As icunumia do sertão

Airam Ribeiro

Nois aqui na roça

Fazemo noça icunumia

Luiz inlétrica na paióça?

A lua é qui alumia.

Os vagalume pra cumpretá

Fica na casa a piscá

Inté no manhecê do dia.

Ceticida pra matá

Os musquito muriçóca

Cum as bosta de boi do currá

Nóis faiz as maçaroca.

Bota fogo sai fumaça

Intão elas sai sem graça

Sem picá dona Maróca.

As mandioca ta no xão

Quereno nóis vai tirá

Ela seuve mermo de pão

E da farinha pra daná.

E faiz provilho pra xuxu

Qui despois se faiz bejú

Pros briguélo se alimentá.

Condo a dô de barriga vem

É u’a dô de fazê dó

O papé igiênico qui tem

Pra limpá o fiofó,

É um monte de mato

Ou u’a toicêra de capim,

Aí nóis damos um trato

Qui o trem fica limpim.

Cêis vê aqui cumpaêro

Nóis fazemo icunumia

Nun perciza de diêro

Pras coiza do dia a dia.

E a noça tulevizão

São as istrelas na iscuridão

Qui lá no céu alumia.

Lenha seca aqui nóis tráis

Para se pudê cuzinhá

Aqui nun se uza o gáiz

É fugão de lenha naturá

Faiz café cum requejão

Freve leite um montão

Sem falá em armoço e jantá.

Nas jinela nun tem grade

E nem nas porta tem não

Aqui nóis temo a liberdade

Ninguém aqui tem patrão

Zecutivo aqui num tem mala

É um papagaio qui fala

Os dizeres do sertão.

Radiola qui num tem

Pra nunciuá a arvorada

No amanhecê mais de cem

Cantares das passarada

Seus zuvido fica a iscuitá

São as musgas naturá

Qui nóis tem sem custá nada.

Tem um buraco no xão

Para quando nóis fô cagá

Dece pela incanação

Para o rio nun sujá

Sei quéla num paguemo!

Mais nóis se preocupemo

Se um dia ele fartá.

Num percupemo cum as taxa

Pra mode num banco pagá

Incorqué grota se axa

Água limpinha naturá

É u’a nascente corredêra

Vem sem ligá tornêra

Nem sem abrí nem fexá.

Nem se perciza de vela

Para a água se firtrá

U’a água iguá aquela

Num izéste em nium lugá

Ela seuve pras cumida

Pois ela num vem poluída

Pois sujêra aqui num há.

Ninguém vai nas farmaça

Pois aqui num tem duente

O mastruiz cum a caxaça

Mata a verme do inucente

Os mato qui tem no xão

É bom pra qurqué congestão

E mióra logo já sente.

Antonci vivo filiz

Sem diêro eu ajuntá

Tenho a vida qui eu quis

Sem frevuêro percizá

Cum o pôco também se vévi

Aqui ladrão num atrévi

Pruquê nun tem o qui robá.

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 18/05/2009
Reeditado em 19/05/2009
Código do texto: T1601243