CRISE DO DIVINO - UM CAUSO NORDESTINO

De repente escureceu

As vinte pra o meio dia

E tudo ficou no breu

(No mundo nada luzia)

Pois o sol esmoreceu

Falhando sua bateria

E passada a garantia

Deus pediu um orçamento

Pra autorizada do “dia”

Que lhe cobrou pelo intento,

Numa grande revelia,

O seguinte pagamento:

De Júpiter um anel

E quatro corpos celestes

E das divisões do céu

Pediu metade do leste

E ainda descontento

Dez mil arrobas de vento

E a sombra do Everest;

Mas Deus disse: “Tá cá peste,

Tá cá gota, esse menino,

Desse jeito tu me quebras!

Tenha senso, tenha tino

Que cá crise mundial

S’eu gastar mais um real

Deixo até de ser divino!”

Prosseguida a peleja

No vão da negociação

Deus já tava desistindo;

Foi quando da escuridão

Veio uma voz Severina

Daquelas bem nordestinas

Propondo uma solução!

E num é que era Biuzin

Lá do alto do Cruzeiro

Que tava ouvindo a pendenga

E como um bom futriqueiro

Cutucador de buraco

Decidiu dar seu pitaco

Para o nosso criador

Disse: meu santo Senhor

Se o sol está quebrado

Se o breu tomou o mundo

E o dinheiro está contado

não se ponha aperreado

Pois eu tenho uma saída

Arranje um grande balaio

Que seja extenso em volume

Depois atole ali dentro

Pra mais de mil vaga-lume

E faça que ele se aprume

No eixo do vão solar

Para a terra alumiar

Até que o sol se arrume

E Deus disse: eita Biuzin

Que idéia genial

Uma solução tão simples

Pr’um problema mundial

Que na tua inteligência

Vai me livrar da falência

E me manter divinal

Já como agradecimento

Por tanta sagacidade

Beba da minha bondade

Não se acanhe e tenha fé

Diga-me o que você quer:

Ser rico, belo, famoso,

Poderoso? O que quiser!

Mas biuzin disse: Divino,

Como já sou nordestino

O resto é bicho de pé...

João Pessoa, 11/05/2009.