O CORPO QUE A TERRA NÃO QUIS

Eu já ouvi esta estória

De norte a sul do Brasil,

Em meia dúzia de Estados

Muita gente já o viu,

Houve quem visse uma vez

E a visagem repetiu.

Se você viu, se não viu,

A isso não dou valia,

Se a estória é verdadeira

Ou apenas fantasia,

Eu tomei conhecimento

Vou transformá-la em poesia.

Conta-se que certo dia

Um sujeito muito mal,

Arruaceiro, arrogante,

Tremendo cara de pau,

Fazer mau aos semelhantes

Prá ele era essenci

Desonesto, desleal,

Quem pudesse maltratava,

Batia na própria mãe

Todo mundo o odiava

Não falava com ninguém,

Apenas em si pensava.

A mãe que não o suportava

No mundo se escafedeu

E ele ficou sozinho

Tão mau que quando morreu

Logicamente não foi

No céu aceito por Deus.

No inferno também os seus

Parceiros não aceitaram

Pois os piores demônios

Vendo ele se assustaram

Jogaram-lhe fogo em cima

E seu espírito queimaram.

E na vida, os que ficaram

Livres desse malfeitor

Fizeram o sepultamento

Dando glórias e louvor,

Porém o corpo maldito

A terra não aceitou.

Sua matéria secou

Ficou o couro e a ossada

A terra o repeliu

De junto da defuntada

Ficou aquela marmota

Assombrando nas estradas.

Meia noite à madrugada

No Estado do Paraná

É comum se ouvir gritos

Horríveis cortando o ar

Deixando o povo com medo

Do corpo-seco encontrar.

Nas ruas ou noutro lugar

Se ver gente apavorada

Temerosa de encontrar

Essa coisa indesejada,

Por isso ninguém mais sai

De casa na madrugada.

Nas horas da alvorada

Lá no Norte do Brasil

Quem ama a vida noturna,

Não trabalha ou é vadio,

É difícil ter um desses

Que ainda não o viu.

Minas Gerais já assistiu

Esse corpo aparecer

Sempre nas horas abertas

Quando não está a chover,

Seis horas e meia noite

É muito fácil se ver.

Ele vem aparecer

Sempre nas encruzilhadas

Ou nas matas ciliares

Que ladeiam as estradas,

Só a pele sobre ossos

E a cabeleira assanhada.

Em áreas desabitadas

O som mais fácil se espalha,

Se ouve ao longe o ruído

Do arrastar de uma palha,

Quem passar nesses setores

Dá de cara com o canalha.

Sua aparição não falha

Prá quem faz coisas erradas,

Se você não for correto

Cuidado com as trapalhadas,

Que o Corpo-Seco te espera

Na primeira encruzilhada.

Não há nota registrada

Que ele atacou ninguém

Mas seu aspecto horroroso

Não deve fazer o bem,

Quem for mau em vida pode

Ter essa sina também

Já foi visto por alguém

Lá em Santa Catarina

No interior do Estado

Pertinho de Xavantina

E próximo a Florianópolis

Na cidade de Angelina.

Os paulistas de Andradina

Viveram dias assombrados

Com gritos horripilantes

Desse corpo rejeitado,

Também aqui no Nordeste

Foi visto em muitos Estados.

Os locais mais visitados

Pelo sobrenatural

São casas abandonadas,

Todas na zona rural

Pelos donos que migraram

Pras bandas da Capital.

Pratica um tremendo mal

Quem abandona o Sertão

Cortando todas as árvores

Deixando mais seco o chão

E vem morar nas cidades

A procura de ilusão.

É mais uma assombração

Que tem a mente cansada

Na rua vira avarento

E fica sem fazer nada.

Com o decorrer dos anos

Vira uma alma penada,

Um Corpo-Seco demente

Que sai assombrando a gente

Meia-noite à madrugada

SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 1

Volume I)

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 16/04/2009
Reeditado em 19/11/2022
Código do texto: T1542530
Classificação de conteúdo: seguro
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