Fim da linha

Tere Penhabe

No tempo da mocidade,

A gente se esbalda nela,

Vive tudo que é preciso,

Na rua, não da janela.

E busca a felicidade,

Com garra e boa vontade,

Para o azar nunca dá trela.

Fica sócia sem parar,

De tudo que é entidade,

Clube, forró e balada,

Vive com intensidade.

Noite e dia tá no céu,

Porque tem na vida ao léu

Sempre à mão, facilidade.

Depois casa, vem trabalho,

Vai mudando o panorama,

Fica viciada em novela,

E bem cedo já quer cama.

Fazer fogo é jogo duro,

Nesse tempo de maduro,

Não há sopro que dê chama.

Maridão lá no sofá...

De barriga para cima,

Ronca e baba sem parar,

Desnorteia até o clima.

Tem mulher que se desvia,

Lá na internet se enfia,

E despenca a fazer rima.

Toma gosto pela coisa,

Nem quer mais ir pra cozinha,

E vai daqui, vai dali,

Quando vê não tá sozinha.

Pra festa do estica e puxa,

É um tirinho de garrucha,

Acaba perdendo a linha.

Tem vez que se regenera.

Faz despedida pomposa,

Oferece uma poesia,

Acena toda dengosa.

Mas nem bem se retirou,

Quando se vê já voltou,

E mete a cara na prosa.

E o maridão no sofá...

Baaaba feito um desgraçado!

A coitada tem vontade,

Quer mudar rumo do fado.

Acorda o respectivo,

Vela pra defunto vivo,

É o que vê no resultado.

E ela volta a ser poeta...

Às vezes até consegue,

De tanto encher linguiça,

Um ou outro sempre segue.

É sua única alegria,

Seria patifaria,

Dar a vida por entregue.

Noutro século quem sabe,

Dos nossos tempos, dirão:

- A poesia renasceu,

No berço da solidão.

Teve seus dias de glória,

Lira que grafou a história,

Com baba do maridão.

Mas tem as desimpedidas...

Que enterraram seus maridos,

Sem crise de consciência,

Seguem passos destemidos.

E são poetas também,

Até cordelista tem,

Faz verso, prosa e alaridos.

Faço parte desse grupo...

Com dois debaixo da terra.

O terceiro tá difícil,

Dá a largada mas emperra.

Então virei cordelista,

Soco mensagem na lista,

Que o povo todo se ferra.

E cultivo as sociedades...

Nunca hei de abandonar,

Só que agora elas são outras,

Eu vou aqui relatar:

Tem a dos Poetas Vivos,

A dos mortos seletivos,

Da farmácia Popular.

Tem também a do AMBESP...

Aquela fila sem fim,

De corações destroçados,

Pela vida, igual a mim.

Dos manguaceiros da história,

Eu já pedi moratória

Que eu acho muito chinfrim.

Agora surgiu uma ideia...

Que faz tempo que já tinha,

Seremos sócias do SESC,

Nessa não estou sozinha.

E para bem da verdade,

Essa tal de sociedade

Temo ser o fim da linha.

E lá vão as três poetas...

Nessa barca se afundar,

Duas fofas animadas,

Querem treinar e nadar.

Se a pau-de-virar-tripa,

Não se der bem nessa fita,

Volto aqui para contar.

Santos, 19/01/2009

www.amoremversoeprosa.com

http://artculturalbrasil.blogspot.com/2009/01/tere-penhabe-poetisa-de-santos.html