A EDUCAÇÃO DO JOVEM EM PLATÃO
(Trabalho Universitário cordelizado)
INTRODUÇÃO
Peço a Deus que me oriente
e que pegue em minha mão
para que eu possa fazer,
com amor no coração,
um trabalho responsável
na República de Platão.
Dando uma lida geral,
o meu olhar chega brilha
analisando os Diálogos.
- Oh, meu Deus, que maravilha!
E aí passo a escrever
o que na mente fervilha.
Escolho um tema ao qual possa
discorrer mais facilmente
pois uma cabeça velha,
esclerosada, doente,
já não pode se arvorar
a pensar fluentemente.
E o tema trabalhado
será a educação
que deverá ter o jovem,
segundo o sábio Platão,
para que ele venha a ser
um completo cidadão.
COMO DEVEM SER EDUCADAS
AS CRIANÇAS DA REPÚBLICA
No Livro Dois da República
tem início a discussão
em diálogos, que aponta
qual seria a educação
que uma criança teria
para tornar-se, um dia,
um perfeito guardião.
Nossas crianças queridas
não devem ser enganadas
por mentiras descabidas
pelos poetas criadas
pois, verdinhas como estão,
elas absorverão
as criações malfadadas.
E devem ser educadas
crendo num Deus de Bondade
que não engana seus filhos
pois é, em Si, a Verdade,
a Justiça, a Bonança,
o Amor, a Paz, a Constância,
onde não há veleidade.
E sendo um deus de bondade
não pode ser causador
de tudo, mas só do Bem
já que em Deus só há amor.
O mal, de outra fonte vem.
Uma outra causa tem.
Não foi Deus quem a gerou.
E que elas creiam na justiça
onde o mal será, enfim,
sempre pelo bem vencido.
E que tenha como fim,
sempre, a verdade falar
e nela se apoiar,
pois a mentira é ruim.
COMO SERÁ O GUARDIÃO DA REPÚBLICA
O guerreiro da República
de Platão, o guardião,
Por ser bom, naturalmente,
Será filósofo, então,
colérico, ágil e forte,
pois praticará esporte
tendo, assim, um corpo são.
O corpo será formado
pela ginástica constante,
e a alma pelas músicas
e as fábulas. Não obstante,
as fábulas terão que ser
de forma a fazer crescer
o amor ao semelhante.
A FUNÇÃO DAS MÃES E DAS AMAS
As mães e as amas têm
que muito bem trabalhar
as almas dos seus pequenos
pois lhes cabe educar
as crianças para o bem
com fábulas onde ninguém
que faça mal vencerá.
DEUS, CRIADOR TÃO SOMENTE
DO BEM, É IMUTÁVEL E É LEAL
Como já foi dito, é lei
na República de Platão,
Qualquer que seja o discurso:
público, ou composição
poética, não se dirá
que só a Deus caberá
o mal e o bem então.
Tão só o bem cabe a Deus
pois ele é bondade pura.
Não é um deus enganador.
Não engana as criaturas.
Imutável, Bom e Belo.
O mais puro. O mais singelo.
E à mentira esconjura.
Sendo assim, Deus abomina
a mentira, seja qual for.
Porém em algumas fábulas,
onde ela faz louvor
ao bem, ao belo, ao bom,
a coisa muda de tom
pois representa o amor:
O amor que eleva a alma;
o amor que faz crescer;
o amor que faz o homem
sua pátria defender.
O amor que levará
o guardião a saber,
com calma, a hora certa
para lutar e vencer.
OS GUARDIÃES HONRARÃO OS DEUSES
E SEUS PAIS, VALORIZARÃO A AMIZADE
E ACONCÓRDIA, NÃO TEMERÃO A MORTE
Os guardiães da cidade
da República, deverão,
desde a mais tenra idade,
ter na sua educação:
aos deuses e aos seus pais
têm que honrar por demais
como bons filhos que são.
E devem valorizar,
tendo o apreço devido,
a amizade e a concórdia.
E isso tudo faz sentido!
Pois não há coisa mais bela
que a vivência sem querelas
de um povo sempre unido.
Mas, se são homens corajosos
que se deseja formar,
homens que não temam a morte
ao com ela se deparar,
deverão ser educados
pra não serem derrotados
quando o inimigo enfrentar.
E também que sejam homens
que não abriguem o temor
da existência do inferno
com seu fogo abrasador,
fazendo-se que tais lendas
ou fábulas, eles as entenda
como histórias sem valor.
Já que essas narrativas
são falsas, não verdadeiras,
e inspiram a desconfiança
da nobre classe guerreira.
E Homero que me perdoe!
Diz Sócrates. boa parte foi
do que ele disse, asneira.
Não é que a poesia
na sua escrita faleça
nem que os nossos ouvidos
de ouvi-las não agradeça,
mas, é que, no seu teor,
da morte transmite horror
e faz que o homem esmoreça.
E na República, os guerreiros,
como sábios que serão,
não devem considerar
que a morte de um irmão,
de outro sábio, de um amigo,
seja um mal; seja um castigo;
ou mereça lamentação.
Os lamentos e as queixas
só às mulheres vão caber.
E só às mulheres frágeis!
E aos afeminados, que,
sempre sensíveis demais,
não conseguirão jamais
a cidade defender.
OS DEUSES E HERÓIS DAS FÁBULAS
DEVERÃO SER EMOCIONALMENTE
EQUILIBRADOS, BELOS, BONS
E NUNCA MENTIREM
As histórias inventadas,
criadas – as ficções,
deverão ter seus heróis,
os deuses, com as emoções
muito bem equilibradas
e jamais descontroladas.
E serem belos e bons.
Pois que o jovem guerreiro
que está sendo preparado
pra defender a cidade,
terá que ser educado
de forma a não se exceder
no choro ou no riso, que
demonstra um íntimo agitado.
A Deus não cabe mentiras.
E estas só poderão
serem tidas como úteis
em alguma ocasião,
se usadas para curar
alguém ou para enganar
inimigos da Nação.
Portanto, só aos médicos
é que deve ser confiada
a mentira como remédio.
E aos demais será vedada.
A não ser que, como tal,
ao povo – ao social,
como um bem seja aplicada.
E quem quer que venha a mentir
diante de um magistrado,
este deverá puni-lo
por introduzir no Estado,
como num navio, o mal
que poderá, afinal,
deixá-lo, então, afundado.
TEMPERANÇA: FATOR PRIMORDIAL
NA EDUCAÇÃO DO JOVEM DA REPÚBLICA
A temperança, em Platão,
é fator primordial
na educação do jovem
que tem como principal
função guardar a cidade
dos ataques e da maldade
do inimigo mortal.
Terão, pois, que receber,
com toda a submissão,
as ordens dos governantes
e ter controle de emoção.
E, ainda, se conter
no comer e no beber,
de forma a estar sempre são.
DEUSES E REIS NÃO SÃO COMPRADOS
COM PRESENTES E NÃO PAGAM
O BEM COM O MAL
Jamais se deve incutir
na alma de um jovem que
ele ofereça presentes
para favor obter.
E nem que faça favores
ou elogie com louvores
pra presentes receber.
Também não se deve dar
a entender que um deus
tenha pago como o mal
um bem que lhe ofereceu
alguém que dele queria
algo que ele poderia
dar-lhe, mas ele não deu.
Um deus jamais pode ser
mostrado como o terror:
O que se vinga; o que mata;
um mau; um torturador.
Aquele que, por vingança,
rouba e mata uma criança
que ele mesmo gerou.
NA REPÚBLICA DE PLATÃO NÃO SERÁ
PERMITIDO QUE DEUSES E HERÓIS SEJAM
APRESENTADOS AOS JOVENS, ATRAVÉS DOS
POETAS,COMO CAPAZES DE ATOS
INFAMANTES E CRUÉIS
Na República de Platão
jamais será permitido
que um deus ou um herói
seja falado e tido,
por seus poderes, capaz
de maltratar os demais.
Isto não é concebido.
As falsas acusações
que os poetas faziam
aos deuses e seus filhos,
forçosamente, teriam,
de acordo com Platão,
de voltarem atrás e, então,
elogios lhes fariam.
Pois que, os discursos falsos,
que pecam contra a verdade
e contra a religião,
onde um deus faz maldades,
só iriam incentivar
aos jovens a praticar
atos de perversidade.
NO QUE SE REFERE AO HOMEM,
OS VALORES SÃO TROCADOS
Depois de deuses, heróis,
infernos, genialidades,
os poetas quando falam
do homem, em realidade,
os valores são trocados:
os maus são abençoados
e os bons sofrem de verdade.
Os maldosos são felizes;
os bondosos não tem dita.
A injustiça é proveitosa
se dissimulada fica.
A justiça é, para todos,
útil, porém um engodo.
Um mal para quem pratica.
E pensando no perigo
que isso pode acarretar
à educação dos jovens,
Sócrates, então, deixará
o assunto e, em seguida,
de matéria e forma, escolhida
pro discurso, falará.
DEPENDENDO DO ASSUNTO,
QUAL SERIA
A MELHOR FORMA DE TRATÁ-LO?
Dependendo da matéria
se examinará a forma
onde se escolherá,
seguindo, é certo, uma norma,
o assunto a ser tratado
e que aos jovens será levado.
E a discussão retorna.
Discute-se se a Comédia
e a Tragédia poderão
serem aceitas no Estado
da República de Platão,
e se os seus defensores
devem, ou não, ser “doutores”
na arte da imitação.
NÃO SE PODE A UM SÓ TEMPO
SER RAPSODO E ATOR
Para se fazer bem feita
qualquer que seja a ação,
o homem tem que, a ela,
dá total dedicação.
Quando se tenta imitar
mais de uma coisa, será,
no fim, uma negação.
Os guerreiros da cidade,
que são os seus guardiães,
não poderão dedicar-se
a diversas profissões,
só poderão dedicar-se
às coisas que vão ligar-se
ao seu labor, sem senões.
Só a defesa do Estado
é que vai lhe interessar.
E se, por acaso, houver
algo para imitar,
que seja algo que venha
torná-lo melhor, que tenha
algo que o possa elevar.
Não fazer nada que possa
um dia se envergonhar,
nem mesmo imitando alguém.
A não ser se precisar.
E de uma forma bem singela
e que não cause querela
com a pessoa que imitar.
Pois, na cidade sonhada,
o plano de educação
do guerreiro, que será
da República o guardião,
terá que seguir as regras
escrupulosas que negam,
em geral, a imitação.
Já falou-se dos discursos
e das fábulas que comporão
o plano de ensino que
prepara o guardião,
onde a música será
de importância sem par
no que tange a educação.
Agora chegou a vez
de falar da melodia,
que traz consigo – em seu bojo:
as palavras, a harmonia,
o número e, que tentará
sua influência mostrar
no tocante à sabedoria.
AS HARMONIAS QUE SERÃO, OU NÃO,
ACEITAS NA EDUCAÇÃO DO JOVEM
A lídia mista, a aguda,
e algumas que se assemelham
a elas, são lamentosas.
E tais harmonias espelham
a embriaguez, a moleza,
a preguiça, e, com certeza,
ouvi-las não se aconselham.
A jônica e a lídia, laxas,
que, dizem, são afeminadas,
e que são tocadas em festas,
essas serão descartadas,
pois, ao guerreiro – ao guardião
da República de Platão,
não vai ajudar em nada.
Restam a dórica e a frígia:
a primeira a representar
a coragem do guerreiro
sempre pronto pra lutar,
e a outra, representando
a sabedoria, quando
de sorte boa ou má.
São, pois, a dórica e a frígia
as harmonias que irão
ser reservadas e usadas
na República de Platão
para educar o guerreiro,
o futuro e verdadeiro
filósofo – o guardião.
E para a cidade, a lira
e o alaúde estarão,
como para o campo, o pífano,
que os pastores tocarão,
sem grande variedade
como deve, na verdade,
ser a educação do varão.
NO QUE DIZ RESPEITO AO RITMO
Tal qual se fez com a harmonia,
no ritmo se evitarão
o variar das cadências
e a multiplicação
destas, e se buscará
ritmos que irão expressar
um caráter bom e são.
Aí, fala-se da graça
ou a falta dela, então,
que, afinal, vai depender,
somente, da perfeição
ou imperfeição do ritmo:
Se este é perfeito, é bonito!
Se for imperfeito, não.
Mas, o número e a harmonia,
em sendo belos, serão
seguidores, com certeza,
da beleza da locução.
Assim como palavras feias
enredam em sua cadeia
ritmo e harmonia, então.
É que os ritmos foram feitos,
tanto quanto a harmonia,
para as palavras, e não estas
para aqueles se faria.
Mas, terão que acomodar-se
ao discurso. Encaixar-se.
Isto é mesmo primazia.
A BELEZA DAS PALAVRAS, A GRAÇA,
O RITMO E A HARMONIA,
SÃO MANIFESTAÇÕES DA BELEZA
DE UMA ALMA VERDADEIRAMENTE SÁBIA
A beleza das palavras
com uma bela dicção,
a harmonia e a graça,
manifestações serão
da bondade da própria alma
que, mansa, bondosa e calma,
dirige, do homem, a ação.
E todas as qualidades
acima mencionadas
deverão ser, pelo jovem
guerreiro, sempre buscadas
para que possa, assim,
bem realizar, enfim,
a tarefa a si confiada.
Assim, também com a pintura
o mesmo acontecerá;
com as belas-artes, com a arte
de tecer, com a de bordar;
com a arte da mecânica;
com a produção das plantas;
com a arte de edificar.
A graça ou a deformidade
que numa obra aparece
valoriza ou diminui,
enriquece ou empobrece;
mostra saber e bondade
ou desprazer e maldade.
Enaltece ou desmerece.
DEVEMOS SER VIGILANTES
NOQUE SE REFERE A EDUCAÇÃO
DOS NOSSOS JOVENS
Não basta que se vigie
os poetas, que deverão
escrever só coisas boas
para uma boa educação,
porém buscar evitar
maus artistas espalhar
trabalhos de imitação.
De imitação viciosa
que nada de bom trará,
nutrindo as almas sensíveis
com vícios que irão provocar
o desvio da beleza,
da bondade, da nobreza,
e do Bem a afastará.
Deve-se buscar artistas
de mérito, que têm por Dom
seguir os traços do belo
e nobre, e do bom som,
para que os jovens, assim,
fiquem longe do que é ruim
e gostem sempre do que é bom.
E decerto que a música
é a parte fundamental
da educação, pois se sabe
que a cadência, é real,
e a harmonia se insinuam
na alma e, nela, atuam,
dando-lhe a graça ideal.
Mesmo porque, quando ao jovem
se educa de forma certa
na música, isso faz que ele
tenha sempre a mente alerta:
percebendo com agudeza
o que há na Natureza
e na arte de incorreta.
Sente aversão pelo feio,
imperfeito e vicioso.
Ao contrário, o que é belo
sua alma enche de gozo.
E, em transe, se estasia:
repleto de alegria,
honrado e virtuoso.
Tudo isso desde cedo.
Desde a mais tenra idade.
Antes que a razão ilumine
sua mente, na verdade,
a qual apenas chegada
será por ele abraçada,
pois tem com a música amizade.
O mesmo ocorre com as letras
que, para sermos letrados,
teremos que conhece-las
de frente, atrás e dos lados,
o que quer que elas formem:
frases curtas ou enormes,
termos, todas, dominado.
Porque se não conhecemos
as letras, como saber
quando virmos sua imagem,
o que elas querem dizer?
Pois tudo é objeto
de estudo, e isto é certo,
da arte de aprender.
E se não formos capazes
de conhecer cada um
dos vícios e das virtudes
e não distingüir nenhum
como coisa boa ou má,
como aos jovens formar?
Não teremos guerreiro algum.
UM HOMEM DE ALMA E CORPO
QUE COEXISTEM EM PERFEITA HARMONIA,
É UM ESPETÁCULO DE RARA BELEZA
Um homem igualmente belo
de corpo e alma, seria
o mais belo espetáculo
que alguém contemplaria:
Um homem com qualidades
coexistindo, em verdade,
em perfeita harmonia.
E o músico amará,
de todo o seu coração,
os homens que se encaixe
nesta harmônica perfeição:
com um amor racional,
de beleza pura e leal,
sem o fogo da paixão.
Assim, na República, a lei
expressará que o amor
do amante para o amado,
seja esse amado quem for,
não poderá se exceder
com mostrações de prazer
que tem como troco a dor.
A lei terá que expressar
que as mostras de ternura
terão que ter em seu bojo
uma natureza pura
como de um pai para um filho,
sem se desviar dos trilhos
de lealdade e candura.
E o guerreiro não deve
jamais deixar que alguém veja,
em seus gestos, que é um homem
que, com grande ardor, deseja,
se não quiser ser passado
por um homem mal educado
que não sabe o que é beleza.
E a música deve ser,
para um homem que tem amor
ao que é belo – ao perfeito,
como algo que Deus deixou
para elevar-lhe a alma.
Pois a boa música acalma
e ajuda esquecer a dor.
Depois da música, a ginástica
é fator essencial
para a educação do jovem,
que terá que, afinal,
ter um corpo preparado,
muito bem exercitado
de uma forma geral.
E começará logo cedo,
na infância, e, toda a vida
terá que está sempre em forma,
como lhe é requerida.
E a alma, preparada,
é quem, dele, tem a guarda.
E o faz da forma devida.
Aos guerreiros, proibido
será a embriaguez.
Pois um defensor do Estado
não deve andar, isso é lei,
por aí embriagado,
tonto, tombando, abobado,
ou coisa deste jaez.
Seria mesmo ridículo
vê-se um guarda precisar
de alguém que o guardasse
por embriagado estar.
Isso é o pensar de Platão.
Pois a nossa educação
deixa muito a desejar.
E no que tange à dieta,
ou seja, a nutrição?
Terão uma dieta leve,
simples, a alimentação
que os conserva em alerta,
sem sono, com a mente esperta.
E sem que tenha indigestão.
Assim como a música traz
à alma tranqüilidade,
e a ginástica modela o corpo,
o alimento, é verdade,
em perfeita combinação
com os dois, traz o corpo são
e cheio de elasticidade.
E os guerreiros da República
têm que se alimentar
sempre da forma mais simples
e saudável, pois têm que estar
sempre mui bem preparados
além de bem acordados
quando deles se precisar.
E uma saúde perfeita
só poderá conseguir
quem uma dieta correta
se dispõe mesmo a seguir:
se alimentando bem,
comendo o que convém
a um corpo são em si.
A NECESSIDADE CONSTANTE
DE MÉDICOS E JUÍZES NUM ESTADO
É SINAL DE EDUCAÇÃO PEVERTIDA E MÁ
Se um estado necessita
sempre, no seu dia a dia,
de médicos e de juízes,
isso, claro, mostraria
a educação pervertida
e má, para Platão tida
como o que envergonharia.
E vergonha maior não há
que, depois de fazer mal
ao seu semelhante, um homem,
diante de um tribunal,
tente, no seu julgamento,
passar por um elemento
de bondade sem igual.
E, ainda, ocupando o tempo
de um médico que levou
parte da vida estudando,
com “doenças” que criou
por falta do que fazer,
obrigando o médico a ter
novos nomes para a dor.
A HABILIDADE DO MÉDICO DEPENDE
DAS EXPERIÊNCIAS VIVIDAS NO RAMO,
ENQUANTO QUE O JUIZ, PARA SER BOM,
DEPENDE TÃO SOMENTE
DA PUREZA DE SUA ALMA
Seria o mais hábil médico
aquele que estudou
desde cedo a sua arte,
os princípios que a gerou.
E que, sendo, também, doente,
o maior número de gente
enfermiça ele tratou.
Já que, segundo Platão,
não é pelo corpo que
os médicos curam os corpos,
os corpos deverão ser,
pela alma, pois, curados.
E se a alma é má, malfadados
eles estão a sofrer.
O juiz, pelo contrário,
para que seja o melhor,
não terá que conhecer,
em si ou em outrem, a pior
qualidade de delitos
para julgar, pelos vistos
em si mesmo, o infrator.
Tão somente é necessário
que sua alma seja pura,
isenta de todo o vício
desde jovem, e a candura
bondosa o ajudará
ao justo identificar
de forma justa e segura.
E ao injusto também,
um bom juiz que será.
Pois tendo a alma boa,
jamais se enganará,
ao contrário do “sagaz”
que se acha “muito capaz”,
sempre tentando enganar.
Assim sendo, na República,
de acordo com o que foi dito,
só teriam vez os médicos
e os juizes bonitos:
corpo são e alma formosa.
Se dessas qualidades goza,
são aceitos e benditos.
Porém se possuem corpos
sem boa organização,
que morram! sem merecer
de alguém qualquer atenção.
E os de alma ruim,
tratá-los como a Caim!
Pena de morte, então.
COMO FICA A EDUCAÇÃO DO JOVEM
FORMADO NOS PRINCÍPIOS
DA MÚSICA SIMPLES
A juventude formada
nos princípios que faz brotar
na alma a temperança,
é certo, conduzir-se-á
de forma que jamais venha
a precisar ou que tenha
algum crime para julgar.
E tais regras aplicadas
na ginástica, certamente,
fará que dispense os médicos
já que o corpo, doente
nunca fica, na verdade,
E, assim, necessidade
de médicos, só raramente.
E exercitando o corpo,
não esquecem o principal
que, antes de tudo, é
aumentar o valor moral:
não agindo como um atleta,
que no físico se aboleta.
Só quer ser forte. Isso é mal.
SERIA A GINÁSTICA
SÓ PARA CURAR O CORPO,
E A MÚSICA SÓ PARA FORMAR A ALMA?
Ao que parece, diz Sócrates,
na República de Platão,
as duas se complementam
quando entram em ação
na educação da almas
que, furiosas ou calmas,
necessitam um empurrão.
Para se formar um jovem
não deve-se ter somente
a música para educá-lo
pois ficará indolente:
um guerreiro sem ação,
frouxo, mole, um covardão
que se vence facilmente.
E se o mesmo já for manso
por natureza, então,
aí é que a coisa pega!
Pois as músicas lhe farão
cada vez mais desligado.
Alguns brandos e afeminados,
sem qualquer disposição.
E se ele for animoso,
ao vê-se debilitado
pela forma educativa,
tornar-se-á precipitado.
Era valente! Hoje, é vivo.
Aplacável, mas impulsivo
e muito mal humorado.
Mas, se ele se dedicar
à ginástica tão somente,
com gula se alimentar
e descuidar, completamente,
da música e da filosofia,
de corpo forte, atrofia,
por outro lado, a mente.
Agora, já inimigo
das letras e das musas, vai
empregar somente a força,
pois as palavras não saem
da sua boca com graça,
e, ignorantemente, passa
a ferir, sempre, os demais.
HÁ NA ALMA DUAS COISAS:
A CORAGEM E A SABEDORIA.
E FORA DELAS DUAS OUTRAS:
A MÚSICA E A GINÁSTICA.
(Sócrates)
E o homem que consegue
chegar à perfeita harmonia
da música e da ginástica
e aplica-as, com maestria,
na alma, é merecedor
de, de músico, com louvor,
ser por todos tido, um dia.
É possuidor da ciência
da harmonia em alto grau,
o que o leva a ser
possuidor, como tal,
de um caráter irreprochável:
É sábio, forte e afável.
O governante ideal.
Mas para que tudo possa
da melhor forma ocorrer
na cidade imaginária,
quem tem que obedecer
são os inexperientes
jovens, conseqüentemente,
verdes que são do saber.
Entre os velhos, os melhores,
por certo, são os que serão
escolhidos para o mando
e para a orientação
que, na certa, deverá
dar ao jovem que será
o futuro da nação.
A escolha terá que ser
minunciosa e acurada
pois a juventude não pode
ser tão somente largada
às mãos de alguém que não tem
amor à pátria e a ninguém,
não se interessa por nada.
Os escolhidos serão
aqueles que interessados
se mostrarem em fazer
o que houverem estimado
como o que é de mais proveito
ao bem público e, com efeito,
nunca agir contra o Estado.
Aqueles que não se vendem,
por qualquer preço que seja,
em detrimento do Estado,
pois, deste, o mal não deseja.
Todos estes pontos são
para que o Estado, em Platão,
em boas mãos sempre esteja.
Mas, para que se acredite
na total fidelidade
dos guardiões escolhidos
para guardar a cidade,
é preciso observá-los
toda a vida, pra julgá-los
se são fiéis de verdade.
Os guerreiros, ainda jovens,
deverão se defrontar
com cenas e objetos
que podem aterrorizar
e também podem seduzir.
E tudo isso, para si,
uma grande prova será.
E aquele que tudo enfrenta,
fiel ao que recebeu
da música, valorizando
as lições que aprendeu,
com uma alma afinada,
harmônica e ritmada,
o comando será seu.
A este caberá honras
no correr de sua vida.
E depois de sua morte,
em sua honra, erigida
magnífica sepultura
e muitas outras esculturas,
belas e bem construídas.
E todos os que não têm
um caráter tal e qual,
segundo Sócrates, serão
reprovados como tal.
Pois, para bem merecer
ao bem público defender
terá que ser ideal.
E, assim, terão, aqueles
que foram selecionados
como os melhores, o título
de defensores do Estado,
os legítimos, os primeiros.
Assim sendo, os verdadeiros,
a quem o poder é dado.
O poder de defender
dos inimigos, o Estado:
falsos amigos internos
ou os externos declarados.
Tirando àqueles a vontade;
E estes, terão, na verdade,
o poder de ofender logrado.
PLATÃO SE VALE DE UM MITO
COMO FORMA DE PERSUASÃO
Proferidas a propósito,
as mentiras poderão
serem de grande proveito.
Afirma Sócrates, então.
Porém, como convencer
aos magistrados de que
eu estou com a razão?
Ou aos cidadãos, ao menos,
o que faremos para dar
uma informação destas?
Será que irão aceitar?
E aí, Glauco se admira.
Diz-lhe: -Qual é a mentira?
Permita-me perguntar!
E ele: - Não é novidade!
Na Fenícia, começou.
E, de acordo com os poetas,
é real, e se espalhou.
Em várias partes ocorreu
porém nunca sucedeu
em nossos dias. Parou.
E assim, não será fácil
que alguém venha a acreditar
na sua realidade
pois não tem como provar.
E agora, como fazer
para que venham a crer?
Sócrates teme falar.
As expressões lhe falecem.
Não tem coragem de ousar,
mas afirma que vai fazê-lo
e o diz como fará:
Procurará convencer
a todos, de forma que
não venham a duvidar.
Magistrados e guerreiros,
os primeiros que terão,
de forma persuasiva,
uma boa explicação
de que o aprendizado
foi-lhes por sonho passado.
E depois, aos cidadãos.
Nasceram do seio da Terra
junto com tudo que têm.
Ela os formou e os pariu.
Devem, pois, querer-lhe bem.
E como mãe devem amá-la!
E contra quem atacá-la,
lutar por ela também.
Bem assim, tratar aos outros
como devem ser tratados
todos que dela nasceram
e nela foram criados.
Pois, na verdade, irmãos,
são todos os cidadãos
pela mãe Terra irmanados.
SÃO TODOS IRMÃOS, MAS EXISTEM
DIFERENÇAS NA COMPOSIÇÃO DE CADA UM
São todos irmãos os homens
que do Estado fazem parte.
Mas o Deus que os criou,
trabalhou com muita arte:
O apto a governar,
quando o estava a criar,
de ouro, pôs-lhe uma parte.
Aos guerreiros, acrescentou
prata em sua formação;
lavradores e artífices,
ferro e cobre terão.
Assim, de origem comum,
os filhos de cada um
a linhagem herdarão.
Porém que uma raça produza
uma outra, pode ocorrer,
assim sendo, aos magistrados
Deus dá ordem para que,
das crianças, estudem a alma
com dedicação e calma
pra melhor as conhecer.
Qual o metal de tal alma
eles deverão saber.
E se houver mescla de ferro
ou de cobre, o que fazer?
Mesmo que sejam seu filhos,
agir com justiça e brilho.
Trate-os sem qualquer mercê.
Deverão ser relegados
à pobre categoria
de artesãos e lavradores.
É o que lhes caberia.
Magistrados e guerreiros,
cabem ao escalão primeiro
que ouro e prata teria.
Pois o Oráculo, diz Sócrates,
afirma que acabará
se extingüindo a República
no dia em que a governar
uma alma de bronze ou ferro.
Isso é fábula, se não erro.
Iriam acreditar?
Talvez não sirva agora
para a geração atual,
diz Glauco, mas aos seus filhos,
aos seus netos e, afinal,
aos demais descendentes,
lhes servirão, certamente,
como educação formal.
O AMOR A PÁTRIA, A CORAGEM,
A BRANDURA DE UNS PARA COMOS OUTROS
E O DESPRENDIMENTO DOS BENS,
SÃO FATORES ESSENCIAIS
AOS GUERREIROS DA REPÚBLICA
Os guardiões da cidade
terão que ser educados
de forma que obedeçam,
sempre, como comandados.
E que possam estar satisfeitos
com o que têm direito
na condição de soldados.
E terão que serem brandos
uns com os outros e com quem
estiver sob sua guarda,
os tratando sempre bem.
Porém isso vai depender
da educação que irão ter
desde a infância também.
Mas além da educação
que tanto já foi falada,
todo homem de bom senso
terá que saber que a guarda
terá que ter condição
de sobrevivência, ou não
lhes poderão cobrar nada.
Pois, sem os meios de vida,
qual seja: habitação
e o com que se alimentar,
nada impede o guardião
de atacar a cidade
e até, com ferocidade,
aos seus concidadãos.
ALOJAMENTOS E MEIOS DE VIDA
PROPOSTOS NA REPÚBLICA DE PLATÃO PARA OS GUERREIROS
GUARDIÕES DA CIDADE
Nenhum pode possuir
nenhuma propriedade.
Objetos de valor,
só de alta necessidade.
E nem pode ter para si
casa ou dispensa que, ali,
entre alguém, na verdade.
No referente à comida,
bons guerreiros que serão,
receberão das pessoas
que estão sob a proteção
deles, como recompensa
aos seus serviços, é o que pensa
Sócrates, nos diz Platão.
E mesmo assim, a comida
tem que ser na proporção
que nada sobre ou falte
durante o ano. Pois não
deverão comer demais
ou de menos, que isso traz,
ao físico, alteração.
Na hora das refeições
juntos à mesa estarão;
no campo, vida comum
todos eles levarão.
É o que convém ao guerreiro
que tem por fim derradeiro
a defesa da Nação.
OS GUERREIROS DA REPÚBLICA
DEVERÃO SER DESPRENDIDOS
DE QUALQUER BEM TERRENO
Aos guerreiros, se dará
como ensinamento que:
Tendo ouro e prata n’alma,
vindo de Deus, não vão ter
necessidade de bens
humanos que, em si, têm
impurezas a valer.
Se o seu ouro é ouro puro
e imortal, não poderá
misturá-lo com a liga
que o irá contaminar:
a do “ouro da impiedade
infinita” e da maldade,
que ouro nunca será.
Assim, tão só poderá
tocar ou manusear
o ouro ou a prata e
pra sua casa levar;
usá-los em seus vestidos,
que como enfeites são tidos.
Mas, para si, não guardar.
Ainda poderão ter
a alegria de usar
taças áureas ou argênteas
bebendo, ao festejar
algo. Mas, por segurança,
dele e do Estado, herança
não poderá se tornar.
É que a posse de bens terrenos:
terras e casas, e ouro
próprio, qu’eles defendiam
como guardas de um tesouro,
a partir desse momento
serão causas de tormento,
de sofrimento e desdouro.
Pois, de nobres defensores
e protetores do Estado,
tornar-se-ão mercadores
e lavradores, com o fado
que eles mesmos buscarão
com a grande confusão
dos desejos malfadados.
O ódio mútuo e as ciladas
recíprocas os farão temer
os inimigos internos
mais que os externos, e a ver,
a um passo acelerado,
sua ruína e a do Estado,
sem nada poder fazer.
E aí, Platão conclui,
como Sócrates, a falar
que estas foram as razões
que o levaram a regular
os bens e a habitação
dos guerreiros. E uma questão
lança a Glauco: Sim, ou não,
ser isto lei, deverá?
E Glauco que, de acordo
com ele, do início, está
discordando em alguns pontos
que em dúvida pereceu ficar
mas que, em seguida, aceitou,
de acordo também ficou.
E assim sendo, concordou
com sua forma de educar.
CONCLUINDO
Utilizando dois livros
da República de Platão:
O Segundo e o Terceiro,
como amor no coração,
eu tentei me expressar
o melhor para falar
sobre a educação.
A educação do jovem
que, no futuro, teria
sob seu comando a guarda
da Cidade, ou que seria
um guerreiro de valor,
saudável e sem temor
que, sem medo, lutaria.
A educação que iria
dar a importância devida
ao corpo e também a alma,
e valorizar a vida.
mas, que diz: “Não deves temer
a, pela Pátria, morrer,
pois te espera outra vida”.
Uma educação onde as almas
seriam bem trabalhadas
de forma que, no amor
e no bem, fossem formadas,
valorizando a verdade,
onde a mentira e a maldade
seriam, pois, desprezadas.
Uma educação que diz
que o homem não deverá
fazer o que quer que seja
que o possa envergonhar.
Falando, após, da harmonia,
da música e da melodia,
como forma de educar.
Uma educação que mostra
a beleza da perfeição,
e a feiura do excessivo
onde o fogo da paixão
queima, mata, esmorece,
e a chama do Amor aquece,
mansamente, ao homem São.
...
Resta tão somente a mim
Orar a Deus que o leitor
Sirva-se do que foi dito
Aqui, pois foi com amor,
Realmente, que foi feito.
Assim sendo, sem temor,
Meu coração, com efeito,
Ora mui bem satisfeito,
Sente-se leve e indolor.
Rosa Ramos Regis da Silva
Natal/RN (UFRN) - 2005
(Trabalho Universitário cordelizado)
INTRODUÇÃO
Peço a Deus que me oriente
e que pegue em minha mão
para que eu possa fazer,
com amor no coração,
um trabalho responsável
na República de Platão.
Dando uma lida geral,
o meu olhar chega brilha
analisando os Diálogos.
- Oh, meu Deus, que maravilha!
E aí passo a escrever
o que na mente fervilha.
Escolho um tema ao qual possa
discorrer mais facilmente
pois uma cabeça velha,
esclerosada, doente,
já não pode se arvorar
a pensar fluentemente.
E o tema trabalhado
será a educação
que deverá ter o jovem,
segundo o sábio Platão,
para que ele venha a ser
um completo cidadão.
COMO DEVEM SER EDUCADAS
AS CRIANÇAS DA REPÚBLICA
No Livro Dois da República
tem início a discussão
em diálogos, que aponta
qual seria a educação
que uma criança teria
para tornar-se, um dia,
um perfeito guardião.
Nossas crianças queridas
não devem ser enganadas
por mentiras descabidas
pelos poetas criadas
pois, verdinhas como estão,
elas absorverão
as criações malfadadas.
E devem ser educadas
crendo num Deus de Bondade
que não engana seus filhos
pois é, em Si, a Verdade,
a Justiça, a Bonança,
o Amor, a Paz, a Constância,
onde não há veleidade.
E sendo um deus de bondade
não pode ser causador
de tudo, mas só do Bem
já que em Deus só há amor.
O mal, de outra fonte vem.
Uma outra causa tem.
Não foi Deus quem a gerou.
E que elas creiam na justiça
onde o mal será, enfim,
sempre pelo bem vencido.
E que tenha como fim,
sempre, a verdade falar
e nela se apoiar,
pois a mentira é ruim.
COMO SERÁ O GUARDIÃO DA REPÚBLICA
O guerreiro da República
de Platão, o guardião,
Por ser bom, naturalmente,
Será filósofo, então,
colérico, ágil e forte,
pois praticará esporte
tendo, assim, um corpo são.
O corpo será formado
pela ginástica constante,
e a alma pelas músicas
e as fábulas. Não obstante,
as fábulas terão que ser
de forma a fazer crescer
o amor ao semelhante.
A FUNÇÃO DAS MÃES E DAS AMAS
As mães e as amas têm
que muito bem trabalhar
as almas dos seus pequenos
pois lhes cabe educar
as crianças para o bem
com fábulas onde ninguém
que faça mal vencerá.
DEUS, CRIADOR TÃO SOMENTE
DO BEM, É IMUTÁVEL E É LEAL
Como já foi dito, é lei
na República de Platão,
Qualquer que seja o discurso:
público, ou composição
poética, não se dirá
que só a Deus caberá
o mal e o bem então.
Tão só o bem cabe a Deus
pois ele é bondade pura.
Não é um deus enganador.
Não engana as criaturas.
Imutável, Bom e Belo.
O mais puro. O mais singelo.
E à mentira esconjura.
Sendo assim, Deus abomina
a mentira, seja qual for.
Porém em algumas fábulas,
onde ela faz louvor
ao bem, ao belo, ao bom,
a coisa muda de tom
pois representa o amor:
O amor que eleva a alma;
o amor que faz crescer;
o amor que faz o homem
sua pátria defender.
O amor que levará
o guardião a saber,
com calma, a hora certa
para lutar e vencer.
OS GUARDIÃES HONRARÃO OS DEUSES
E SEUS PAIS, VALORIZARÃO A AMIZADE
E ACONCÓRDIA, NÃO TEMERÃO A MORTE
Os guardiães da cidade
da República, deverão,
desde a mais tenra idade,
ter na sua educação:
aos deuses e aos seus pais
têm que honrar por demais
como bons filhos que são.
E devem valorizar,
tendo o apreço devido,
a amizade e a concórdia.
E isso tudo faz sentido!
Pois não há coisa mais bela
que a vivência sem querelas
de um povo sempre unido.
Mas, se são homens corajosos
que se deseja formar,
homens que não temam a morte
ao com ela se deparar,
deverão ser educados
pra não serem derrotados
quando o inimigo enfrentar.
E também que sejam homens
que não abriguem o temor
da existência do inferno
com seu fogo abrasador,
fazendo-se que tais lendas
ou fábulas, eles as entenda
como histórias sem valor.
Já que essas narrativas
são falsas, não verdadeiras,
e inspiram a desconfiança
da nobre classe guerreira.
E Homero que me perdoe!
Diz Sócrates. boa parte foi
do que ele disse, asneira.
Não é que a poesia
na sua escrita faleça
nem que os nossos ouvidos
de ouvi-las não agradeça,
mas, é que, no seu teor,
da morte transmite horror
e faz que o homem esmoreça.
E na República, os guerreiros,
como sábios que serão,
não devem considerar
que a morte de um irmão,
de outro sábio, de um amigo,
seja um mal; seja um castigo;
ou mereça lamentação.
Os lamentos e as queixas
só às mulheres vão caber.
E só às mulheres frágeis!
E aos afeminados, que,
sempre sensíveis demais,
não conseguirão jamais
a cidade defender.
OS DEUSES E HERÓIS DAS FÁBULAS
DEVERÃO SER EMOCIONALMENTE
EQUILIBRADOS, BELOS, BONS
E NUNCA MENTIREM
As histórias inventadas,
criadas – as ficções,
deverão ter seus heróis,
os deuses, com as emoções
muito bem equilibradas
e jamais descontroladas.
E serem belos e bons.
Pois que o jovem guerreiro
que está sendo preparado
pra defender a cidade,
terá que ser educado
de forma a não se exceder
no choro ou no riso, que
demonstra um íntimo agitado.
A Deus não cabe mentiras.
E estas só poderão
serem tidas como úteis
em alguma ocasião,
se usadas para curar
alguém ou para enganar
inimigos da Nação.
Portanto, só aos médicos
é que deve ser confiada
a mentira como remédio.
E aos demais será vedada.
A não ser que, como tal,
ao povo – ao social,
como um bem seja aplicada.
E quem quer que venha a mentir
diante de um magistrado,
este deverá puni-lo
por introduzir no Estado,
como num navio, o mal
que poderá, afinal,
deixá-lo, então, afundado.
TEMPERANÇA: FATOR PRIMORDIAL
NA EDUCAÇÃO DO JOVEM DA REPÚBLICA
A temperança, em Platão,
é fator primordial
na educação do jovem
que tem como principal
função guardar a cidade
dos ataques e da maldade
do inimigo mortal.
Terão, pois, que receber,
com toda a submissão,
as ordens dos governantes
e ter controle de emoção.
E, ainda, se conter
no comer e no beber,
de forma a estar sempre são.
DEUSES E REIS NÃO SÃO COMPRADOS
COM PRESENTES E NÃO PAGAM
O BEM COM O MAL
Jamais se deve incutir
na alma de um jovem que
ele ofereça presentes
para favor obter.
E nem que faça favores
ou elogie com louvores
pra presentes receber.
Também não se deve dar
a entender que um deus
tenha pago como o mal
um bem que lhe ofereceu
alguém que dele queria
algo que ele poderia
dar-lhe, mas ele não deu.
Um deus jamais pode ser
mostrado como o terror:
O que se vinga; o que mata;
um mau; um torturador.
Aquele que, por vingança,
rouba e mata uma criança
que ele mesmo gerou.
NA REPÚBLICA DE PLATÃO NÃO SERÁ
PERMITIDO QUE DEUSES E HERÓIS SEJAM
APRESENTADOS AOS JOVENS, ATRAVÉS DOS
POETAS,COMO CAPAZES DE ATOS
INFAMANTES E CRUÉIS
Na República de Platão
jamais será permitido
que um deus ou um herói
seja falado e tido,
por seus poderes, capaz
de maltratar os demais.
Isto não é concebido.
As falsas acusações
que os poetas faziam
aos deuses e seus filhos,
forçosamente, teriam,
de acordo com Platão,
de voltarem atrás e, então,
elogios lhes fariam.
Pois que, os discursos falsos,
que pecam contra a verdade
e contra a religião,
onde um deus faz maldades,
só iriam incentivar
aos jovens a praticar
atos de perversidade.
NO QUE SE REFERE AO HOMEM,
OS VALORES SÃO TROCADOS
Depois de deuses, heróis,
infernos, genialidades,
os poetas quando falam
do homem, em realidade,
os valores são trocados:
os maus são abençoados
e os bons sofrem de verdade.
Os maldosos são felizes;
os bondosos não tem dita.
A injustiça é proveitosa
se dissimulada fica.
A justiça é, para todos,
útil, porém um engodo.
Um mal para quem pratica.
E pensando no perigo
que isso pode acarretar
à educação dos jovens,
Sócrates, então, deixará
o assunto e, em seguida,
de matéria e forma, escolhida
pro discurso, falará.
DEPENDENDO DO ASSUNTO,
QUAL SERIA
A MELHOR FORMA DE TRATÁ-LO?
Dependendo da matéria
se examinará a forma
onde se escolherá,
seguindo, é certo, uma norma,
o assunto a ser tratado
e que aos jovens será levado.
E a discussão retorna.
Discute-se se a Comédia
e a Tragédia poderão
serem aceitas no Estado
da República de Platão,
e se os seus defensores
devem, ou não, ser “doutores”
na arte da imitação.
NÃO SE PODE A UM SÓ TEMPO
SER RAPSODO E ATOR
Para se fazer bem feita
qualquer que seja a ação,
o homem tem que, a ela,
dá total dedicação.
Quando se tenta imitar
mais de uma coisa, será,
no fim, uma negação.
Os guerreiros da cidade,
que são os seus guardiães,
não poderão dedicar-se
a diversas profissões,
só poderão dedicar-se
às coisas que vão ligar-se
ao seu labor, sem senões.
Só a defesa do Estado
é que vai lhe interessar.
E se, por acaso, houver
algo para imitar,
que seja algo que venha
torná-lo melhor, que tenha
algo que o possa elevar.
Não fazer nada que possa
um dia se envergonhar,
nem mesmo imitando alguém.
A não ser se precisar.
E de uma forma bem singela
e que não cause querela
com a pessoa que imitar.
Pois, na cidade sonhada,
o plano de educação
do guerreiro, que será
da República o guardião,
terá que seguir as regras
escrupulosas que negam,
em geral, a imitação.
Já falou-se dos discursos
e das fábulas que comporão
o plano de ensino que
prepara o guardião,
onde a música será
de importância sem par
no que tange a educação.
Agora chegou a vez
de falar da melodia,
que traz consigo – em seu bojo:
as palavras, a harmonia,
o número e, que tentará
sua influência mostrar
no tocante à sabedoria.
AS HARMONIAS QUE SERÃO, OU NÃO,
ACEITAS NA EDUCAÇÃO DO JOVEM
A lídia mista, a aguda,
e algumas que se assemelham
a elas, são lamentosas.
E tais harmonias espelham
a embriaguez, a moleza,
a preguiça, e, com certeza,
ouvi-las não se aconselham.
A jônica e a lídia, laxas,
que, dizem, são afeminadas,
e que são tocadas em festas,
essas serão descartadas,
pois, ao guerreiro – ao guardião
da República de Platão,
não vai ajudar em nada.
Restam a dórica e a frígia:
a primeira a representar
a coragem do guerreiro
sempre pronto pra lutar,
e a outra, representando
a sabedoria, quando
de sorte boa ou má.
São, pois, a dórica e a frígia
as harmonias que irão
ser reservadas e usadas
na República de Platão
para educar o guerreiro,
o futuro e verdadeiro
filósofo – o guardião.
E para a cidade, a lira
e o alaúde estarão,
como para o campo, o pífano,
que os pastores tocarão,
sem grande variedade
como deve, na verdade,
ser a educação do varão.
NO QUE DIZ RESPEITO AO RITMO
Tal qual se fez com a harmonia,
no ritmo se evitarão
o variar das cadências
e a multiplicação
destas, e se buscará
ritmos que irão expressar
um caráter bom e são.
Aí, fala-se da graça
ou a falta dela, então,
que, afinal, vai depender,
somente, da perfeição
ou imperfeição do ritmo:
Se este é perfeito, é bonito!
Se for imperfeito, não.
Mas, o número e a harmonia,
em sendo belos, serão
seguidores, com certeza,
da beleza da locução.
Assim como palavras feias
enredam em sua cadeia
ritmo e harmonia, então.
É que os ritmos foram feitos,
tanto quanto a harmonia,
para as palavras, e não estas
para aqueles se faria.
Mas, terão que acomodar-se
ao discurso. Encaixar-se.
Isto é mesmo primazia.
A BELEZA DAS PALAVRAS, A GRAÇA,
O RITMO E A HARMONIA,
SÃO MANIFESTAÇÕES DA BELEZA
DE UMA ALMA VERDADEIRAMENTE SÁBIA
A beleza das palavras
com uma bela dicção,
a harmonia e a graça,
manifestações serão
da bondade da própria alma
que, mansa, bondosa e calma,
dirige, do homem, a ação.
E todas as qualidades
acima mencionadas
deverão ser, pelo jovem
guerreiro, sempre buscadas
para que possa, assim,
bem realizar, enfim,
a tarefa a si confiada.
Assim, também com a pintura
o mesmo acontecerá;
com as belas-artes, com a arte
de tecer, com a de bordar;
com a arte da mecânica;
com a produção das plantas;
com a arte de edificar.
A graça ou a deformidade
que numa obra aparece
valoriza ou diminui,
enriquece ou empobrece;
mostra saber e bondade
ou desprazer e maldade.
Enaltece ou desmerece.
DEVEMOS SER VIGILANTES
NOQUE SE REFERE A EDUCAÇÃO
DOS NOSSOS JOVENS
Não basta que se vigie
os poetas, que deverão
escrever só coisas boas
para uma boa educação,
porém buscar evitar
maus artistas espalhar
trabalhos de imitação.
De imitação viciosa
que nada de bom trará,
nutrindo as almas sensíveis
com vícios que irão provocar
o desvio da beleza,
da bondade, da nobreza,
e do Bem a afastará.
Deve-se buscar artistas
de mérito, que têm por Dom
seguir os traços do belo
e nobre, e do bom som,
para que os jovens, assim,
fiquem longe do que é ruim
e gostem sempre do que é bom.
E decerto que a música
é a parte fundamental
da educação, pois se sabe
que a cadência, é real,
e a harmonia se insinuam
na alma e, nela, atuam,
dando-lhe a graça ideal.
Mesmo porque, quando ao jovem
se educa de forma certa
na música, isso faz que ele
tenha sempre a mente alerta:
percebendo com agudeza
o que há na Natureza
e na arte de incorreta.
Sente aversão pelo feio,
imperfeito e vicioso.
Ao contrário, o que é belo
sua alma enche de gozo.
E, em transe, se estasia:
repleto de alegria,
honrado e virtuoso.
Tudo isso desde cedo.
Desde a mais tenra idade.
Antes que a razão ilumine
sua mente, na verdade,
a qual apenas chegada
será por ele abraçada,
pois tem com a música amizade.
O mesmo ocorre com as letras
que, para sermos letrados,
teremos que conhece-las
de frente, atrás e dos lados,
o que quer que elas formem:
frases curtas ou enormes,
termos, todas, dominado.
Porque se não conhecemos
as letras, como saber
quando virmos sua imagem,
o que elas querem dizer?
Pois tudo é objeto
de estudo, e isto é certo,
da arte de aprender.
E se não formos capazes
de conhecer cada um
dos vícios e das virtudes
e não distingüir nenhum
como coisa boa ou má,
como aos jovens formar?
Não teremos guerreiro algum.
UM HOMEM DE ALMA E CORPO
QUE COEXISTEM EM PERFEITA HARMONIA,
É UM ESPETÁCULO DE RARA BELEZA
Um homem igualmente belo
de corpo e alma, seria
o mais belo espetáculo
que alguém contemplaria:
Um homem com qualidades
coexistindo, em verdade,
em perfeita harmonia.
E o músico amará,
de todo o seu coração,
os homens que se encaixe
nesta harmônica perfeição:
com um amor racional,
de beleza pura e leal,
sem o fogo da paixão.
Assim, na República, a lei
expressará que o amor
do amante para o amado,
seja esse amado quem for,
não poderá se exceder
com mostrações de prazer
que tem como troco a dor.
A lei terá que expressar
que as mostras de ternura
terão que ter em seu bojo
uma natureza pura
como de um pai para um filho,
sem se desviar dos trilhos
de lealdade e candura.
E o guerreiro não deve
jamais deixar que alguém veja,
em seus gestos, que é um homem
que, com grande ardor, deseja,
se não quiser ser passado
por um homem mal educado
que não sabe o que é beleza.
E a música deve ser,
para um homem que tem amor
ao que é belo – ao perfeito,
como algo que Deus deixou
para elevar-lhe a alma.
Pois a boa música acalma
e ajuda esquecer a dor.
Depois da música, a ginástica
é fator essencial
para a educação do jovem,
que terá que, afinal,
ter um corpo preparado,
muito bem exercitado
de uma forma geral.
E começará logo cedo,
na infância, e, toda a vida
terá que está sempre em forma,
como lhe é requerida.
E a alma, preparada,
é quem, dele, tem a guarda.
E o faz da forma devida.
Aos guerreiros, proibido
será a embriaguez.
Pois um defensor do Estado
não deve andar, isso é lei,
por aí embriagado,
tonto, tombando, abobado,
ou coisa deste jaez.
Seria mesmo ridículo
vê-se um guarda precisar
de alguém que o guardasse
por embriagado estar.
Isso é o pensar de Platão.
Pois a nossa educação
deixa muito a desejar.
E no que tange à dieta,
ou seja, a nutrição?
Terão uma dieta leve,
simples, a alimentação
que os conserva em alerta,
sem sono, com a mente esperta.
E sem que tenha indigestão.
Assim como a música traz
à alma tranqüilidade,
e a ginástica modela o corpo,
o alimento, é verdade,
em perfeita combinação
com os dois, traz o corpo são
e cheio de elasticidade.
E os guerreiros da República
têm que se alimentar
sempre da forma mais simples
e saudável, pois têm que estar
sempre mui bem preparados
além de bem acordados
quando deles se precisar.
E uma saúde perfeita
só poderá conseguir
quem uma dieta correta
se dispõe mesmo a seguir:
se alimentando bem,
comendo o que convém
a um corpo são em si.
A NECESSIDADE CONSTANTE
DE MÉDICOS E JUÍZES NUM ESTADO
É SINAL DE EDUCAÇÃO PEVERTIDA E MÁ
Se um estado necessita
sempre, no seu dia a dia,
de médicos e de juízes,
isso, claro, mostraria
a educação pervertida
e má, para Platão tida
como o que envergonharia.
E vergonha maior não há
que, depois de fazer mal
ao seu semelhante, um homem,
diante de um tribunal,
tente, no seu julgamento,
passar por um elemento
de bondade sem igual.
E, ainda, ocupando o tempo
de um médico que levou
parte da vida estudando,
com “doenças” que criou
por falta do que fazer,
obrigando o médico a ter
novos nomes para a dor.
A HABILIDADE DO MÉDICO DEPENDE
DAS EXPERIÊNCIAS VIVIDAS NO RAMO,
ENQUANTO QUE O JUIZ, PARA SER BOM,
DEPENDE TÃO SOMENTE
DA PUREZA DE SUA ALMA
Seria o mais hábil médico
aquele que estudou
desde cedo a sua arte,
os princípios que a gerou.
E que, sendo, também, doente,
o maior número de gente
enfermiça ele tratou.
Já que, segundo Platão,
não é pelo corpo que
os médicos curam os corpos,
os corpos deverão ser,
pela alma, pois, curados.
E se a alma é má, malfadados
eles estão a sofrer.
O juiz, pelo contrário,
para que seja o melhor,
não terá que conhecer,
em si ou em outrem, a pior
qualidade de delitos
para julgar, pelos vistos
em si mesmo, o infrator.
Tão somente é necessário
que sua alma seja pura,
isenta de todo o vício
desde jovem, e a candura
bondosa o ajudará
ao justo identificar
de forma justa e segura.
E ao injusto também,
um bom juiz que será.
Pois tendo a alma boa,
jamais se enganará,
ao contrário do “sagaz”
que se acha “muito capaz”,
sempre tentando enganar.
Assim sendo, na República,
de acordo com o que foi dito,
só teriam vez os médicos
e os juizes bonitos:
corpo são e alma formosa.
Se dessas qualidades goza,
são aceitos e benditos.
Porém se possuem corpos
sem boa organização,
que morram! sem merecer
de alguém qualquer atenção.
E os de alma ruim,
tratá-los como a Caim!
Pena de morte, então.
COMO FICA A EDUCAÇÃO DO JOVEM
FORMADO NOS PRINCÍPIOS
DA MÚSICA SIMPLES
A juventude formada
nos princípios que faz brotar
na alma a temperança,
é certo, conduzir-se-á
de forma que jamais venha
a precisar ou que tenha
algum crime para julgar.
E tais regras aplicadas
na ginástica, certamente,
fará que dispense os médicos
já que o corpo, doente
nunca fica, na verdade,
E, assim, necessidade
de médicos, só raramente.
E exercitando o corpo,
não esquecem o principal
que, antes de tudo, é
aumentar o valor moral:
não agindo como um atleta,
que no físico se aboleta.
Só quer ser forte. Isso é mal.
SERIA A GINÁSTICA
SÓ PARA CURAR O CORPO,
E A MÚSICA SÓ PARA FORMAR A ALMA?
Ao que parece, diz Sócrates,
na República de Platão,
as duas se complementam
quando entram em ação
na educação da almas
que, furiosas ou calmas,
necessitam um empurrão.
Para se formar um jovem
não deve-se ter somente
a música para educá-lo
pois ficará indolente:
um guerreiro sem ação,
frouxo, mole, um covardão
que se vence facilmente.
E se o mesmo já for manso
por natureza, então,
aí é que a coisa pega!
Pois as músicas lhe farão
cada vez mais desligado.
Alguns brandos e afeminados,
sem qualquer disposição.
E se ele for animoso,
ao vê-se debilitado
pela forma educativa,
tornar-se-á precipitado.
Era valente! Hoje, é vivo.
Aplacável, mas impulsivo
e muito mal humorado.
Mas, se ele se dedicar
à ginástica tão somente,
com gula se alimentar
e descuidar, completamente,
da música e da filosofia,
de corpo forte, atrofia,
por outro lado, a mente.
Agora, já inimigo
das letras e das musas, vai
empregar somente a força,
pois as palavras não saem
da sua boca com graça,
e, ignorantemente, passa
a ferir, sempre, os demais.
HÁ NA ALMA DUAS COISAS:
A CORAGEM E A SABEDORIA.
E FORA DELAS DUAS OUTRAS:
A MÚSICA E A GINÁSTICA.
(Sócrates)
E o homem que consegue
chegar à perfeita harmonia
da música e da ginástica
e aplica-as, com maestria,
na alma, é merecedor
de, de músico, com louvor,
ser por todos tido, um dia.
É possuidor da ciência
da harmonia em alto grau,
o que o leva a ser
possuidor, como tal,
de um caráter irreprochável:
É sábio, forte e afável.
O governante ideal.
Mas para que tudo possa
da melhor forma ocorrer
na cidade imaginária,
quem tem que obedecer
são os inexperientes
jovens, conseqüentemente,
verdes que são do saber.
Entre os velhos, os melhores,
por certo, são os que serão
escolhidos para o mando
e para a orientação
que, na certa, deverá
dar ao jovem que será
o futuro da nação.
A escolha terá que ser
minunciosa e acurada
pois a juventude não pode
ser tão somente largada
às mãos de alguém que não tem
amor à pátria e a ninguém,
não se interessa por nada.
Os escolhidos serão
aqueles que interessados
se mostrarem em fazer
o que houverem estimado
como o que é de mais proveito
ao bem público e, com efeito,
nunca agir contra o Estado.
Aqueles que não se vendem,
por qualquer preço que seja,
em detrimento do Estado,
pois, deste, o mal não deseja.
Todos estes pontos são
para que o Estado, em Platão,
em boas mãos sempre esteja.
Mas, para que se acredite
na total fidelidade
dos guardiões escolhidos
para guardar a cidade,
é preciso observá-los
toda a vida, pra julgá-los
se são fiéis de verdade.
Os guerreiros, ainda jovens,
deverão se defrontar
com cenas e objetos
que podem aterrorizar
e também podem seduzir.
E tudo isso, para si,
uma grande prova será.
E aquele que tudo enfrenta,
fiel ao que recebeu
da música, valorizando
as lições que aprendeu,
com uma alma afinada,
harmônica e ritmada,
o comando será seu.
A este caberá honras
no correr de sua vida.
E depois de sua morte,
em sua honra, erigida
magnífica sepultura
e muitas outras esculturas,
belas e bem construídas.
E todos os que não têm
um caráter tal e qual,
segundo Sócrates, serão
reprovados como tal.
Pois, para bem merecer
ao bem público defender
terá que ser ideal.
E, assim, terão, aqueles
que foram selecionados
como os melhores, o título
de defensores do Estado,
os legítimos, os primeiros.
Assim sendo, os verdadeiros,
a quem o poder é dado.
O poder de defender
dos inimigos, o Estado:
falsos amigos internos
ou os externos declarados.
Tirando àqueles a vontade;
E estes, terão, na verdade,
o poder de ofender logrado.
PLATÃO SE VALE DE UM MITO
COMO FORMA DE PERSUASÃO
Proferidas a propósito,
as mentiras poderão
serem de grande proveito.
Afirma Sócrates, então.
Porém, como convencer
aos magistrados de que
eu estou com a razão?
Ou aos cidadãos, ao menos,
o que faremos para dar
uma informação destas?
Será que irão aceitar?
E aí, Glauco se admira.
Diz-lhe: -Qual é a mentira?
Permita-me perguntar!
E ele: - Não é novidade!
Na Fenícia, começou.
E, de acordo com os poetas,
é real, e se espalhou.
Em várias partes ocorreu
porém nunca sucedeu
em nossos dias. Parou.
E assim, não será fácil
que alguém venha a acreditar
na sua realidade
pois não tem como provar.
E agora, como fazer
para que venham a crer?
Sócrates teme falar.
As expressões lhe falecem.
Não tem coragem de ousar,
mas afirma que vai fazê-lo
e o diz como fará:
Procurará convencer
a todos, de forma que
não venham a duvidar.
Magistrados e guerreiros,
os primeiros que terão,
de forma persuasiva,
uma boa explicação
de que o aprendizado
foi-lhes por sonho passado.
E depois, aos cidadãos.
Nasceram do seio da Terra
junto com tudo que têm.
Ela os formou e os pariu.
Devem, pois, querer-lhe bem.
E como mãe devem amá-la!
E contra quem atacá-la,
lutar por ela também.
Bem assim, tratar aos outros
como devem ser tratados
todos que dela nasceram
e nela foram criados.
Pois, na verdade, irmãos,
são todos os cidadãos
pela mãe Terra irmanados.
SÃO TODOS IRMÃOS, MAS EXISTEM
DIFERENÇAS NA COMPOSIÇÃO DE CADA UM
São todos irmãos os homens
que do Estado fazem parte.
Mas o Deus que os criou,
trabalhou com muita arte:
O apto a governar,
quando o estava a criar,
de ouro, pôs-lhe uma parte.
Aos guerreiros, acrescentou
prata em sua formação;
lavradores e artífices,
ferro e cobre terão.
Assim, de origem comum,
os filhos de cada um
a linhagem herdarão.
Porém que uma raça produza
uma outra, pode ocorrer,
assim sendo, aos magistrados
Deus dá ordem para que,
das crianças, estudem a alma
com dedicação e calma
pra melhor as conhecer.
Qual o metal de tal alma
eles deverão saber.
E se houver mescla de ferro
ou de cobre, o que fazer?
Mesmo que sejam seu filhos,
agir com justiça e brilho.
Trate-os sem qualquer mercê.
Deverão ser relegados
à pobre categoria
de artesãos e lavradores.
É o que lhes caberia.
Magistrados e guerreiros,
cabem ao escalão primeiro
que ouro e prata teria.
Pois o Oráculo, diz Sócrates,
afirma que acabará
se extingüindo a República
no dia em que a governar
uma alma de bronze ou ferro.
Isso é fábula, se não erro.
Iriam acreditar?
Talvez não sirva agora
para a geração atual,
diz Glauco, mas aos seus filhos,
aos seus netos e, afinal,
aos demais descendentes,
lhes servirão, certamente,
como educação formal.
O AMOR A PÁTRIA, A CORAGEM,
A BRANDURA DE UNS PARA COMOS OUTROS
E O DESPRENDIMENTO DOS BENS,
SÃO FATORES ESSENCIAIS
AOS GUERREIROS DA REPÚBLICA
Os guardiões da cidade
terão que ser educados
de forma que obedeçam,
sempre, como comandados.
E que possam estar satisfeitos
com o que têm direito
na condição de soldados.
E terão que serem brandos
uns com os outros e com quem
estiver sob sua guarda,
os tratando sempre bem.
Porém isso vai depender
da educação que irão ter
desde a infância também.
Mas além da educação
que tanto já foi falada,
todo homem de bom senso
terá que saber que a guarda
terá que ter condição
de sobrevivência, ou não
lhes poderão cobrar nada.
Pois, sem os meios de vida,
qual seja: habitação
e o com que se alimentar,
nada impede o guardião
de atacar a cidade
e até, com ferocidade,
aos seus concidadãos.
ALOJAMENTOS E MEIOS DE VIDA
PROPOSTOS NA REPÚBLICA DE PLATÃO PARA OS GUERREIROS
GUARDIÕES DA CIDADE
Nenhum pode possuir
nenhuma propriedade.
Objetos de valor,
só de alta necessidade.
E nem pode ter para si
casa ou dispensa que, ali,
entre alguém, na verdade.
No referente à comida,
bons guerreiros que serão,
receberão das pessoas
que estão sob a proteção
deles, como recompensa
aos seus serviços, é o que pensa
Sócrates, nos diz Platão.
E mesmo assim, a comida
tem que ser na proporção
que nada sobre ou falte
durante o ano. Pois não
deverão comer demais
ou de menos, que isso traz,
ao físico, alteração.
Na hora das refeições
juntos à mesa estarão;
no campo, vida comum
todos eles levarão.
É o que convém ao guerreiro
que tem por fim derradeiro
a defesa da Nação.
OS GUERREIROS DA REPÚBLICA
DEVERÃO SER DESPRENDIDOS
DE QUALQUER BEM TERRENO
Aos guerreiros, se dará
como ensinamento que:
Tendo ouro e prata n’alma,
vindo de Deus, não vão ter
necessidade de bens
humanos que, em si, têm
impurezas a valer.
Se o seu ouro é ouro puro
e imortal, não poderá
misturá-lo com a liga
que o irá contaminar:
a do “ouro da impiedade
infinita” e da maldade,
que ouro nunca será.
Assim, tão só poderá
tocar ou manusear
o ouro ou a prata e
pra sua casa levar;
usá-los em seus vestidos,
que como enfeites são tidos.
Mas, para si, não guardar.
Ainda poderão ter
a alegria de usar
taças áureas ou argênteas
bebendo, ao festejar
algo. Mas, por segurança,
dele e do Estado, herança
não poderá se tornar.
É que a posse de bens terrenos:
terras e casas, e ouro
próprio, qu’eles defendiam
como guardas de um tesouro,
a partir desse momento
serão causas de tormento,
de sofrimento e desdouro.
Pois, de nobres defensores
e protetores do Estado,
tornar-se-ão mercadores
e lavradores, com o fado
que eles mesmos buscarão
com a grande confusão
dos desejos malfadados.
O ódio mútuo e as ciladas
recíprocas os farão temer
os inimigos internos
mais que os externos, e a ver,
a um passo acelerado,
sua ruína e a do Estado,
sem nada poder fazer.
E aí, Platão conclui,
como Sócrates, a falar
que estas foram as razões
que o levaram a regular
os bens e a habitação
dos guerreiros. E uma questão
lança a Glauco: Sim, ou não,
ser isto lei, deverá?
E Glauco que, de acordo
com ele, do início, está
discordando em alguns pontos
que em dúvida pereceu ficar
mas que, em seguida, aceitou,
de acordo também ficou.
E assim sendo, concordou
com sua forma de educar.
CONCLUINDO
Utilizando dois livros
da República de Platão:
O Segundo e o Terceiro,
como amor no coração,
eu tentei me expressar
o melhor para falar
sobre a educação.
A educação do jovem
que, no futuro, teria
sob seu comando a guarda
da Cidade, ou que seria
um guerreiro de valor,
saudável e sem temor
que, sem medo, lutaria.
A educação que iria
dar a importância devida
ao corpo e também a alma,
e valorizar a vida.
mas, que diz: “Não deves temer
a, pela Pátria, morrer,
pois te espera outra vida”.
Uma educação onde as almas
seriam bem trabalhadas
de forma que, no amor
e no bem, fossem formadas,
valorizando a verdade,
onde a mentira e a maldade
seriam, pois, desprezadas.
Uma educação que diz
que o homem não deverá
fazer o que quer que seja
que o possa envergonhar.
Falando, após, da harmonia,
da música e da melodia,
como forma de educar.
Uma educação que mostra
a beleza da perfeição,
e a feiura do excessivo
onde o fogo da paixão
queima, mata, esmorece,
e a chama do Amor aquece,
mansamente, ao homem São.
...
Resta tão somente a mim
Orar a Deus que o leitor
Sirva-se do que foi dito
Aqui, pois foi com amor,
Realmente, que foi feito.
Assim sendo, sem temor,
Meu coração, com efeito,
Ora mui bem satisfeito,
Sente-se leve e indolor.
Rosa Ramos Regis da Silva
Natal/RN (UFRN) - 2005