O CÓDIGO MACUNAÍMA - O Encontro de Makunaima com Mário de Andrade
Venho para esclarecer
Uma rapsódia de cultura
Que escreveu Mário de Andrade
Pra nossa Literatura
Entre Makunaima herói
E Macunaíma anti-herói
Narro assim esta aventura...
... Esta história se inicia
Na terra do romancista
A cidade de São Paulo
Com a arte nacionalista
Ao lado de seus amigos
Na semana modernista
Nessa semana brasileira
Há muitas léguas distantes
Em busca de identidade
Mário lidera levante
Para o povo brasileiro
À Amazônia avante!
Em êxtase de cultura
Na rapsódia de origem
Exaltou à Amazônia
Como poucos se dirigem
Declamou-a de sublime
Como as pessoas exigem
Rumo ao norte do país
Viaja Mário de Andrade
De caderneta na mão
A registrar variedade
Da cultura popular
E também brasilidade
No decorrer da viagem
Navegou pelo Madeira
Passeou lá em Belém
E se deparou com a feira
Sonhou com belos lugares
E moças a noite inteira
O poeta brasileiro
Se encantava com o que via
Verde para todo lado
Da alvorada ao fim do dia
Sem problemas na cabeça
Era vida que queria
Uma Amazônia selvagem
Espelhando romantismo
Uma tradição cultural
Iluminando realismo
Os contos de Inglês de Sousa
Num natural modernismo
Pelo Negro caminhou
Ao rio Branco margeando
Cortou as campinaranas
Com mata e chuva enfrentando
Lá em Caracaraí
Pela estrada foi viajando
Pelos campos lavradenses
Animais ele avistava
Peixes, onças e tatus
Tudo aquilo admirava
Serras, florestas e rios
No paraíso que estava
Andou por belas veredas
Águas de cristal na fonte
Cruzou o Uraricoera
Dourou com o sol no horizonte
Pinturas na bela pedra
Até encontrar grande Monte
Estava chegando a noite
Quando um estrondo soou
Luzes e trevas no céu
De uma vez tudo parou
O arrebol reluzia
De lenda a mito tornou
Do rei sol com a dama lua
Nasceu como herdeiro
Índio forte e esperto
Entre todos, o primeiro
E guarda o Monte Roraima
Com a bravura de um guerreiro
Makunaima apareceu
Sobre um cavalo selvagem
Na luz dum imperador
Nos coriscos, uma imagem
O Deus de todas as tribos
Herói de força e coragem
Mas Mário não esperava
Aquela situação
Tudo aquilo parecia
Ser mesmo uma confusão
No fundo do mato-virgem
A nebulosa explosão!
Makunaima já sabia
Que o escritor procurava
Havia seguido seus passos
Na mata que atravessava
Achou digna sua missão
Pois folclore resgatava
Makunaima (MK):
Seja bem vindo poeta
Admirável sua procura
A cor, a raça e o sangue
São verdadeira cultura
Este é o legado autêntico
Para geração futura
Pois lhe digo que a nação
Tem no folclore riqueza
Desde os pampas aos sertões
No coração uma certeza
E nas grandes capitais
Nas cidades, a natureza
Mário de Andrade (MA):
Eu viajei pelo Brasil
E dancei samba e canção
No Nordeste registrei
Maracatu e baião
Na Amazônia mal cheguei
E vibrei de emoção
(MK):
E nesta terra do Norte
Tem muito pra conhecer
Festejos à beira-rio
Vendo dia amanhecer
Histórias, lendas e mitos
Pra nunca mais esquecer:
No ajuri da mandioca
Grande festa celebrando
Dança ao redor da fogueira
Pedras que batem cantando
Calafrios na madrugada
O vento forte soprando
Índio desobediente
Não cumpre as regras de pé
Desrespeita leis da tribo
Chama atenção do pajé
E depois acerta as contas
Pela Lei do Canaimé
E Pelo extenso rio Branco
Entre as luzes de Tupã
Navega bela desnuda
Presa à faceira cunhã
A cobra grande Boiúna
Com a pedra muiraquitã
(MA):
O Lendário Amazônico
É muito rico e diverso
E enaltece o Brasil
Com música, letra e verso
Se amar é intransitivo
Então não conjugo inverso
(MK):
O Brasil tem muita cara
Basta o povo descobrir
Esta terra ainda não é
Bem depois que o branco agir
Escreva-a sem demora
Para o povo decidir
Pois essas tribos cairão
E todos seremos um
Verde-mata passará
Não vai sobrar peixe algum
E quando os rios secarem
Não terá lugar nenhum
(MA):
O povo deve saber
O futuro do país
Árvores não crescerão
Se perdermos a raiz
Concretizo Desvairismo
Fruto da viagem que fiz
(MK):
O povo brasileiro
Precisa reconhecer
Que com essas atitudes
A nação vai perecer
A preguiça e a miséria
Nos levarão a descer
(MA):
Eu mostrarei as pessoas
A cultura que não rima
As pessoas como vivem
O Brasil não vai pra cima
E eles conhecerão
Anti-herói Macunaíma
Macunaíma será símbolo
De uma grande ilusão
De pessoas sem caráter
Com malícia e corrupção
Dos falsos cidadãos que
Deixarão o povo na mão
E ainda revelará
A desordem nacional
Elites inconsistentes
Uma riqueza virtual
Progressistas, conformados
Mundo superficial...
Makunaima creditou
O que Mário quis fazer
Então não quis esperar
Muito tempo para ler
E mostrou coisas da terra
Para Mário logo escrever
Quatro semanas depois
Mário pra casa voltou
Lembrou do saudoso encontro
E seu trabalho ampliou
No âmbito de sua escrita
Seu romance publicou
No diário do poeta
Não se lê a tal viagem
Mário de Andrade guardou
Muito bem essa bagagem
Ao grande monte Roraima
Na terra de Makunaima
Levou na mente essa imagem.
O livro “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter”, foi publicado em 1928 alcançando muito sucesso até os dias atuais. O que definitivamente pôs Mário de Andrade no rol dos grandes romancistas brasileiros.
Boa Vista, 05 de outubro de 2008.
20° aniversário de criação do Estado de Roraima