A NOVA REVOLTA DE UM TRAIDOR
6º. Testamento do Judas Versão 2009
Todos os personagens são reais e aceitaram a brincadeira.
Na Quarta-Feira de Trevas
Começou o meu tormento
Peguei caneta e papel
E fiz logo o Testamento
Com este já fazem seis
E eu vou ler pra vocês
Agora, neste momento.
Dois mil e oito foi bom
Se esqueceram de mim
Não teve forca nem bomba
Não teve coisas assim
Eu ri de noite e de dia
Pra mim foi só alegria
Porque eu não tive fim.
Eita, quanta gente besta
Que veio pra me olhar
Homem, mulher e menino
Estão a me rodear
Aqui nesta rua larga
Minha boca já amarga
Sei que vou me acabar.
Outra vez estou aqui
Servindo de passatempo
Todo ano é assim
Me carregam num jumento
Com gritos e zombaria
Como odeio este dia
Deste meu enforcamento.
Se fosse enforcamento
Minha morte era boa
Não ficava pendurado
Sofrendo aqui à toa
Uma bomba no meu peito
Esperando o sujeito
Explodir minha pessoa.
E esse tal de Tiquinho
Chegou das bandas do Norte
Mais um pra me afrontar
Na vida não tive sorte
O cara do Acre veio
Só pra ficar bem no meio
E assistir minha morte.
Esta calça de viado
Foi Luciano quem deu
E minha cabeça feia
Vinícius me ofereceu
E este sexto cordel
Que foi impresso o papel
Jeconias escreveu.
Devia ser meio dia
A minha execução
Vocês iriam suar
Ter uma insolação
Devia chover bem muito
Eu não seria defunto
Se não houvesse explosão.
Eu não sabia que um beijo
Pudesse me condenar
Mas tinha que ser assim
Eu não posso reclamar
Se eu fosse um político
Ou um cara muito rico
Iriam me perdoar.
Mas chega de blá-blá-blá
Vou logo pra o finalmente
Meu tempo tá acabando
Vou partir, infelizmente
É hora de eu dividir
E começo a repartir
Olhando vocês de frente.
Quem está lendo o cordel
Que para mim é um louco
Desejo que perca a fala
Ou fique bastante rouco
Que fale grosso e fino
Engasgado com pepino
Todo castigo é pouco.
O meu amigo do Acre
Que todos chamam TIQUIM
Lhe dou a minha camisa
E o meu celular Tim
Tudo isso é pra você
E enquanto tu viver
Nunca se esqueça de mim.
Um sujeito lá do Quebra
Me pediu a dentadura
É meu amigo BEMBÉU
Que quer morder rapadura
E para outro mané
Eu deixo pra NEGO DÉ
Dez rolos de atadura.
Minhas doenças de pele
Sarna, impigem e coceira
Chulé, frieira e rabujo
Deixo para ZÉ MANGUEIRA
A VINÍCIUS eu vou dar
Pra ele não se queixar
Minha podre sovaqueira.
Pra ZÉ TAVEIRA, colega
Uma marreta vou dar
Vai lhe ser muito útil
Para os postes quebrar
Você é mesmo um gênio
Pegue um balão de oxigênio
Para poder respirar.
Aquelas trinta moedas
Que me deixaram feliz
Agora passo pra MAURO
Que está devendo a Luís
Minha namorada cega
Do rosto cheio de prega
LUCIANO foi quem quis.
Na bodega de LUÍS
Vai entrar muito dinheiro
Só fregueses como Mauro
Chegará o ano inteiro
Eu não gosto de besteira
MARCÂO ganha uma esteira
Pra descansar o traseiro.
Pra CIÇO eu deixo cana
Da branca e da amarela
A calça é de CASSIANO
Para cobrir as canela
Eu não tenho mais dinheiro
ZEZÉ é meu companheiro
Vai herdar uma tigela.
VALDIR está reclamando
E me chamando de mau
Pra ele restou um litro
Camuflado num jornal
WELSON quer sua prenda
Meu companheiro, entenda
Acabou tudo, afinal.
Daqui a pouco me estouro
Tá perto de anoitecer
Vou deixar para RIBEIRO
Toda a sujeira varrer
Está chegando a hora
Mais uma vez vou embora
Isso não posso esquecer.
Adeus, Rua Vicente Leite
E Tenente Antônio João
Adeus, minha Vila Alta
Todos que aqui estão
Adeus, meu povo ingrato
Que saudade do meu Crato
O meu querido torrão.
J á que eu me despedi
E m Luciano confio
C omeço a suar muito
O meu gemido é um pio
N ão chore por mim, ninguém
I nda sinto calafrio
A gora só resta, mesmo
S ó acender o pavio.