O SENADO QUE TRABALHA DEMAIS

Miguezim de Princesa

I

Não adianta abafar.

Todos sabem que o Senado

Explora seus servidores

Num rojão escravizado:

De cedo a tarde da noite,

O lombo levando açoite,

O corpo todo estafado.

II

Foi assim que Agaciel

Lutou até a exaustão:

Entrando nas madrugadas,

Fazendo muito serão,

Comeu pouco, vestiu mal,

Juntou real por real

E comprou uma mansão.

III

Todo dia passa das dez,

O trabalho é de suar:

Não tem água nem café,

Salgadinho ou guaraná;

Mulher feia no corredor,

O Senado é um horror,

Só presta para estressar.

IV

O servidor ganha pouco,

Tem cara de sofredor,

Mora longe, anda de ônibus

E às vezes de metrô;

No agiota pendurado,

Já é até comparado

Com a classe de professor.

V

Jeany Mary me contou

Que ali não tem futuro

E as “primas” morrem de fome

Com senadores pão-duro,

Que não pagam nenhum gole,

Difícil é achar pão mole

Na mão boba do escuro.

VI

O Senado é o reduto

De retidão e decência,

Bate o coração do povo

Na alma da excelência

E em cada sala apertada

Geme, sofrida e suada,

A boca da inocência.

VII

Senador ” boca de bola”,

Quando solta seu berreiro,

Está defendendo o povo

Da sanha do estrangeiro.

Com o grampo se aperreia,

Protesta, faz cara feia,

Sem nem pensar no banqueiro.

VIII

Só vivem de bolso liso

Os pobres dos senadores.

Com raiva, vão e se vingam

Nos sofridos servidores,

Mas, depois que a noite chega,

Um magote de galegas

Alivia suas dores.

IX

Se há uma licitação,

Fica maior o tormento:

O trabalho é redobrado,

Só se vê choro e lamento,

Parlamentar bem zangado,

Assessor desesperado

Atrás de vinte por cento.

X

E haja telefonar,

Assessoria cobrando,

Lobista sofrendo infarto,

Empreiteira se virando,

Abarrotando o alforge,

E o delegado Protoge

Só na surdina gravando.

XI

Trabalhar de dia a noite

É coisa muito ruim.

Por isso mandei uma carta

Ao senador Efraim,

Explicando minha demanda,

Para ver se ele manda

Umas horas-extras pra mim.

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 11/03/2009
Código do texto: T1481897