"A CAGANEIRA" Literatura de Cordel de Flávio Cavalcante
(Literatura de Cordel nordestina).
A Caganeira
Autor:
Flávio Cavalcante
1
Eu vou contá uma estóra
Que acunteceu na Paraíba
Me deu uma dor de barriga
Qui o imbigo subiu pra riba
2
Num seio que diabo cumí
Só seio que fiquei sem ação
Ôh dor da gôta serena
Dessa nunca tinha dado não
3
Todo mundo viu
Quano um peido escapuliu
E ninguém arguentou
Fez fumaça cor de anil
Tapou o sol do Brasil
E fedia qui nem cocô
4
O sol ficou quente como um forno
Queimando os membro interno
E eu no meio feito um corno
Querendo sair do inferno
5
As véia comesaro a rezá
Pade nosso cum ave Maria
Rezaro pra toda famía
Pra pade Ciço Perdoá
6
E na hora das agonia
Começaro a confessar
Um monte de mulé vadia
Oiava pro céu e pedia
Pro mundo num acabá
7
Falava de gáia e mulé foleira
Deixano de boca aberta a madre
Confessou que trepou na cadeira
Diche inté o tamanho da do padre
8
E tava eu desesperado
Minhas carças se rasgou
Juntou gente de tudo qui é lado
Torceno pra me ver cagado
Mas nosso senhor má judou
9
Daí fiquei numa carçada
Numa parede fiz um leito
Acorcorado me apertava
Mas parecia num ter jeito
E depois que me sentava
A merda na porta chegava
Sem pena desse tal sujeito
10
Vi inté o céu estrelar
Suor rasgando as costa
Sabia qui aí vinha bosta
Antes de no furico o suor chegar
11
Suando da cabeça aos pé
Fazia careta e cuspia
Cagar era o que eu mais queria
Numa privada cum muitos papé
12
Mas quanto mais eu andava
Prendendo a situação
Num encontrava uma só privada
Que eu pudesse me sentir cagão
13
Piscava o meu butico
Prendendo pra num cagar
Do povo saiu um fuxico
Quisero inté apostar...
O tamanho capitão Chico
Esse tinha que avaliar
14
O tamanho do tolete
Um metro valia dez
Uma véia cum um cacete
Oferecia vinte réis
Praquele que cortasse em rolete
Além de ganhar o porrete
Ganhava também ouro e anéis
15
Enquanto tava eu me apertando
Gritando pra santo Erdécio
Cum dor meus oi estufando
Meu cu virava comércio
16
Quem paga mais?
Disse um sujeito
Que já tinha sido eleito
Por achar ele capaz
Tinha na cara um defeito
Que se oiasse dereito
Parecia um satanás
17
Só dou um real e seis
Gritou um vigário na parada
Disse um padre camponês
Que gritou em disparada
Todo meu ouro é pra vocês
Dependendo da cagada
18
Apareceu muito serrote
Faca e martelo apareceu
Aí foi que o suor desceu
Pro causa de minha pouca sorte
Desejei minha própria morte
Qui o cu do negóço era o meu
19
Inté um par de molêta
Apostaro a um rapaz pacato
Num tem fí da peste que mereça
Ser tratado como um macaco
Nunca me passou pela cabeça
Que meu rabo era tão barato
20
Eu nunca vi coisa assim não
Coisa que pra mim é de lascar
Inté bosta eu fui embolar
Sujando minhas própria mão
Mas eu sou fera atrevida
Primeira vez nessa vida
Vi de um cu fazer leilão
21
O suor desceu pelo intercessor
Rompeu a veia bostérica
Um gemido gritado de dor
Parecendo mulé histérica
22
Caiu no orifício fedorento
O suor misturado cum fedô
Tentando desviá o pensamento
Fez pressão, fez pressão e estourou
23
A dor foi armentano
Depois da exprosão
Mais verde eu fui ficano
Pensano ser um trovão
Me esparramei numa queda
Pro causa dum barde de merda
Saído cum muita pressão
24
Depois de má liviá
Tava eu todo cagado
Era merda pra todo lado
Ninguém dava pra agüentá
25
Uma sinhora teve dó
Comprou um rolo de papé
E lá da venda de seu Belé
Viu minhas tripa dando nó
Peguei aquilo como um trofé
P’reu limpar meu Feofó
26
Apareceu uma cachorrada
Comendo a porcaria
Saíro cum os bicho na paulada
Que muito ouro a merda valia
27
Pra eles era um beijo
As mordida das cachorra
Compraro pra elas um queijo
E Comê nossa merda uma pôrra
28
Foi assim que eles disse
Naquela hora de sufoco
Tanta bosta produzida, visse?
Que meu cu virou um coco
29
Ganharo dinheiro a cantaro
Cum minha podre caganeira
Meu furico já tava em inventaro
O dinheiro rolou a tarde inteira
Carimbaro, selaro e registraro
E Vendêro pra uma estrageira
30
E pra compretá a situação
Essa estória se findou
O home ganhou fama de cagão
Despois de fazer tanto cocô
Como num causo medonho
Feito um corno senvergonho
Do sonho brabo ele acordou
(Fim).