O NASCIMENTO DA CIDADE DE NATAL
I
A construção de Natal
Em cordel eu vou contar.
Nasceu de uma fortaleza
Fincada na beira do mar.
Construída em mil e seiscentos,
e ainda enfeita o lugar.
II
Felipe Segundo rei
Da Espanha e primeiro
De Portugal, no Potengi,
Pra combater estrangeiro,
Começou a fortaleza
No dia de Reis, em janeiro.
III
Os franceses invadiram
A bela Rio de Janeiro.
Perdem e vão pro nordeste
Vivem como caatingueiro
Para conquistar confiança
Daquele povo guerreiro.
IV
Para roubar o pau Brasil
Depois partir nas calmarias
Que há nos escoradouros
Do rio Potengi e freguesias:
Praia de Búzios, Tabatinga
Onde fincaram moradias.
V
Os vizinhos da Paraíba
Sentindo-se incomodados,
Pois franceses, potiguares
Invadiam sítios, povoados,
Saqueando e matando,
Invocaram o Tratado.
VI
Aquelas terras estavam
Por ele asseguradas.
Pelos franceses não podiam
Ser mesmo desmembradas
Um forte e uma cidade
Deviam ser implantadas.
VII
Para ajudar na defesa
daquelas terras do norte
deixadas por Portugal
entregues à própria sorte.
Ali devia ser fincado
Um belo e grande forte.
VIII
Em dezembro de noventa
E sete, mil e quinhentos
O ano, que em Potengi
Chegam os destacamentos
De Manoel Mascarenhas
Com seus doze regimentos.
IX
Feliciano Coelho vinha
Por terra com a infantaria
E com outros comandados
Que formavam a cavalaria,
E ainda Gaspar de Samperes,
Jesuíta da engenharia.
X
A quem couber desenhar
A planta da paliçada,
Que com poucos meses depois
Pôde ser inaugurada.
Por Jerônimo Albuquerque
Passou a ser comandada.
XI
Que depois passou o cargo
A João Rodrigues Colaço.
Francisco Frias de Mesquita
Melhorou mais o espaço,
Com o trabalho de pedra,
Cal, pois ali faltava aço.
XII
Vinte e cinco de dezembro,
Quando Natal foi fundada
Do ano de noventa e nove
Uma aliança foi firmada
Entre as nações potiguares
E a paz ficou selada.
XIII
Uma capela foi erguida,
Depois tornou-se matriz.
Da cidade de Natal
Foi a grande força motriz.
Na Praça André Albuquerque,
De hoje, está sua raiz.
XIV
Fortaleza dos Reis Magros,
um padre foi o arquiteto:
de vinte salas, baluarte
e até um túnel secreto.
Uma capela no centro,
Estava pronto o projeto.
XV
Baluarte São Felipe
Era um meio de defesa.
Feito perto do portão
De entrada da fortaleza
E também do de saída
Para se evitar surpresa.
XVI
Feito para se evitar
Que aríete fosse usada.
Arma que se utilizava
Para derrubar murada.
O espaço muito pequeno,
propício pra emboscada.
XVII
Inimigo, se conseguisse
Passar o primeiro portão,
Teria que derrubar o outro
E ficaria preso no vão
Do recebimento. Do teto
Caia grande uma recepção.
XVIII
Óleo e água fervendo:
“Recepção Calorosa”.
Havia ainda outro portão
Com guarnição fervorosa.
Chamada Corpo da Guarda
Que não estava pra prosa.
XIX
Na primeira sala ficava
O tal presídio civil.
Nele os contrabandistas
Que roubavam pau-brasil,
Cana-de-açúcar e ouro
Desse país varonil.
XX
Na segunda sala estava
O presídio militar.
Destinada aos soldados
Presos naquele lugar.
Banheiro pra deficiente
Hoje foi instalado por lá.
XXI
A terceira sala fora
Uma passagem aberta:
A tal passagem secreta
Com argila era coberta.
Dava na parede sete
E uma fuga não desperta,
XXII
Para fora do Rio Grande
Do capitão-mor e demais
Comandantes. Enquanto isso
Os soldados, pobres mortais,
Defendiam a fortaleza
Com canhões, facas e punhais.
XXIII
Depósito de alimentos
Na sala quatro ficava.
Hoje fizeram banheiros
onde turista se lava,
Pra esfriar o calor
Que lá dentro se agrava.
XXIV
Na sala cinco do forte
Era paiol de munição.
Hoje pra besta e painéis
Serve de exposição,
Tratado de Tordesilhas
Que chama nossa atenção.
XXV
A besta era uma arma
Que pra lançar flechas servia.
Na sala seis era aonde
Parte da guarnição dormia.
Para guardar a seteira
Por onde tudo se via.
XXVI
Manequim de Manoel Homem
Hoje na sala se expõe.
Com arcabuz e em trajes
lá da terra de Camões.
Era o capitão-mor
Com vastas atribuições.
XXVII
A sala sete pro soldados
Serviu como alojamento.
Maurício de Nassau que
Nos causou grande tormento,
Esteve na fortaleza
registram painéis do evento.
XXVIII
Da Batalha dos Guararapes
Felipe Camarão, Clara,
Sua mulher, ajudaram,
Com a tribo potiguara,
Expulsar os holandeses.
Pra sempre daquela seara.
XXIX
Manequim representando
O Felipe Camarão,
Um Herói dos Guararapes
Na sala tem exposição.
Também de outros achados
Da época da expulsão.
XXX
Na sala oito ficava
Perto do alojamento
Ali havia um paredão
Para o fuzilamento.
E uma cisterna d’água
Servia de armazenamento.
XXXI
Na sala nove ficava
Refeitório dos oficiais
No pátio se alimentavam,
Da guarnição, todos demais.
Dia ou de noite e até
Quando havia temporais.
XXXII
Sala dez em duas dividida:
Em cima era dormitório
Do capitão-mor, que em
Baixo tinha o escritório.
E um pequeno mezanino
Servindo de divisório.
XXXIII
Na sala onze situava
Capela da Fortaleza;
Poço artesiano no centro
Dava água pra limpeza,
E um armazém de pólvora
Que era a maior riqueza.
XXXIV
Protegida da umidade
Vinda daquele arrecife.
Por ser um lugar sagrado,
Dava-lhe ainda mais cacife,
No caso de um ataque
Por terra, ou duma esquife.
XXXV
Mas o local foi atingido
Por ataque holandês
E um estilhaço acertou
Capitão-mor português,
Que devido a isso morreu
Na capela dos três reis.
XXXVI
Cachaçaria artesanal
Fica onde era a cozinha,
A antiga sala doze
Aonde o soldado vinha
Compor o corpo da guarda
Sempre numa dobradinha.
XXXVII
Pra julgar os prisioneiros
Que iam para o paredão,
Ou mesmo pro calabouço
Quando havia precisão.
Estado Maior na sala
Treze dava decisão.
XXXVIII
Loja de artesanato
Está hoje no local.
A pior sala a quatorze,
compartimentos do mal,
pra onde iam prisioneiros
na escuridão total.
XXXIX
E tinha três divisões:
Uma grande sala escura
Que servia para prisão;
Uma sala de tortura,
Onde o preso era lançado
Com água até a cintura.
XL
Que depois de quatro dias
Pro pátio era levado
Pra com o brilho do sol
O sujeito ser cegado.
Nos arrecifes pontiagudos
Amarrado ser jogado.
XLI
Conselheiro-mor ficava,
Na sala quinze, alojado.
Mais velho e experiência
Era o mais escutado.
Mas seu plano devia
Por oficiais ser confirmado.
XLII
Na sala dezesseis ficava
O comandante geral.
Jerônimo de Albuquerque
Tem manequim no local.
Do forte foi o segundo
Em seu comando total.
XLIII
O Baluarte de São Tiago
É a sala dezessete.
Nela ficavam canhões
Que eram a maior vedete.
Da pequena cidadela
Hoje a maresia derrete.
XLIV
Na sala dezoito está
a artilharia maior.
Com canhões para o mar,
Peça de grande xodó
Desde do soldado raso
Até o capitão-mor.
XLV
Nesta parte as paredes
Têm sua maior espessura
Chegam a quatorze metros
Esta é a sua largura
Onde bala de canhão
Não fazia nem rachadura.
XLVI
No centro dessa parede
Colocaram um farol
Orientando hidroaviões
Que andavam perto do atol
Na Segunda Grande Guerra
Donde se olha o por do sol.
XLVII
O cais de carga e descarga
E o banheiro do forte
Na sala dezenove estava
E servia de passaporte
Pra fuga do capitão
No caso de um aporte.
XLVIII
A escada do menos um,
A sala de número vinte,
Que este nome recebia
Porque inimigo subinte
Se de lá fosse lançado
Ouvia a expressão seguinte:
XLIX
Menos um. Sobrevivendo,
No calabouço amarrado.
Entretanto, se morresse
Pros peixes seria jogado.
E o fim do invasor
Ali estava acabado.
L
O forte foi invadido,
Por volta de trinta e três,
Do século dezessete,
Por um grupo de holandês
Que matou o capitão-mor
E bastante português.
LI
Natal passou a se chamar
De Nova Amesterdã,
O forte, Castelo Keulen
Capitão que ganhou o clã.
Na Guerra dos Guararapes,
Uma luta de titã,
LII
Ganha pelos portugueses
Natal tem nome de volta.
Clara Camarão foi grande
heroína dessa revolta
Ao forte deu antigo nome
em grande reviravolta.
LIII
Foi desta forma que nasceu
Do Rio Grande a capital.
Uma bonita cidade
Conhecida por Natal.
De pequena fortaleza
Feita d’óleo, ostra e cal.
HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO
PACOTI, NOVEMBRO/2008.
CORDEL BASEADO EM PANFLETO QUE ME FOI ENTREGUE QUANDO VISITEI O FORTE DOS TRÊS REIS MAGOS, EM NOVEMBRO ÚLTIMO.