NAS ASAS DO CONGRESSO

Miguezim de Princesa

I

Eu já estava acostumado

A falar de senadores,

Com suas diretorias,

Mordomias e favores,

Mas meu verso está flagrando

Uma nuvem se formando:

Deputados-voadores.

II

Seja da direita lerda

Ou da esquerda “exemplar”,

Das classes mais abastadas

Ou da ala popular,

Não resiste ao comichão

De entrar num avião

E pelo mundo voar.

III

Leva pai e leva mãe,

A sogra, o sogro e a consorte,

Cunhado pega carona,

A prima também tem sorte,

Quem não tem sorte sou eu

De levar a Galisteu

pro Rio Grande do Norte.

IV

O deputado trabalha

leve, fagueiro e feliz.

Depois de arrancar toco

Puxado pela raiz,

Merece um descanso à toa

Numa praia muito boa

Ou num hotel em Paris.

V

O Congresso é sacerdócio

(Pense num trabalho duro!):

Três dias de aflição,

Em jogo o nosso futuro,

Mas deixa isso pra lá

Que Temer quer descansar

Três dias em Porto Seguro.

VI

Quando pega o microfone,

É o cão chupando manga.

Na agência de viagem,

O deputado da tanga

Fala brother, friend, vixe!

E vai a Miami Beach

Se encher de bugiganga.

VII

A moeda vai ganhar

Nova designação:

Real vai se chamar Milha,

Combinando com milhão,

E a milha pode comprar

Feijão, carne de jabá,

Gasolina de avião.

VIII

A Milha paga pensão

Se a viúva chorar,

Aluga jatinhos caros

Pra campanhas no Ceará

E já tem até doleiro

Que quer trocar de dinheiro

E seu negócio melhorar.

IX

A Milha é mais poderosa.

Cheia de força e vigor,

Já embalou muitas noites

De orgia e de amor

Dos senhores deputados

E nem mesmo o delegado

Da Dona Milha escapou.

X

E pra resolver de fato

A cruel situação,

Proponho aqui que se mude

A nossa legislação:

Saia o poder de lugar

Pra ser suspenso no ar

Nas asas de um avião.

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 23/04/2009
Código do texto: T1554807