O ARCEBISPO E O ESTUPRADÔ
Lili Maial
I
Tava lendo o meu jorná,
procurano um apartamento,
quando vejo destacá,
a notícia de um jumento,
homi santo, ora veja,
representante da Igreja,
pro meu descontentamento.
II
O cabra mandô dizê
pra todo mundo iscutá,
que nunca mais vai benzê,
pramodi excomungá,
a mãe da pobre criança
que, cum tanta insegurança,
num sabia o que falá.
III
Essa pobre garotinha,
cumpletano os nove ano,
uma jovem andorinha,
convivendo c’um insano,
conheceu o sofrimento,
calada e sem um alento,
suportô o desengano.
IV
Desde os seis ano de idade,
o padrasto a molestava,
fazia tanta maldade,
e a menina num contava,
com medo da mãe morrê,
e o cabra se enfurecê,
a pobrezinha chorava.
V
Quando, então, veio o seu chico,
sem de nada entendê,
num sabia do perigo
que pudia acontecê,
e teve dor de barriga,
pensano que era lumbriga,
a mãe foi pagá pra vê.
VI
Levou a pobre ao dotô
que indepois de inzaminá,
num se continha de horrô,
num sabia o que falá,
disparô o seu cartucho:
tem dois neném nesse bucho!
E viu a mãe dismaiá.
VII
Cumo pode, seu dotô?
Ela vive presa em casa!
Só se aquele gigolô
arresorveu mandá brasa!
E agora, o que vai sê?
Minha fia vai morrê?
Tamo na faixa de Gaza!
VIII
O dotô, ainda em choque,
chamou os otro colega,
que trouxeram a reboque,
um dotô da Noruega,
e viram que gravidez
no corpo num tinha vez,
era flor que num se rega.
IX
Pra sarvá sua menina,
a mãe dela autorizô,
um aborto, e a Medicina
pela lei se abalizô.
E o arcebispo de Deus,
se esqueceno inté dos seus,
aos dotô excomungô.
X
Pra piorá toda a história,
o arcebispo aloprado
espalhou pra toda a escória,
num ato despreparado,
que ao hômi perdoô,
vai pro céu o estupradô,
e a criança leva o fardo.
XI
O Papa, intão, se meteu,
onde nunca foi chamado,
bem pior que muito ateu,
Ratificô o pecado.
Assim o povo intendeu:
aleluia ao que comeu,
vade retro o deflorado!
XII
O padrasto virô santo,
mas foi preso pelos hômi.
Vai cunhecê desencanto,
na cadeia passá fômi.
O fortão é mesmo o tal:
mata a cobra e mostra o pau,
quero vê como se iscôndi.
XIII
Lá na penitenciária
sua fama correu chão,
e se a pena é temporária,
eterna é a recordação!
Os companheiro sapeca
vão fazê dele boneca,
arrebentá c’o machão!
XIV
Adispois do cunvercê
num intende quem num qué,
tudo isso, um merdelê,
bem no Dia da Muié!
Tá na hora de ir à luta,
num deixá filho da fruta
colocá tudo a perdê!
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Lili Maial
I
Tava lendo o meu jorná,
procurano um apartamento,
quando vejo destacá,
a notícia de um jumento,
homi santo, ora veja,
representante da Igreja,
pro meu descontentamento.
II
O cabra mandô dizê
pra todo mundo iscutá,
que nunca mais vai benzê,
pramodi excomungá,
a mãe da pobre criança
que, cum tanta insegurança,
num sabia o que falá.
III
Essa pobre garotinha,
cumpletano os nove ano,
uma jovem andorinha,
convivendo c’um insano,
conheceu o sofrimento,
calada e sem um alento,
suportô o desengano.
IV
Desde os seis ano de idade,
o padrasto a molestava,
fazia tanta maldade,
e a menina num contava,
com medo da mãe morrê,
e o cabra se enfurecê,
a pobrezinha chorava.
V
Quando, então, veio o seu chico,
sem de nada entendê,
num sabia do perigo
que pudia acontecê,
e teve dor de barriga,
pensano que era lumbriga,
a mãe foi pagá pra vê.
VI
Levou a pobre ao dotô
que indepois de inzaminá,
num se continha de horrô,
num sabia o que falá,
disparô o seu cartucho:
tem dois neném nesse bucho!
E viu a mãe dismaiá.
VII
Cumo pode, seu dotô?
Ela vive presa em casa!
Só se aquele gigolô
arresorveu mandá brasa!
E agora, o que vai sê?
Minha fia vai morrê?
Tamo na faixa de Gaza!
VIII
O dotô, ainda em choque,
chamou os otro colega,
que trouxeram a reboque,
um dotô da Noruega,
e viram que gravidez
no corpo num tinha vez,
era flor que num se rega.
IX
Pra sarvá sua menina,
a mãe dela autorizô,
um aborto, e a Medicina
pela lei se abalizô.
E o arcebispo de Deus,
se esqueceno inté dos seus,
aos dotô excomungô.
X
Pra piorá toda a história,
o arcebispo aloprado
espalhou pra toda a escória,
num ato despreparado,
que ao hômi perdoô,
vai pro céu o estupradô,
e a criança leva o fardo.
XI
O Papa, intão, se meteu,
onde nunca foi chamado,
bem pior que muito ateu,
Ratificô o pecado.
Assim o povo intendeu:
aleluia ao que comeu,
vade retro o deflorado!
XII
O padrasto virô santo,
mas foi preso pelos hômi.
Vai cunhecê desencanto,
na cadeia passá fômi.
O fortão é mesmo o tal:
mata a cobra e mostra o pau,
quero vê como se iscôndi.
XIII
Lá na penitenciária
sua fama correu chão,
e se a pena é temporária,
eterna é a recordação!
Os companheiro sapeca
vão fazê dele boneca,
arrebentá c’o machão!
XIV
Adispois do cunvercê
num intende quem num qué,
tudo isso, um merdelê,
bem no Dia da Muié!
Tá na hora de ir à luta,
num deixá filho da fruta
colocá tudo a perdê!
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