“ARIDEZ”

Não choro o leite derramado

Nem a morte de Inês

E se meu boi holandês

Está no brejo atolado

Não choro o sonho frustrado

O amargo da decepção

Nem se recebi um não

Daquele sim esperado.

Não choro se tenho sono

E não consigo dormir

E se alguém me trair

Com o mal do abandono

Não choro se o meu trono

É uma calçada na esquina

Não choro se minha sina

É minh’alma não ter dono.

Não choro se meu bom nome

Seja jogado na lama

E se na minha cama

A solidão me consome

Não choro se a injustiça come

Minha carne e não vede

Não choro se tenho sede

Tampouco se sinto fome.

Não choro a falta de paz

Nem a ausência de afeto

Não choro o matar do feto

Também não choro meus ais

Os espinhos dos rosais

Não têm meu choro vertido

Não choro se esquecido

Neste mundo dos mortais.

Não choro a viuvez

Nem a lágrima da despedida

E nem se for pedida

Minha cabeça a vocês

Eu só chorei uma vez

Há muito tempo atrás

Foi na morte dos meus pais

Minhas lágrimas foram três.

Em matéria de amor

Se não for correspondido

Não choro nem escondido

Pra aliviar minha dor

Não choro o murchar da flor

O momento não vivido

Não choro se fui vencido

Nem eu ri se vencedor.

Jurandir Silva
Enviado por Jurandir Silva em 07/05/2009
Reeditado em 11/09/2009
Código do texto: T1581801
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