“E Se Tu Fosse?”
Uma Cantoria Interessante!
Compadre Lemos
Uma roda de Cantadores, cada um com sua viola na mão e sua mente privilegiada,sua espantosa agilidade de raciocínio e sua enorme dose de bom-humor.
De Repente, um deles pergunta:
-- Compadre, e se tu fosse...???
Aí, começa!
É o Estlo de Cantoria denominado “E Se Tu Fosse?”, muito popular em algumas regiões dos estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, do Norte e Goiás.
O Cantador que está mais próximo daquele que perguntou responde, em Décimas de Sete Pés, como ele seria, se ele fosse o objeto da pergunta.
Se a resposta é aceita, todos aplaudem. Se não é aceita, o cantador que tentou responder é excluído da roda.
O Cantador que respondeu satisfatoriamente à pergunta, - tanto no sentido quando nas exigências do estilo - adquire o direito de fazer a pergunta seguinte ao próximo cantador.
E, assim, a "brincadeira" prossegue noite a dentro, até que só restem dois cantadores. Destes, o que conseguir excluir o adversário será o vencedor.
E a coisa fica mais ou menos assim:
-- Compadre... e se tu fosse o Papa?
Compadre, se eu fosse o Papa,
Falo com todo respeito:
Eu, correndo, dava um jeito
De refazer nosso mapa!
E, de etapa em etapa,
Eu faria a união
Do Católico, nosso irmão,
Com o Crente, que é irmão nosso!
Pois só desse jeito eu posso
Dizer que o mundo é Cristão!...
-- E se tu fosse Lampião?
Se eu fosse Lampião,
Eu mudava era a Política.
Minha gente, tão raquítica,
Ia sempre ter razão!
Do rico, tomava o pão,
Ao pobre eu dava a escola,
Ao cantador, a viola,
Ao poeta, a liberdade!
No Sertão, a Caridade
Nunca mais virava esmola!...
-- E se tu fosse um Profeta?
Apois, se eu fosse um Profeta,
Eu faria a previsão:
Novos tempos bons virão
O Amor cumprindo a meta!
A Poesia mais seleta
Será o nosso Repente!
Repentista inteligente
Vai ganhar a Eleição,
Dirigir nossa Nação,
No cargo de Presidente!...
-- E se tu fosse Deus?
Compadre, quem somos nós,
Pra responder à questão?
É tamanha a inibição
Que se cala, a minha voz!
Pesando contras e prós,
Sem querer ser descortês,
Apelo pra sensatez
Da resposta que alivia:
Se eu fosse Ele, eu faria
Do jeitinho que Ele fez!...
-- E se tu fosse um Governador?
Se eu fosse Governador,
Fosse qual fosse o Estado,
Já estaria decretado:
"A Lei Maior é o Amor"!
Buscaria dar valor
Ao sentimento fraterno
Aposentaria o terno!
E no Amor investiria...
Pra isso, eu só pediria
Ajuda do Pai Eterno!...
--- E se tu fosse a Primeira Dama do país?
Se eu fosse Dona Mariza,
Cumpriria meu papel:
O Poder era um corcel
Em que eu cavalgaria!
Às favelas eu iria,
Ver de perto minha gente,
Socorrer o indigente,
Em sua necessidade...
Seria, então, de verdade,
Esposa de Presidente!...
-- E se tu fosse Fidel Castro?
Apois se eu fosse Fidel,
Eu tirava aquela farda,
Dispensava minha guarda
E escrevia um Cordel.
Contaria, no papel,
A História da Liberdade,
Abria Cuba à amizade
Dos outros povos do mundo...
E faria, em um segundo,
O que o povo tem vontade!
-- E se tu fosse Adolf Hitler?
Ah, Compadre, fosse eu
O Ditador Alemão,
Abrandava o coração
Pra não dar o que se deu!
Não matava um só Judeu
Ao contrário: eu amparava,
Acolhia e abrigava
A todos, com meu poder!
Pra, depois, não padecer,
O sofrer eu evitava!
-- E se tu fosse o Rio São Francisco?
Ah, se eu fosse o Velho Chico,
Corria manso demais!
No Nordeste e nas Gerais
Fazendo o povo mais rico!
Mas não pagaria o mico
Dessa tal Transposição,
Pois o Autor da Criação
O que fez, fez com saber...
Só pedia pra correr,
Com menos poluição!
-- E se tu fosse Meu Padin Pade Ciço Rumão Batista?
Se eu fosse o Padin Ciço,
A meu povo eu diria:
Busque mais a alegria
Não tema nenhum feitiço.
Não faça como o omisso,
Que cruza os braços e vai
Por que, na frente, ele cai,
Vencido pelo sofrer...
Não podemos esquecer
Que, de todos, Deus é Pai.
-- E se tu fosse uma nuvem? (resposta em duas estrofes )
Posso não passar no teste,
Mas sendo nuvem, eu iria,
Sem esperar mais um dia,
Fazer chover no Nordeste!
Pra ver os cabra da peste
Amolar suas enxadas,
Ver sementes bem plantadas,
Em covas de esperança,
Ver sorriso de criança
Nas faces, já tão cansadas!..
Colheitas abençoadas
O Nordeste então teria!
E noites de Cantoria,
Em festas muito animadas,
As famílias sustentadas,
O pasto verde, pro gado,
O sofrer recompensado
Viola, pinga e repente...
Se eu fosse nuvem, gente,
Eu fazia o "chão molhado!..."
-- E se tu fosse uma montanha?
Pois se eu fosse uma montanha,
Se verde nela tivesse,
Se paz, na vida, eu quisesse,
Já que a paz nunca se ganha...
Eu faria uma campanha
Em prol da Preservação:
-- Homem, preste atenção,
Seu acesso é proibido!
Pois fica, então decidido:
Pra você, tem lugar não!...
-- E se tu fosse um Pastor?
Um Pastor, se eu fosse, um dia,
Isso ia depender
Das ovelhas que ia ter
Pastoreando, eu seguia:
Animais, eu cuidaria
Com zelo, com atenção.
As da Igreja, um sermão
Todo dia iam ganhar
Para nunca se afastar
Do Reino da Salvação!
-- E se tu fosse um anjo?
Se eu fosse um anjo eu seria
O tal "Anjo do Repente",
A intuição permanente
Numa boa Cantoria!
Aos poetas eu daria
A Santa Inspiração
Pra verso, mote e refrão,
Ajudando ao cantador
Cantar a paz e o amor,
Com as rimas do coração!...
-- E se tu fosse a Acauã???
Ah, se eu fosse a acauã,
Processava Gonzagão
Mais Zé Dantas, sem perdão
Embora sendo seu fã.
Já se viu, ô minha irmã,
Difamar a gente assim?
Dizer que sou tão ruim
Que levo a seca ao Nordeste?
Calúnia filha da peste!...
Nela eu botava um fim!
-- E se tu fosse João Grilo?
Ah, pois se eu fosse João Grilo,
Voltava lá pra fazenda
Punha logo ela à venda
Pra contar dinheiro a quilo!
Ficava muito tranqüilo,
Com a filha do Coronel
Só cumprindo o meu papel
De marido "dedicado",
Deixava a Chicó o pesado,
E eu só fazendo Cordel!...
-- E se tu fosse George Bush?
Se Bush eu fosse, hoje em dia,
Buscava arrependimento
Por ter sido truculento
E guerrear quem não devia!
Perdão ao mundo eu pedia,
Pra não haver descaminho,
Ficava bem quietinho
E, finalmente, eu lhe digo:
Sendo o Bush, meu amigo,
Eu saía é de fininho!...
-- E se tu fosse uma frase?
Se eu fosse frase, seria
Uma que fosse de luz,
Que, deixada por Jesus,
Só pela paz clamaria!
Peço perdão da ousadia
Mas a frase aqui vai.
Quando ela do peito sai,
A verdade está presente
Eu seria, simplesmente...
"Uns aos outros, vos amai!..."
-- E se tu fosse uma pergunta?
Pois, ói, Compadre, se eu fosse
Uma pergunta, somente,
Eu seria inteligente,
Muito terna e muito doce:
Perguntaria: "Quem trouxe
O amor pra Terra, de vez?"
Pois sei que Esse Cabra fez
Foi um dilúvio de luz...
Responderiam "-- Jesus!..."
Com humildade e honradez!...
-- E se tu fosse um carcará?
Se eu fosse um carcará,
Voava, buscando a presa,
Pois é pela Natureza
Que determinado está.
Do alto de um baobá,
Divisava o mundo inteiro.
Meu vôo reto e certeiro
Seria fruto do instinto...
Assim eu falo e não minto,
Carcará belo e ligeiro!...
-- E se tu fosse um suspiro?
Compadre, seja bem-vindo
À Casa da Poesia!
Seu verso traga a harmonia
Entre todos, dividindo!
O espaço vai se abrindo
Para o mote inusitado
Não posso ficar calado
Ante pergunta tão doce...
Pois se um suspiro eu fosse,
Eu seria apaixonado!
-- E se tu fosse um mudo?
Se eu fosse mudo, Senhor,
Não se ouviria um lamento,
Pois todo o meu sentimento
No papel iria por!
Também no computador
Deixaria, a todo instante,
Meu verso fino, elegante,
Para quem quisesse ler...
Teria, então, o prazer
De ser um "mudo falante"!...
-- E se tu fosse uma emissora de televisão?
Sendo TV, eu queria
Só mostrar o que é belo!
Batia logo o martelo,
Expulsando a baixaria!
Não tinha pornografia
Vendida como "cultura".
Com carinho, com doçura
Entraria no seu lar,
Lutando por respeitar
A decência e a candura!
-- E se tu fosse um dicionário?
Eu seria um dicionário,
Mas não teria sinônimos.
Só mostraria os antônimos,
Como a "fome" e o "salário".
Como o "honesto" e o "otário",
Ou, talvez, "ternura" e "dor"
"Amizade" e "desamor"
"Desemprego" e "esperança"
"Pedofilia" e "criança",
"Indiferença" e "amor".
-- E se tu fosse um celular?
Se eu fosse um celular,
Eu me auto-desligaria!
Em paz, enfim, deixaria
O homem, pra contemplar
A Natureza e rezar,
No silêncio interior,
Pedindo a Nosso senhor
A paz e o recolhimento
Necessários, no momento,
Pro renascer do Amor!...
-- E se tu fosse um vaga-lume?
Mas eu sou um vaga-lume
Nesses prados de Poesia!
Levo luz, levo alegria,
A tradição e o costume!
Ninguém fique com ciúme
Por causa do que eu falei:
Essa luz eu levarei
A todos, alegremente,
Enquanto eu for um vivente,
Nas graças do Grande Rei!...
-- E se tu fosse uma porta?
Eu seria uma porteira
Aberta pra liberdade!
Unindo campo e cidade,
Derrubaria a fronteira.
E, sem haver mais barreira,
A gente se entenderia.
Era Rock e Cantoria
Irmanando nossa gente!
Era o Rapp, era o Repente,
Em nome da Alegria!...
-- E se tu fosse um rato?
Se eu fosse um rato, eu vivia
Cumprindo a obrigação
No esgoto ou no porão
A sujeira eu destruía.
Tudo o que visse, eu comia,
Acabando com o lixo,
Pois, na vida, cada bicho
Tem sua meta traçada!
A Natureza, danada,
Agiu com muito capricho!
-- E se tu fosse um teclado?
Vai depender do teclado
Que eu ia ser pra você:
Se fosse um de PC,
Digitar era meu fado!
Queria ser bem usado,
Pra não causar qualquer mal.
Mas, se fosse o musical,
Modinhas ia tocar,
Pra poder te conquistar
Com meu som angelical!
E se tu fosse uma escaleta? ( instrumento de sopro ).
Se eu fosse uma escaleta
Teria que ter cuidado
Pois esse nome, rimado,
Faz a coisa ficar preta!
Eu saía da gaveta
Para o mundo alegrar.
Se alguém soubesse tocar
Alegremente, eu servia,
Espalhando a harmonia,
Para o mundo se encantar!
E se tu fosse Pelé?
Amigo, eu, sendo Pelé,
Faria tudo igualzinho:
Mostraria o bom caminho
Sem jamais perder a fé!
Sem pinga, fumo ou rapé,
Um bom exemplo eu daria
À juventude eu diria:
"Todo esforço vale a glória"
Deixar meu nome na História,
Por fim, eu conseguiria!!!
-- E se tu fosse um Terço? ( Rosário )
Se eu fosse um terço eu seria
Aquele, o especial.
De presente, no Natal,
Seria dado a Maria.
E ela, no dia a dia,
Me teria entre os dedos,
Só para afastar os medos
Rezaria com fervor
E eu, nas mãos do meu amor,
Ouvindo, enfim, seus segredos!...
-- E se tu fosse um cantor?
Apois, se eu fosse um cantor
Da Música Brasileira,
Cantava Mulher Rendeira,
Ao simples dava valor!
Mas Rock, nem por favor,
Só Baião, Xote e Xaxado!
Ou mesmo um Samba, arretado,
Pra louvar a Tradição.
Pois Cultura, meu irmão,
É o meu caminho traçado!
-- E se tu fosse uma tesoura?
Tesoura corta e recorta,
Eu também já cortaria
Do Poder, a mordomia,
Pois ser justo é o que importa!
Cortaria a idéia torta
De sermos tão diferentes.
E mil sacos de sementes
Cortaria, pra plantar,
Pois a chuva Deus vai dar,
Já cantei, nos meus repentes!
-- E se tu fosse um urubu?
Compadre, mas que pergunta!...
Pois, se eu fosse um urubu,
Morresse paca ou tatu,
Seria aquele que ajunta.
Eu falo e você assunta:
Carniça não sobraria!
A limpeza eu já faria,
Cumprindo minha missão,
Que foi determinação
Da Divina Maestria!...
-- E se tu fosse um soldado francês?
Cumpria minha missão,
Bem perto da Torre Eiffel
E lá, faria Cordel
Em Francês, com emoção!
A Arte não tem nação,
O verso é universal.
Soldado, por ideal,
E poeta por destino,
Seria um homem-menino
Armado, mas fraternal!
-- E se tu fosse uma bolsa de mulher?
Pó de arroz, rouge, baton,
Celular e caderneta,
Perfume, lápis, caneta,
Esmalte, base, creyon.
Chiclete, bala, bombom,
É tudo o que ela quer!
A mais chique "necessér"
Que de Paris alguém trouxe...
Eu seria, se eu fosse
Uma bolsa de mulher!
-- E se tu fosse um mago?
Ia fazer da Magia
A mais pura realidade:
O ódio em fraternidade
Eu logo transformaria!
O caos virava harmonia,
Poesia, um grito de paz!
Mostraria o que se faz,
Quando não se é descrente,
No trabalho diligente,
Sendo bom, sério e capaz!
-- E se tu fosse uma sucata?
Pois se eu fosse uma sucata,
Queria ser reciclável.
Assim, seria provável
Que minha vida pacata
Virasse um balde de lata,
Ou uma colcha de retalho,
Calçamento de cascalho,
Ou brinquedo consertado.
Não ia é ficar parado,
Quando há tanto trabalho!...
-- E se tu fosse um telefone?
-- Alô, alô, meu amigo,
Nunca perca a esperança!
Não deixe de ser criança,
Mas não procure o perigo!
A ninguém negue o abrigo,
Pois a vida é um ciclone.
Ao doente ou ao insone,
Seja cura e seja guia...
Era tudo o que eu diria
Se eu fosse um telefone!
-- E se tu fosse um caminhão?
Comapdre, vou lhe dizer:
Se eu fosse um caminhão,
Não seria o do Faustão,
Que ilusões quer vender.
Gostaria mais de ser
Um bom palco itinerante,
Pra mostrar, a todo instante,
O Cordel pra minha gente!
Cantoria e bom repente,
Pra mim, já era o bastante!...
E se tu fosse um cavalo?
Ah!... eu era a montaria
Daquele Santo da lua!
O Dragão, a fera nua,
Ao meu tropel, tremeria!
Ah!... eu era a valentia,
Transportando outro valente:
São Jorge, lugar-tenente
De Deus, por todo o universo!
Não tinha tempo adverso
Na luta e nem no Repente!
-- E se tu fosse uma data?
Como data, era o primeiro
Dia de um Ano Novo!
A esperança de um povo,
Saúde, vida, dinheiro!
Afinava meu pandeiro,
Já prevendo o Carnaval!
Sem esquecer o Natal,
Que passou, mas é eterno!
Dia belo, calmo e terno,
Para o Bem vencer o mal!
-- E se tu fosse uma mãe, revendo o filho?
Antes de abraçar o filho,
Antes do beijo na mão,
Meu joelho ia ao chão,
Em meus olhos, novo brilho!
A Meu Deus, num estribilho,
Eu diria: "Obrigado!...
Pois meu filho muito amado
Pude ver, uma vez mais!"
Ao Pai de Todos os Pais,
Meu louvor era sagrado!
-- E se tu fosse um náufrago?
Se eu tivesse naufragado,
Sozinho não estaria:
Pois, comigo, a Poesia
Andaria lado a lado.
Deixaria registrado,
Em versos de bom Cordel,
O meu destino cruel,
Pra toda a Posteridade!
E, sem faltar com a verdade,
Cumpriria o meu papel!
-- E se tu fosse uma dor?
Não seria a dor de dente
E nem a dor de barriga.
Nem a dor de uma intriga,
Nem da pele, no sol quente!
Eu seria a dor pungente
Da saudade seresteira,
Da viola brasileira,
Chorando em noite de lua!
Dor minha, saudade tua,
Nesta vida aventureira!
-- E se tu fosse um vigilante de banco?
Se eu fosse o vigilante
De um banco nacional,
Com todo o meu arsenal,
Faria como a Volante:
Eu prendia o meliante
E soltava o inocente.
Pra aquele que rouba a gente,
A cadeia, o endereço.
Ao inocente, o apreço,
Liberdade, simplesmente!
-- E se tu fosse uma agenda?
Sendo uma das agendas,
Marcaria os feriados:
O Dia dos Libertados,
O Dia das Oferendas,
O Dia das Nossas Lendas,
O Dia do Violeiro,
O Dia do Brasileiro,
O Dia da Poesia,
Assim, eu sei que haveria
Feriado, o ano inteiro!
-- E se tu fosse um livro?
Certamente, de Poesia,
Magia e encantamento!
Contendo o amor, sentimento
Que consola a alma fria!
Se eu fosse um livro eu seria
Um testemunho de fé.
Seria lido de pé
Para o povo do Sertão!
Meu autor seria, então,
Patativa do Assaré!
-- E se tu fosse Barack Obama?
Na terra do Tio Sam,
Negro nunca teve vez!
Mas, se fosse branca a tez,
Ele era o bam-bam-bam!
Seu pai, sua mãe, sua irmã
Não pisariam na lama
Seria grande sua fama,
Um herói se tornaria...
Com o Racismo acabaria,
Se eu fosse Barack Obama!...
-- E se tu fosse Deus, por um dia?
Eu faria revisão
Nas línguas todas, do mundo!
E, nisso, eu ia fundo,
Pra apagar aberração:
Cortava "corrupção"
Apagava "medo" e "dor",
Mandava embora o "temor"
Deletava a "covardia"
Se eu fosse Deus, por um dia,
Deixava somente AMOR.
-- E se tu fosse um projeto?
Pois se eu fosse um projeto,
Seria o "Projeto Paz".
Acho que mundo é capaz
De deixar o canhão quieto!
Seguia o caminho reto
Do encontro mais fraterno.
Um abraço quente e terno
Ao irmão já livraria
A Terra, no dia-a-dia,
Da guerra, o pior inferno!
-- E se tu fosse uma avenida?
Se uma avenida eu fosse,
Seria Avenida Amor,
Esquina com Rua Flor,
Paralela com a Doce.
Carteiro que a carta trouxe
Ganharia um caramelo.
E velhinhos, de chinelo,
Andariam devagar...
Carros não iam passar
No meu chão verde amarelo!!!
-- E se tu fosse um meteorito?
Se eu fosse um meteorito
Eu caía aqui na Terra,
Bem no meio de uma guerra,
Para acabar com o conflito.
Soldado soltava grito
De espanto, de pavor,
Ao ver a palavra "AMOR"
Esculpida na cratera
Então a guerra já era,
Sem machucar uma flor!..
-- E se tu fosse o amor?
Comadre, se eu fosse o Amor,
Era pelos pequeninos:
As meninas, os meninos
Que, novos, já sentem dor.
Talvez fosse um professor
Que ensinasse o caminho
De crescer, mesmo sozinho,
Sem pegar caminho errado...
Sem cobrar tostão furado,
Seria, deles, o ninho!
-- E se tu fosse um malabarista?
Seu eu fosse malabarista,
Tinha três coisas na mão:
Coragem, Fé e Decisão,
Sem perder o Amor de vista!
Coragem de Repentista,
Fé em Deus, principalmente,
E a Decisão urgente
De plantar, seja onde for,
A semente do Amor,
Pra ver o mundo contente!
-- E se tu fosse um anão?
Anão, só de estatura,
Mas de alma era gigante!
Levava o Cordel avante,
Cantava nossa cultura!
Difícil, nessa aventura,
Era o braço da viola,
Que, de enorme bitola,
Atrapalhava um pouquinho...
Por isso, um bom cavaquinho
Eu levava, na sacola!!!
-- E se tu fosse um folheto de cordel?
Pois um livro eu não seria,
Não é esse o meu papel!
Um Folheto de Cordel
É o que me satisfaria!
Era "O Amor de Maria
Pelo Escravo Cantador"
"Romance de Espinho e Flor"
"Genival e Esmeraldina"
"João Pobre Mestre Carpina",
Ou "As Penas de Um Doutor".
-- E se tu fosse a temperança?
Sendo eu a Temperança,
Não brigava com ninguém!
Não tinha gula, também,
Nem pensaria em vingança!
Nem o doce da criança
Por Deus, eu não roubaria!
Agüentava até Maria,
Com o eterno falatório...
Dormiria no escritório,
E pinga não beberia!!!
-- E se tu fosse a Razão?
Apois, se eu fosse a Razão,
Só me daria a quem tem.
E, sem excluir ninguém,
Ao aflito dava a mão!
Não tolerava o ladrão,
O ingrato, o malfazejo,
Mas amparava o andejo,
Iluminando o caminho...
Saía do pergaminho,
Realizava o desejo!
-- E se tu fosse um santo?
Compadre, se eu fosse um "santo",
Eu seria excomungado!
Do céu seria enxotado,
Pra aprontar em outro canto!
Nem o inferno, no entanto,
Agüentaria esse "tôco".
O Demo me dava um soco,
Só pra ver se eu sumia...
Porque, Compadre, eu seria
Um Santinho do Pau Ôco"
E se tu fosse um prisioneiro da Base de Guatánamo?
Guatá... o quê?... Ora essa!...
Sei lá onde fica isso!
Mas teria o compromisso
De fugir de lá, depressa!
Ficar preso me estressa,
Eu nasci pra liberdade,
Pra cantar bem à vontade
Com poetas de valor!
Pra ser livre e ter amor,
Sem saber o que é saudade!...
E se tu fosse um riacho?
Compadre, sabe o que eu acho?
Eu correria é pra cima!
Pois coisa que desanima
É descer, como um riacho.
Agüentaria esculacho
Dos rios conservadores,
Que descem, levando dores,
Pra jogar dentro do mar.
Não sei onde ia parar,
Mas não teria "senhores"!!!
-- E se tu fosse uma sentinela?
A Comadre, eu senti nela
Vontade de me vencer.
A postos, eu ia ver
Sua luz, feito uma vela!
Como boa sentinela
Eu gritava: - Quem vem lá???
E, depois, rá tá tá tá,
Eu atirava no escuro...
Comadre, detrás do muro:
Já cantava o Saravá!...
-- E se tu fosse a Justiça?
Pois se eu fosse a Justiça
Justiçava o "justiceiro"
Condenava o cangaceiro,
"Cabava cum as Mundiça"
Prendia aquele que atiça
A guerra, roubando a paz!
Ninguém seria capaz
De alterar minha balança!
Entrava tudo na dança,
Ladrão, ladino e sagaz!!!
-- E se tu fosse Euclides da Cunha?
"Os Sertões" reescreveria,
Sem gastar muito papel,
Pois o faria em Cordel,
E os folhetos eu daria
Nas feiras da Freguesia,
De Cantagalo, sua terra,
Contando, em versos, a guerra
De Antônio Conselheiro
Que foi um bom brasileiro,
Cabra macho, pé de serra!!!
-- E se tu fosse o planeta Urano?
Urano é um belo planeta,
Pois "urânio" é o elemento.
Nenhum dos dois eu invento,
Para não fazer falseta.
Mas, se me der na veneta,
Eu mudo logo meu plano:
Eu me mudo para Urano,
Para urânio garimpar.
No entanto, se eu gostar,
Eu volto lá todo ano!!!
-- E se tu fosse um sino?
Compadre, se eu fosse um sino,
Avisava todo dia:
A Missa, a Ave-Maria,
Batizado de menino.
Sendo esse o meu destino,
De porre eu nunca ficava,
Por que pendurado estava,
Sempre de boca pra baixo...
Então, nessa, não me encaixo,
Pois, sem um gole, eu secava!!!
-- E se tu fosse um fio?
Comadre, se eu fosse um fio,
Não seria o "Maravilha".
Não seria o irmão da filha,
Nem o começo de um rio!
Aceitando o desafio,
Seria um fio mais fecundo:
Energia ao poço fundo
Dos pobres eu levaria,
Pois eu iluminaria
A escuridão deste mundo!!!
-- E se tu fosse o regente de um coral?
Eu, regente de um coral,
Com os alunos de uma escola,
Ensaiava, na viola,
Tudo o que fosse rural:
Gonzagão, tão genial,
Patativa, inigualável,
Luiz Vieira, notável,
E todos os caipiras,
Xaxados, xotes, catiras,
De valor inestimável!
-- E se tu fosse uma mochila?
Seria de um caminheiro,
Num caminho longo e santo,
Reparando, em todo canto,
O belo chão brasileiro!
Tesouro do mochileiro,
Tinha água fresca e pão,
Pra dividir com o irmão,
Mesmo que houvesse fila...
Se eu fosse uma mochila
Seria a minha missão!
-- E se tu fosse um escorpião?
Eu viveria escondido
Sob as pedras, de vergonha,
Por ter em mim a peçonha
Que a muitos tem ofendido!
Depois de ter refletido,
Chegaria à conclusão:
Jogava fora o ferrão,
E o mal não mais faria...
Era assim, que eu agiria,
Se eu fosse um escorpião!
-- E se tu fosse um calmante?
Ah!... Se eu fosse um calmante,
Daria ao Compadre Lemos.
Pois cada coisa que vemos
Nos irrita a todo instante...
Gente boa e importante,
Rimando "céu" com "Cordel"!!!
Eu, branco, feito papel,
Tenho que agüentar calado...
Só com calmante, coitado,
Eu agüento esse tropel!
-- E se tu fosse um divã?
Pois se eu fosse um divã,
Não seria o do Analista!
Seria de um Repentista,
Que cantasse o amanhã!
Pinel, maluco e tantã,
Passavam longe de mim.
Meu dono seria, assim,
Um poeta visionário
Que, sem ganhar um salário,
Rimava "Paz" com "Bom Fim"!!!
-- E se tu fosse uma garrafa?
Pois eu, sendo uma garrafa,
Pelos mares boiaria!
Alguém me encontraria,
Com bote, rede ou tarrafa!
Lá na Ilha da Girafa,
Um pobre de um marinheiro
Que, durante um ano inteiro,
Pensava: Meu Deus, eu morro!...
Receberia o socorro
De quem chegasse primeiro!!!
-- E se tu fosse um parafuso?
Se eu fosse um parafuso,
Não seria diferente:
Nesta vida exigente
Tá tudo muito confuso.
Por todo canto é abuso,
E quem não deve é cobrado.
O dinheiro é tão minguado
Não dá pra comprar um doce...
Se um parafuso eu fosse...
Eu só vivia apertado!...
-- E se tu fosse um perfume?
Um perfume, sendo eu,
Eu não seria o francês.
Pois esse, eu sei que uma vez,
Um tal de Conde já Deu!
Perfume, pra ser o meu,
Só era o dessas campinas,
Dos belos prados de Minas,
De cravos, lírios ou rosas
Ou das curvas tão cheirosas
Do colo dessas meninas!...
-- E se tu fosse o punhal de Lampião?
( À moda de Zé da Luz )
Apois, si eu sêsse o punhá
Do Capitão Virgulino,
Lá pro céu ia subino,
Ia feito um vendavá!
E lá chegano, afiná,
Si ninguém nun si metesse,
Isperano qui chuvêsse,
Furava o bucho do céu...
Era água pra dedéu!...
Ah, Comade! Ah, si sêsse!!!
-- E se tu fosse o caminhão de Zé da Luz?
Se eu sêsse um caminhão,
Um Fenemê arretado,
Saía, disimbestado,
Levano arrôiz e fejão!
Nas caatinga do Sertão,
Nun tinha mais quem sofrêsse,
Nem qui, de fome, morrêsse,
Pois tudo eu distribuía...
O pôvo, feliz, cumia...
Ah, Cumade... Ah, si eu sêsse!!!
-- E se tu fosse um leão?
Apois, se eu sesse um Lião,
Era o Rei dos Animá!
E um rei é pá mandá,
E dá determinação!
Eu dava as órde, intão,
Caçadô qui aparcêsse
Os ôto lião cumêsse,
Vivinnho, na mêrma hora...
Os osso, jogava fora!
Minha Cumade, há si eu sêsse!!!
-- E se tu fosse o Bom-senso?
Se eu fosse o tal Bom-senso,
Eu diria, com clareza,
Sem duvidar, com certeza,
Exatamente o que eu penso!
Diria, sem ficar tenso,
Que nunca vou prometer
O que não posso fazer
Pra não enganar ninguém!
Só se tira de onde tem,
Se não tem, não pode ser!
-- E se tu fosse a simplicidade?
Se eu fosse a simplicidade
Seria Tião Cirilo!
E o bom Mestre Petronilo
Já sabe que é verdade!
Eu cantaria a bondade
De ser bom, só por ser bom,
Me vestia de marrom,
Sem precisar de mais cores,
Pois bastam algumas flores
Pra vida mudar de tom!
-- E se tu fosse uma tese?
Compadre, se eu fosse "Tese"
Eu mostrava a Teoria.
A todos ensinaria:
"Faça o certo e embeleze"
"Se errar, nunca se enfeze"
"Não gostou, faça outra vez",
"Nunca use Internetês"
Em respeito à Tradição"
E o Cordel, todo emoção,
Cresceria, mês a mês!...
-- E se tu fosse O Presidente Lula?
Pra começar, eu tirava
Aquela barba de "Ché",
Parava de tomar "mé"
E um pouco mais estudava!
Depois, eu me concentrava
Nos problemas do país,
Deixando o povo feliz,
Neste último mandato...
Por fim, tirava o sapato,
Do jeito que eu sempre quis!..
-- E se tu fosse a rampa do Planalto?
Se eu fosse aquela rampa,
Compadre, que maravilha!
De manhã, lá em Brasília,
Eu veria bela estampa:
Pois é ali que acampa
Um bando de Deputada!
E a rampa, ali, deitada,
Só olhando, safadinha,
Se fartando, com as calcinha
De toda a Deputaiada!!!
-- E se tu fosse o poeta Castro Alves?
Se Castro Alves eu fosse,
- O Poeta Condoreiro -,
O bom Povo Brasileiro
Seria um pouco mais doce:
Ao escravo, que nos trouxe
Africanas tradições,
Faria novas canções
Louvando o seu trabalhar!
Ele teria um lugar
Cá em nossos corações!
-- E se tu fosse uma régua escolar quebrada?
Eu não batia em criança
E não media mais nada,
Pois numa régua quebrada
Já se perde a confiança!
Não pesava na balança
Pois esse não é o jogo,
E nem um pinto de gogo
Me faria de poleiro...
Mas, talvez, o cozinheiro
Me atirasse no fogo!...
-- E se tu fosse uma placa de “Proibido...”???
Proibido fofocar,
Proibido não querer,
Proibido entristecer,
Proibido ignorar,
Proibido atrapalhar,
Proibido denegrir,
Proibido se omitir
Proibido ser sozinho.
Pra não proibir tudinho,
Proibido proibir!
-- E se tu fosse Odete Roytmann?
Se eu fosse a tal Odete,
Seria só a caveira,
Pois uma bala certeira,
Com a qual não se compete,
Tocou pra ela o trompete
Dos portais lá do Além.
Morreu sem dizer amém!
Mas, mesmo assim, ganharia,
Pois, a partir desse dia,
Não mais matava ninguém!
-- E se tu fosse o Compadre Lemos?
Se eu fosso o Compadre Lemos
Seria o mesmo que sou.
Alguém que já se encantou
Pelo Cordel que nós temos!
Alguém que, hoje, nós vemos
Lutado por tradições!
Emocionar corações
Seria a minha meta!
Pois sou o mesmo poeta
Destas singelas canções!
...
...
Agradeço a todos os Compadres e Comadres que enviaram as perguntas para serem respondidas, na montagem deste artigo.
Não citarei nomes, por serem muitos e também porque alguns registros se perderam. Mas sou profundamente grato a todos, sem exceção!
Todas as respostas são de autoria do Compadre Lemos.
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