“O PEDIDO”

O professor me pediu

Para fazer um repente

Tirando versos da mente

Vou perguntar se ele viu

Um Severino sem ser Biu

A zebra não ser listrada

O coco não dá cocada

Um “bebo” que não caiu?

Me responda bem sereno

Quem uma meretriz não conheceu

E sua vista já percebeu

Um pé de cajá pequeno

Burro não gostar de feno

Sopa da cabeça do bacalhau

Um ente não passar mal

Depois de beber veneno?

Me responda com sinceridade

Você já viu uma sereia

Da praia os grãos de areia

Diga qual a quantidade

Político falar a verdade

Me diga se for capaz

Há santo que nada faz

E amor sem ter saudade?

Andorinha só, faz verão

Comigo você concorda

Sabe se alguma vez roda

Sem a ponteira o pião

Viu não deixar vergão

A picada da mutuca

Macaco velho em cumbuca

Viu ele meter a mão?

Me responda qualquer um

Viu terra boa sem chover

A traição não doer

Pirata sem gostar de rum

Quem gosta de cheirar pum

Viu carrasco que tenha dó

Em pingo d’água alguém dá nó

Fole furado não fazer fum?

Agora o que eu pergunto

A muito quero saber

Você já viu um E.T.

Ou ressuscitar um defunto

Com a poesia é que unto

As minhas cordas vocais

Viu no mundo dos mortais

Fofoqueira sem assunto?

Me diga com rapidez

O que é mais difícil aguentar

O seu amor lhe deixar

Ou o choro da viuvez

Também vale pra vocês

Dá a resposta pra eu

Por amor quem não sofreu

Pelo menos uma vez?

Viu de amor sem conquista

Alguém sentir ciúme

Ou não gostar de perfume

O profissional perfumista

E aquele vigarista

Dá um golpe no sabido

Deve ferir quem foi ferido

Qual é seu ponto de vista?

Sabe o que eu queria

Claro se você pudesse

Era que me dissesse

O que dá mais alegria

Cavalo bom de montaria

O gol dito de placa

Ou a morte da jararaca

Que à sua mulher deu cria?

Será que você conhece

Os caminhos da ventania

Os segredos do fim do dia

Assim que ele amanhece

A teia que a aranha tece

Você é capaz de fazer

Viu a mãe não se entristecer

Depois que o filho falece?

Aquele grito no nada

Já viu alguém ouvir

Quem é capaz de sorrir

Se não tem graça a piada

Poderá ser igualada

A satisfação que a flor tem

Quando o colibri lhe vem

E por ele é beijada?

Me diga quem gruda mais

Chiclete ou carrapicho

O carrapato que dá no bicho

Ou aquela cola tenaz

Pode ser aquele rapaz

Com a cara de babaca

Parece visgo de jaca

Não deixa a moça em paz?

A pergunta que agora faço

Não é para a ninguém constranger

Apenas eu quero ver

Onde encontro um cabaço

Um homem sem ser devasso

Uma mulher que seja santa

A coca cola quando é fanta

Leva kuat no espinhaço?

Eu quero que você me diga

Se sua inteligência alcançar

Viu cabueta não apontar

Um valente fugir da briga

E o pai da rapariga

A qualquer um lhe ceder

E me diga se você

Viu amiga trair amiga?

Você já viu um lobo

De cordeiro disfarçado

Aquele homem safado

Com sua cara de bobo

Pai que não dá cobro

A filha que tem em casa

No dia em que ela casa

Trai o marido com o sogro?

Já viu um covarde na luta

Um preguiçoso com pão

Um chute no cunhão

Incomodar a quem chuta

Um maestro sem batuta

E o anel sem o dedo

Três pra guardar segredo

E galho seco dá fruta?

Viu o bem perder para o mal

A inveja sobressaída

Quem não ama nesta vida

Sonhar um sonho real

Se nasceu torto o pau

Já viu ele se endireitar

Quem tem tudo mendigar

E quem nada tem ser o tal?

Já viu uma estrela cadente

Em noite de céu nublado

Uma alma sem pecado

E um pecador inocente

O boi com o carro na frente

O blefe tendo a jogada

Uma viola mal casada

Com um cantador de repente?

A resposta que meu repente quer

A sua consciência tem

Quem é que só faz o bem

E apenas vive da fé

O Homem de Nazaré

Nos ensinou com alto custo

Quem vive assim é o justo

E justo, diga quem é?

Jurandir Silva
Enviado por Jurandir Silva em 25/04/2009
Reeditado em 15/03/2024
Código do texto: T1559411
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