JOÃO PARAÍBA E A RUA DA AREIA

Queria fazer amor

Mas não achava pareia

E assim João Paraíba

Cansou de afinar a pêia

Descabelando o palhaço

E pra quebrar seu cabaço

Correu pra Rua da Areia

E assim que chegou à rua

João viu cada visagem

Que olhando pros valentes

Quase lhe faltou coragem

Mas por tanta precisão

Prosseguiu sua procissão

Pela Barão da Passagem

Por aqueles casarões

Encontrava-se de um tudo

Dentre putas e ladrões

Tinha andrajos e veludo

Por onde a noite seguia

Na etílica alegria

Do furor mais cabeludo

Quando então nosso João

Foi desgarrando o receio

Olhou sua mão direita

E a coragem então lhe veio

Foi quando entrou numa casa

E pensou, queimando em brasa:

- Hoje eu vou mamar num seio!

Pois Ficha no jukebox

De um bar da luz vermelha

Entornou uma lapada

Prumode esquentar a orelha

E fitando rosto a rosto

Procurou um tira-gosto

Pra flambar sua centelha

Mas dentro daquela casa

Só tinha o último apelo

Só tinha um dragão de asa

Um resto de desmantelo

Mas ‘cabra’ bebo não foge

E João meio São Jorge

Já cogitava detê-lo!

A mais feia das mais feias

Perto dela era bela

Com os peitos na barriga

E a barriga na canela

Tinha tanta tatuagem

Que até malassombragem

Corria com medo dela

Quando João, aguardentado

Chamou a bicha pra mesa

Contou-lhe que era cabaço

Perguntou: tudo beleza?

E a tinhosa disse: Homi,

Hoje acabo tua fome

Com a minha sobremesa...

Foram então pra um quartinho

Que ficava atrás do bar

João se tremendo todinho

E ela pra lhe acalmar

Dizia sem embaraço:

Você é o quinto cabaço

Qu’essa noite eu vou tirar

Já no ventre da alcova

Do bordel raparigueiro

A quenga tirou a roupa

Com o charme d’um pedreiro

E no fio dessa visão

O brinquedo de João

Mostrou quem chega primeiro

Daí pra frente, confesso,

Não vi como aconteceu

No enganchado das cochas

Foi aquele “benzadeu”

E no mêi dessa procela

Enquanto João tava nela

Um cabaço se perdeu...

Finalizado o serviço,

Pagamento efetuado,

João saiu do cortiço

De sorriso abestalhado

Dizendo: Oh! Rua da areia

As casas que te ladeia

É lugar abençoado!