CORDEL DA ANARQUIA
Miguezim de Princesa
Luanda, 15/09/2006.
À musa da inspiração
Que embala esta poesia
Vou pedir inteligência,
Saber e sabedoria,
Para escrever um cordel
Sobre o tema da Anarquia.
Muitos pensam que Anarquia
É um tipo de Carnaval,
Com gente pulando axé,
Bebendo e passando mal,
Jogando pedra na lua,
Esculhambando o jogral.
Movimento ideológico,
Político e social
De supressão do governo,
Do Estado e o capital,
Contra toda hierarquia,
Por uma ordem horizontal.
Eu vou lhe contar por que
Difere do comunismo:
Comunismo usa o Estado,
Implanta o socialismo,
Tem governo, tem exército,
Tem até partidarismo.
Tem a força da Polícia,
Juiz, desembargador,
Tem tenente e capitão,
Delegado e promotor
E um peão cheio de graxa
De tanto limpar motor.
Na marcha do anarquismo
Todos seriam iguais:
O peão sujo de graxa,
Graduados generais
Todos teriam seus tempos
Iguais nos telejornais.
Quanto aos objetivos
Digo: é um só ideal:
O fim da propriedade,
Distribuição igual,
A extinção do Estado
E da opressão mortal.
Os anarquistas chegaram
Nesta terra brasileira
No fim do século atrasado
(Vinham sem eira nem beira),
Uma leva italiana
Pra lavoura cafeeira.
Substituíram os negros
Que Isabel libertou
E botou no olho da rua,
Sem comida e sem labor,
Sem esperança e justiça,
Sem carinho e sem amor.
Chegaram os escravos brancos
Com nome de operários.
Embora passando fome,
Tinham ao menos salário
E não iam ao Pelourinho
Dos cristos-negros, calvário.
Maioria italiana
Com idéias anarquistas,
Começou um movimento,
Depois fundou uma revista,
Daí pra greve geral
Foi só um piscar de vista.
Os primeiros sindicatos
Foram eles que fundaram.
No ano de 16,
Congresso realizaram.
Depois da primeira marcha,
Nunca mais eles pararam.
E quando cordões inteiros
Passarem na sua frente
De operários cantando
E lutando bravamente,
Não esqueça os anarquistas
Que plantaram esta semente.