“EU, QUEM?”
Como se ter alegria
Se tristeza não tem censura
Como se ter ternura
Se o amor não é o guia
A minha alma é fria
Sem rota é sem destino
Minha cabeça sem tino
Eu, uma matéria vazia.
Eu não peço favor
Também não faço caridade
Eu nunca vi a saudade
Se tem cheiro, se tem cor
Dos componentes da flor
Conheço só o espinho
Sou escasso de carinho
E sou falto de amor.
Se a violência é a mola
Na porta pra que ferrolho
Na cara pra que dois “olho”
Se a boca é quem controla
Egoísmo não dá esmola
Soberba manda recado
Um sujeito azarado
Até no seco se atola.
Se pra servir eu não vivo
Não sirvo para viver
Ou quem sabe pra morrer
É coisa que eu não sirvo
Eu não sou um bom motivo
Para alguém chamar de seu
Minha honra se perdeu
E o meu caráter é nocivo.
Pra que o peixe no rio
Se eu não ensino a pescar
Não sou capaz de aquentar
Um semelhante com frio
No meu coração vazio
Cabe somente meu ego
Surdo, mudo e cego
Coxo e também sem brio.
Lenitivo eu não sou
Nem água pra se beber
O bem pra se fazer
Pronto eu nunca estou
Quem de mim se aproximou
Sentiu um medo medonho
E eu só sonho o sonho
Que de alguém sobejou.
Minha mãe não sei quem foi
Meu pai não conheci
Neste mundo eu vivi
Feito sapo no pé do boi
Que a peneira não me coe
No peneirar da salvação
Se eu não dou perdão
Haverá quem me perdoe?
Que graça tem meu sorriso
Se a lágrima é falsa
Minha estrada descalça
O meu chegar impreciso
E no dia do juízo
Qual será a minha herança
Como o “outro”, Deus me lança
Pra fora do paraíso?
Não sei pra onde vou
De onde vim não sei
Aqui aonde cheguei
Não sei o lugar que estou
Não sei quem me mandou
Ou se alguém me chama
Só sei que nesta trama
Inda não sei quem sou!