O amor que falta me faz,
     e falta no amor que tenho


Não sei se amor foi de fato
ou foi somente aventura
do vulto que me tortura
num pequenino retrato.
Só sei que até hoje trato
de não lembrar. E assim venho
me iludindo, se mantenho
a visão de ousar capaz
o amor que falta me faz
e falta no amor que tenho.

De esquecê-la tenho o intento
porém tento e não consigo.
Tentando esquecê-la sigo,
aventando ao pensamento
para que esqueça o momento
desse desejo ferrenho
que amortece o empenho
da cala do amor fugaz.
O amor que falta me faz
e falta no amor que tenho.

Além dos mares de mim,
ela singrou outros mares,
praias além dos lugares
dos bares antes do fim.
Ditos de reles pasquim,
cenas de mau desempenho
nosso adeus, que me abstenho
de julgar e ver salaz
o amor que falta me faz
e falta no amor que tenho.

Adeus lendas de além-mar,
adeus sombras lusitanas,
anos, meses e semanas
que não consigo olvidar.
Sonhos soltos pelo ar.
Desprezo. Desdém terrenho...
Adeus marulho rouquenho
desse mar que não me traz
o amor que falta me faz
e falta no amor que tenho!

Odir, de passagem domingueira