A contaminação da capital

Nunca agüentei desaforo algum

E num ia ser logo naquele dia...

Sou cabra macho, da gota serena,

Benzido pela parteira D. Maria...

Num sou homem de provocação,

Quando isso acontece viro o cão,

Fico doido e num agüento arrelia

Tenho raiva mesmo é de xibungo,

Bicho metido a besta, espertalhão,

Que acha que é o dono do mundo

E sabe tudo, inclusive de diversão,

Vem com conversinha fora de hora

Chega posudo, malicioso na prosa,

Querendo se crescer aqui no sertão

Começa a conversar cheio da gíria,

Num vou nem contar a vestimenta,

Vem da capital apinhado de malicia,

Com uma ruma de brinco na venta,

As calças frouxas igual a um saco,

Um boné inflável, igual a um sapo,

Arrumando um ponto, ali na venda.

E pra encurtar de vez essa conversa,

Esse abestado apareceu aqui ontonte

Vindo da capital, doido pra se instalar,

Disse: Mané, aqui vou fazer a ponte!

Umas idéias erradas, meio esquisito,

Percebi logo a intenção do maldito,

E aí eu me aperreei, virei rinoceronte.

Peguei de jeito o carcará pela argola,

Dei um solavanco no filho de jumenta,

Disse umas verdades aquele marmota,

Que sertanejo num usa coisa nojenta,

Viver no campo é saudável, sem tédio,

Num carece usar droga e nem remédio

Por isso toma teu rumo e num inventa.

Sérgio Russolini
Enviado por Sérgio Russolini em 05/03/2009
Reeditado em 17/08/2022
Código do texto: T1470744
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