Carne de preá
Foi numa terça-feira, meio-dia,
Igual hoje... Aflição em recordar!
Eu tava capinando na, minha roça
Quando vi meia dúzia de preá
Zanzano bem em minha frente
Roendo míio, friviano os dente
Eu fiquei de butuca, só a espiar.
Chacuaiaram os focinho e veio
Ligeiro bem na minha direção
Foi à conta! Piquei o no meio
O cabo duro do meu enxadão...
Os grandão foi direto pro balai
Pelo tamanho devia ser os pai
Assim comi com angu i feijão
Nu outro dia, capinando de novo,
Escutei uns baruio de choro, mas,
Num era de gente e nem de bicho
Ribuliço que num esqueço jamais
O que era, até hoje, eu num sei,
Só sei que, quando vi mi assustei,
Coisas de chifre... Êtha satanás!
Me inrribei a correr pro essa roça
Sem oiá nem o menos pros lado
Subi fungando de medo na carroça
Quase que morri, traumatizado,
Depois que passou toda correria
E repensando naquela aulivusia
Pensei: Os preazin abandonado!
Chorei porque tinha deixado órfão
E esses pequeno ficaram sem rumo
Eu, com minha consciência pesada,
Recolhi os miúdo triste, moribundo,
A partir daquele dia, virei vegetariano,
Nada de carne... Faz é muitos ano...
Lição que me fez mudar de prumo.
Cordel na voz de Rudinézio, primo interiorano do Russolini.