A morte dum sabiá (safado)

A morte dum sabiá

Airam Ribeiro

Larguei pur cá o meu ninho

E saí pur aí a vuá, a vuá...

Num sonhá de paçarinho

E u’a canção triste a intoá

U'a canção qui diz da sôdade.

Fui buscá ni ôtra cidade

Argo para min acalentá.

E saí a vuá sem vê as zóra

A percurá u’a sabiá minêra

E lá nu jardim de Juiz de Fóra

Cantei para a ex cumpanhêra.

Só quiria qui ela min ouviçe

Num quiria qui ela min vice

Lá no pé de u’a amoreira!

Abriu a jinela e percurô

Cuma quem já sabia inté

De quem era o cantá sofredô.

Abriu a porta e ficô lá de pé

A percurá por todo o jardim.

E eu veno ela dizeno bem pertim...

- É você meu paçarin, é?

Póza aqui na minha mão!

Vem matá esta sôdade

Qui ta no meu coração

Por quê tanta mardade?

Bem triste aqui eu fico!

Foi aí qui calei o bico

Li fazeno u’a caridade.

Ela num tava ali pur querê

Num quiria de nóis se afastá

Sintí nela um grande sofrê

Mais foi o jeitio eu min calá

Ela gritava pra todo lado

É você sabiá safado...

Vem aqui pra min abraçá!

Duas lágrima fria deçeu

Dos meu pequeno zóin

Quereno tê um abraço seu

Mais u’a dô forte ni mim

Fêiz eu caí da amoreira

E no jardim da cumpanhêra

Eu vi ali meu triste fim.

Meus zóio se foi fexano

Ela correu pra min vê

O coração tava parano

Dano fim no meu padicê

Ela inda min pegô nas mão

Se ajuntô ao seu coração

Tentano min fazê revivê.

Mais as força já cabava

Jeitio num tinha mais não

Derna sua partida eu já tava

Viveno u’a grande solidão

Fui vuano pra eternidade

Nu’a grande felicidade

Purquê murrí nas suas mão.

Dedico este poema cordel para aquela galega que muito nos fêiz feliz no www.recantodasletras.com.br

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 09/10/2008
Reeditado em 09/10/2008
Código do texto: T1219141