"MOÇA VIRGEM SEM VIRGINDADE" Literatura de Cordel de: Flávio Cavalcante
Literatura de cordel
Moça Virgem Sem Virgindade
Autor: Flávio Cavalcante
I
Perto de uma nascente
Num lugar bem atrasado
Existe um home valente
Brabo como um cão virado
Chegou pra mim e disse:
Oi... Deixe de tolice
Que vou ser teu namorado
II
Tu quereno ou não
Cum isso num se apoquente
Vou pedir a sua mão
Pro seu pai, o véi Vicente
E menos duma semana
Faço o casoro da gente
III
Quaje morri de susto
Cum as palavra em meu ouvido
Um home correto e justo
Mas porém muito atrevido
Falando de gasto e custo
Quereno seu meu marido
IV
Danei-me numa carreira
Mais veloz que uma bala
Subi e desci a ladeira
Pulei riacho e vala
E cheguei numa canseira
Quaje perdeno a fala
V
Mamãe já percebeu
Que coisa ruim tava aconteceno
O que foi que aconteceu?
Menina tu tá tremeno
Foi um home que endoideceu
E tentei tira-lo pro meno
VI
Encontrei-me com um home
Acho que é conhecido
Agora num lembro o nome
Tipo de home enxerido
Vem falar cum pai Vicente
Pra ver se ele consente
Esse home ser meu marido
VII
(Diche mainha...).
Menina o que tem isso?
Oia pra tua idade cum medo
Vala meu Padim, Padim Ciço
Das causa perdida e dos segredo
Segura cum os dente esse home
Que tu num vai passar fome
Nem vai levar pra são Pêdo
VIII
É ruim deu levar pra São Pêdo
Se a minha preocupação é essa
Minha mãe eu tou cum um segredo
É séro e num tou cum cunversa
Mas pra ninguém lhe fofocar
É pra senhora que eu vou conta
IX
Jamais vou fazer uma coisa dessa
Pensava que sinhora sabia
Minha mãe num to cum cunversa
Mas... Cum ajuda da virge Maria
E pra ninguém lhe fochicar...
Que o povo fala todo dia
Pra sinhora eu vou contá
X
Eu vou lhe contá um estrondo
Que da sinhora num dá pra escondê
Que hoje num é mais buraco, agora é rombo
Falando vai dá pra intendê
Que a sinhora num tenha assombro
E que esse home num pode saber
XI
(Diche minha mainha revortada...).
Bicha sem veigonha o que tu fez?
Desse pros home o que tinha de mio?
Pega tuas caçola e fia na mala de vez
Cachorra, vaca safada e capenga
Proque na roça, mulé quando é quenga
Passa pendenga e vai morar só
XII
Mainha... esse home tem dinheiro
É pôde de rico e é fazendêro
A sinhora tem que pensar...
Eu casano cum esse home
Um dia vou ter um nome
E todos vai me respeitar...
XIII
Eu num tinha pensando nisso
Num é que vormicê tem razão?
Vala meu santo padinho Ciço
Nisso eu num tinha pensado não...
Já que o home tem dinhêro
É pôde de rico e fazendêro
Dou pra ele sua mão...
XIV
E num se procupe jamais
De num ser mais moça inteira
Vou ensina pra tu uma brincadeira
Qui enganar otáro nunca é demais
Pra ele nunca mais esquecer
Depois que o dia amanhecer
Que tu vai é ri cum a faladeira
XV
Tenho uma maneira estranha
Qui vai inté entrar na fama
Agite bem uma garrafa de champanha
E amarre bem no pé da cama
E pegue um barbante com fé
Amarre no teu dedão do pé
XVI
Cum fé e tiscunjuro eu retiro
Tu puxa o dedão do pé
E a garrafa vai dar um tiro
Pra disfarçar tu dá um bééé
Parecendo um cabra sem jeito
Pra expricá tu diz bem feito...
Perdi meu cabaço e sou agora mulé
XVII
O que foi isso?
Diz ele cum oi arregalado
Foi meu cabaço, pro meu padim ciço
Home oia aqui seu tou melado
Que o meu furico tá ardiço
E eu senti que tou tampado
XVIII
Fez inté um estampido
Na casa de mané Genaro
Cabaço ligeiro e atrevido
Acertou o cu dum canáro
E depois desse tal teste
Meu cabaço de intrometido
Destampou na casa da peste
XIX
E essa estóra de trancoso
Se findou muito crué
Pois esse home tinhoso
Na noite de lua de mé
Parecia um cão reivoso
Rodano num só pé
XX
Naquela noite feia e fajuta
A tá rolha exprudiu
E cum força de pedra bruta
Em pontaria fez rodopio
Num fumaceiro da brucuta
Foi enfiá no fundio
Daquele fio da puta
(FIM).