Carne de preá

Foi numa terça-feira, meio-dia,

Igual hoje... Aflição em recordar!

Eu tava capinando na, minha roça

Quando vi meia dúzia de preá

Zanzano bem em minha frente

Roendo míio, friviano os dente

Eu fiquei de butuca, só a espiar.

Chacuaiaram os focinho e veio

Ligeiro bem na minha direção

Foi à conta! Piquei o no meio

O cabo duro do meu enxadão...

Os grandão foi direto pro balai

Pelo tamanho devia ser os pai

Assim comi com angu i feijão

Nu outro dia, capinando de novo,

Escutei uns baruio de choro, mas,

Num era de gente e nem de bicho

Ribuliço que num esqueço jamais

O que era, até hoje, eu num sei,

Só sei que, quando vi mi assustei,

Coisas de chifre... Êtha satanás!

Me inrribei a correr pro essa roça

Sem oiá nem o menos pros lado

Subi fungando de medo na carroça

Quase que morri, traumatizado,

Depois que passou toda correria

E repensando naquela aulivusia

Pensei: Os preazin abandonado!

Chorei porque tinha deixado órfão

E esses pequeno ficaram sem rumo

Eu, com minha consciência pesada,

Recolhi os miúdo triste, moribundo,

A partir daquele dia, virei vegetariano,

Nada de carne... Faz é muitos ano...

Lição que me fez mudar de prumo.

Cordel na voz de Rudinézio, primo interiorano do Russolini.

Sérgio Russolini
Enviado por Sérgio Russolini em 03/02/2009
Reeditado em 31/08/2022
Código do texto: T1419535
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