EU MATO ESSA MURIÇOCA!

A muriçoca atrevida,
cabisbaixa lá no teto,
esperava uma só chance
p'ra de mim chegar mais perto,
mas resolvi lhe por um fim
nem que fosse por decreto

Suas antenas tremulavam
demonstrando excitação,
e já decerto planejava
em mim fazer transfusão
mas eu fiquei preparado
para lhe dar uma lição

Peguei de uma almofada
e quis lhe dar tiro certeiro,
na ânsia de vê-la morrendo
num suspiro derradeiro
engolida por um sapo,
que chegasse sorrateiro


Ela, a nojenta matreira?
Muito mais rápida que um raio
quase me deu uma rasteira
e por muito pouco eu não caio,
zuniu perto do meu ouvido
como gritando "daqui não saio"

De almofada em riste,
correndo atrapalhado,
esbarrando pelos móveis
já o cabelo desgrenhado,
eu urrava feito leão
com um dente arrancado

Ela ziguezagueava
com seu modo atrevido,
parecendo uma bala
disparada por bandido,
eu no encalço da danada
todo sem jeito, perdido

Desistir, contudo, jamais!
Pois nenhuma muriçoca
por mais faceira que seja
faz comigo troca-troca
só para me baratinar
ou me por numa taboca


Então, tentei me acalmar,
desacelerar o coração
e esperar que a tal pousasse
na parede ou pelo chão
e com toda força que tenho
dar-lhe um baita bofetão


Mas desses bem desferidos
que deixa o gajo acabado,
sem tempo de espernear,
p'ro caixão já preparado
a mortalha toda prontinha
e o paletó abotoado


Ela deu vôos rasantes,
planou sonsa, devagarinho,
passou perto do meu rosto
e ouvi alto o seu risinho,
só depois, tranquilamente,
regressou ao seu cantinho

De cabeça para baixo
acomodou-se a safada,
talvez esperando a hora
de me dar outra picada
sugando parte do meu sangue,
refeição apreciada


Num repentino safanão
joguei a arma que tinha
acertando-a bem de cheio
com a minha almofadinha,
sendo pega de surpresa
el'agora era minha!

A muriçoca disgramada
caiu trêmula e desmaiou,
me aproximei bem dela,
eu a olhei, ela me olhou,
soltei um riso escarninho
e logo a batalha terminou

Tirei a sandália do pé
ela viu, tentou mover-se,
mas de nada adiantou
evitar que eu vencesse,
foi tão forte a chinelada,
impossível escafeder-se


Apenas num risco preto
ela ficou transformada,
eu bati com tanta força
que ela ficou esmagada,
então me vi todo feliz
com o fim da desgraçada
Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 03/03/2009
Reeditado em 03/03/2009
Código do texto: T1466338
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