A Lei Áurea
Já são cento e vinte anos
Depois da assinatura
A princesa Isabel
Acabou com a escravatura
Deixou seu nome na história
O povo cantou vitória
Nesse ato de bravura
Hoje o Brasil comemora
Com muita badalação
Por ter apagado a página
Da negra escravidão
Por ver o pobre escravo
Homem tão forte e tão bravo
Transformado em cidadão
A festa toda se espalha
De norte a sul do país
É festa em São Salvador
É festa em São Luis
Todo afro-descendente
Do ilustre ao mais carente
Se mostra muito feliz
Mas o negro hoje em dia
Continua escravizado
Sofrendo o preconceito
E sempre discriminado
Sem ter oportunidade
De mostrar capacidade
Por ser marginalizado
Hoje o negro é a metade
Da nossa população
Que vive sempre lutando
Por melhor situação
Pra mostrar que é capaz
Inteligente e audaz
Em qualquer ocasião
Para defender o negro
As ONGs foram criadas
Cada uma a seu modo
Pelo Brasil espalhadas
Lutando pra conquistar
Sempre um melhor lugar
Pras famílias relegadas
Mas têm muitos que ainda
Vivem na periferia
Nos estados do Nordeste
No Maranhão e Bahia
Vivem como quilombolas
Sem acesso a escolas
Lutando no dia-a-dia
O Governo criou cotas
Propaga com vaidade
Para o negro ter direito
De ingressar na faculdade
Com notas menos que o branco
Vai ter o direito franco
De cursar a universidade
Me permitam os políticos
Dessas cotas discordar
Porque com essa medida
A coisa vai piorar
Vai provocar outro efeito
Aumentar o preconceito
O branco vai protestar
Esse não é o caminho
Da inclusão social
O direito é de todos
De competir por igual
Pra mudar o figurino
Comecem pelo ensino
Desde o fundamental
A verba da educação
Sempre foi mal aplicada
O nosso ensino gratuito
Não passa de uma piada
Tem escola que só tem nome
Os alunos passam fome
A merenda é desviada
E o transporte escolar?
É uma imoralidade
Tem até pau-de-arara
Do tempo da antiguidade
Quando levavam os romeiros
Pras festas dos padroeiros
Celebradas na cidade
As salas não têm carteira
Ninguém pode se sentar
Professores incapazes
Sem curso para ensinar
Tira a condição dos pobres
Competir com quem tem “cobres”
Que pode escola pagar
Vamos dar prioridade
Ao direito da criança
Direito a educação
Dando a ela a esperança
De um dia melhorar
Conquistar o seu lugar
Sem ser preciso nuança
Todo mundo é capaz
Em grau de inteligência
É só ter as condições
De mostrar eficiência
Ninguém precisa de esmola
Só precisa de escola
E de boa assistência
Não existe diferença
De nação raça ou de cor
O genoma já deu provas
De modo avassalador
Só existe o ser humano
Brasileiro ou africano
Criados pelo Senhor
Já foi derrubada a tese
De raça superior
Não existe sangue nobre
Nem sangue inferior
Com um bom ensinamento
Qualquer um mostra talento
E prova o seu valor
O prefeito inaugura
Mais um grupo escolar
Para atender as crianças
No ensino elementar
Depois vira um museu
É que a verba não deu
Pra escola sustentar
E lá vão pobres crianças
Preta, branca e mestiça
Sem escola e sem lazer
Mergulhar em outra liça
Exploradas no trabalho
Servindo de quebra-galho
Esquecidas da justiça
À noite nas capitais
Vindas da periferia
Crianças se prostituem
Pelo pão de cada dia
Vão pra marginalidade
Presas da fatalidade
Da cruel pedofilia
Os jornais de hoje em dia
Só mostram a violência
Onde as principais vítimas
Estão na adolescência
Por lhe faltar condição
De uma boa educação
Que lhe promova a decência
As despesas do congresso
São orçadas em bilhões
Os desvios de dinheiro
Atingem outros cifrões
E a verba da educação
Vem de tamanho anão
Mas sobra para os ladrões
Combate a corrupção
O corte nas mordomias
Construção de prédios públicos
Com luxos e regalias
Durante o ano inteiro
Sugando nosso dinheiro
Deixando só ninharias
Senadores, deputados
Escutem o povo servil
Pretos e brancos repetem
Da forma mais pueril
Nós não queremos esmola
Só queremos boa escola
Pra melhorar o Brasil.
Petronilo Filho
João Pessoa 14/05/2008