dá o golpe

E mandá-lo a galope

Daqui pra outra morada.

Eu sou picada de mutuca

Sou a unha do gavião

Sou o zumbido do zangão

Não meto a mão em cumbuca

Se você se acha “Seu Cuca”

Saiba “Seu Cuca” é eu

Quem a mim não se rendeu

Teve sete anos d’uruca.

Eu também pesco e caço

Sou fogo debaixo d’água

Eu caminho pela frágua

Arremato, corto, laço

Desamarroto e amasso

Teço, desfio e talho

Em nada me atrapalho

E o que eu disser, isto faço.

Comigo não tem vai-não-vai

É sempre sim-sim, não-não

Sou estouro de trovão

Sou corisco quando cai

Eu sou o imã que atrai

Tudo ao centro da terra

Mas poeta que não erra

Eu conheço a Mai.

Jurandir Silva
Enviado por Jurandir Silva em 24/05/2009
Reeditado em 11/06/2009
Código do texto: T1611460
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