Pedernêra foi castrado na Bahia
No dia qui castrei Pedernêra
Saí dipréça correno
Pra atendê seu recado
Quando li a sua trova
Já fiquei discunfiado
De um cabra qui aqui xegô
E u’a donzela deflorô
Fui cunhecê o safado.
Já tava no mato iscondeno
Quando eu xeguei pur dirtráis
Cum as corda fui amarrano
Aquele safado rapaiz
Despois dele amarrado
Fiz de um um ômi inraivado
Infrentei o capátaiz.
Preguntei intão ocê
Vei da mata du fundão
Dizonrô dona Rozinha
Muié de bom coração
Ocê é um disgraçado
Inté um pobri coitiado
Qui naçeu sem coração.
Viu seu Perdenêra
Tem um prêmio pra quem li castrá!
Já qui tu ta marrado
Seus cunhão eu vô tirá
Pois aqui na Bahia
Safado num tem aligria
Cê deu azá di vim cá.
Ocê ta mutio falado
Pur êci Brazí brazilêro
Foi néça úrtima cidade
Qui ocê xegô intêro
Pode rezá pra sua santinha
Inquanto afio a faquinha
Na peda do piquizêro.
O ômi suava tanto
Gritava pur nosso Sinhô
Num tira meus ovo não
Min faiz este favô!
Quando tu tava lá no canto
Dexano as moça in pranto
Disso cê num alembrô.
Cumeçei cortá os ovo
Cum aquela faquinha gróça
Cada taio qui eu dava
Alembrava da carroça
E do cavalo qui eu ia ganhá
Já cumeçava a soinhá
Cum as lavôra la da róça.
Tu inda força as donzela?
Ancim eu li preguntava
Inquanto um dus ovo
Na minha mão já cigurava
O outro cumecei cortá
Quando vi eli xorá
Mais niuma lágrima rolava.
Cortei o outro ovu
Qui a capanga ficô vazia
Agora nóis temo um cazu
Cê vai sintí agunia
Agora vô cortá seu pinto
Nium remorço eu sinto
Só lembrano das pobri famia.
Inconto tô custurano
Éça capanga de ocê
Vô botá sá e pementa
Só pra vê ocê gemê
E Perdenêra os dente rangia
Inquanto os butão da braguia
Eu cortava pras carça deçê.
Foi a ora de cortá o pinto
Cum u’a giletinha amolada
Quando dei o premêro corti
Só vi sangui da guinxada
No segundo taio intão
A curnixa caiu nu xão
Fico Perdenêra sem nada.
E pra frente da paióça
Lá no istado de Goiáis
Intreguei aquele safado
Qui martratô muitios pais
Intreguei os ovos cortado
E trouxi pro meu istado
As nutíças pros jornais.