Sexto sentido ( Menção ao Texto "Cheiro de safadeza no ar" de Tarcísio)
Era cega a velha dama!
Enxergava pelo ouvido,
pois via qualquer ruído
até dum lençol na cama.
Fosse uma boca na mama,
o abrir duma braguilha,
o roçar duma forquilha,
o bulinar duma mão...
Lá se ia, em oração,
soletrando o Cê cedilha.
Rezava pela cartilha
do padre Romão Batista,
desde que perdera a vista
no chifre duma novilha.
Soletrava, em redondilha,
o missal do Padrim Ciço
e firmava compromisso
com os seus ensinamentos;
bania os maus pensamentos,
que logo dava sumiço.
E talvez por causa disso
mais aguçou os ouvidos;
alijou seus "possuídos"
e logo perdeu o viço.
Valei-me meu padrim Ciço...
Quase sempre repetia
quando algo acontecia
que lhe ferisse o pudor...
Assim levava o andor
como a vida lhe pedia.
Era, a Tia Maria,
-como era conhecida-
cuidava toda comida
da gente e da montaria,
trabalhando dia à dia
nas providências do lar,
mas não deixava passar
um nada, despercebido,
lá estava o seu ouvido
no ponto pra escutar.
Pois agora vou narrar
em redondilha maior.
A estória eu sei de cor,
mas careço anunciar.
Ouvi Tarcísio contar
bem antes deste cordel.
Deixo pra ele o cartel,
por ser dele a criação,
mas, pelo sim pelo não,
mando tinta no papel:
"O quarto de dona Irene
era mijo amanhecido!"
Também cheirava a libido
de mulher sem higiene.
O odor era perene,
dia e noite, noite e dia,
fazendo tia Maria
praguejar indignada,
xingando cada mijada
que dona Irene vertia.
Apesar da arrelia,
ela fazia o serviço
orando pra padrim Ciço,
como sempre ela fazia.
—Inda pego essa vadia!
Saía balbuciando...
—Se te pego, desgraçada,
te enfio no penico
te meto mijo no bico
e tolete na rabada".
(Essa estória foi contada
por Tarcísio Zacarias)
Amigo de confraria
e das linha mau traçada.
Cabra de verve afiada,
poeta de muita arte
a quem eu, modéstia à parte,
pretendo interpelar,
como se pode explicar
que uma velha quase cega
ouve, aspira e enxerga
a safadeza no ar.
Era cega a velha dama!
Enxergava pelo ouvido,
pois via qualquer ruído
até dum lençol na cama.
Fosse uma boca na mama,
o abrir duma braguilha,
o roçar duma forquilha,
o bulinar duma mão...
Lá se ia, em oração,
soletrando o Cê cedilha.
Rezava pela cartilha
do padre Romão Batista,
desde que perdera a vista
no chifre duma novilha.
Soletrava, em redondilha,
o missal do Padrim Ciço
e firmava compromisso
com os seus ensinamentos;
bania os maus pensamentos,
que logo dava sumiço.
E talvez por causa disso
mais aguçou os ouvidos;
alijou seus "possuídos"
e logo perdeu o viço.
Valei-me meu padrim Ciço...
Quase sempre repetia
quando algo acontecia
que lhe ferisse o pudor...
Assim levava o andor
como a vida lhe pedia.
Era, a Tia Maria,
-como era conhecida-
cuidava toda comida
da gente e da montaria,
trabalhando dia à dia
nas providências do lar,
mas não deixava passar
um nada, despercebido,
lá estava o seu ouvido
no ponto pra escutar.
Pois agora vou narrar
em redondilha maior.
A estória eu sei de cor,
mas careço anunciar.
Ouvi Tarcísio contar
bem antes deste cordel.
Deixo pra ele o cartel,
por ser dele a criação,
mas, pelo sim pelo não,
mando tinta no papel:
"O quarto de dona Irene
era mijo amanhecido!"
Também cheirava a libido
de mulher sem higiene.
O odor era perene,
dia e noite, noite e dia,
fazendo tia Maria
praguejar indignada,
xingando cada mijada
que dona Irene vertia.
Apesar da arrelia,
ela fazia o serviço
orando pra padrim Ciço,
como sempre ela fazia.
—Inda pego essa vadia!
Saía balbuciando...
—Se te pego, desgraçada,
te enfio no penico
te meto mijo no bico
e tolete na rabada".
(Essa estória foi contada
por Tarcísio Zacarias)
Amigo de confraria
e das linha mau traçada.
Cabra de verve afiada,
poeta de muita arte
a quem eu, modéstia à parte,
pretendo interpelar,
como se pode explicar
que uma velha quase cega
ouve, aspira e enxerga
a safadeza no ar.