Mulher virtual

Mulher virtual

Vejo uma deusa na tela

Uma imagem quase real

Nunca vi coisa mais bela.

A mulher é divinal.

Parece mais uma fera,

Uma deusa virtual.

É um primor de sedução

Uma doçura vital,

É a nova sensação.

Um pique, um clique fatal.

Puro e gostoso tesão

A fera no digital.

De olhar negro e feminino

Andar quase angelical

Ela sussurra: meu menino,

Seu sorriso genial

É o mais vil e masculino

Deste seu reino animal.

Isto me deixa carente,

Querido e mais melindroso.

Faço verso diferente,

Rimo cheiroso e gostoso

Ela fica suada e carente.

Eu fico vivo e meloso.

Ela não gosta de samba,

Só dança forrobodó.

No reservado é bamba

É um beija-beija, sem dó.

À luz do dia ela zomba,

No meu colo, é só xodó.

O apelido de Medusa

Foi só pra me conquistar,

Ela é minha nova musa

É de fazer endoidar.

No samba ela é cafuza

No rock, fica a rebolar.

Quero ser o seu menino.

Fazer de mim, um moleque,

Seu brinquedo masculino.

Quero me ver no seu clique

Me deixar em desalinho

Quero ficar de pileque.

Quando vejo seu apelido

Pinta um clima diferente.

Fico feliz e querido,

Doido e quase carente.

Sinto que já estou perdido

Assim, quase de repente.

Se ela não vem me ver

Fico sozinho e não canto

É um infinito sofrer.

Fico triste não sou santo.

E de tanto querer ser

Fujo, vou pra outro recanto.

Vejo e leio nos murais,

Os versos feitos pra mim.

São palavras virtuais,

Mas de um amor sem fim.

São poemas irreais.

É o amor! É sempre assim.

Procuro não endoidar,

Grito pra todos no mundo

Alô! Alô! Vem conversar.

Estou aqui, quase no fundo.

Só quero lhe namorar

É só, só mais um segundo.

Cadê a luz? Re conexão.

Salas vazias. Outro pique,

É só pra dar mais ação.

Mais um clique, e clique.

O estresse, a irritação.

Nossa! Cadê o seu nick?

Ah! Fiquei travado e só.

Aumentou a indecisão.

É um clique-clique, sem dó.

Cadê a tal da precisão?

A dor estancou no gogó.

Cadê a imaginação?

Grito pra gata e nada.

Persuasão digital.

Mulher quase conquistada

Adeus, um clique final.

Imagens nuas, rasgadas,

Encontro quase fatal.

Perdi a mulher virtual

A sedutora de amantes.

Noite fria e bestial.

Monitor frio e brilhante,

Loucura no visual

E na alma, deste errante.

Chamo a Maria. __Tudo bem?

__Tudo, e com você amigo?

__Aqui está tudo zen.

__E os antigos cupidos?

__Ah! Estão no vai-e-vem.

__Isto é um grande perigo.

__Acho, que estão nos olhando.

Diga qual é a sua idade

De onde está digitando

O que faz na sua cidade

E se estiver gostando,

Não esqueça a identidade.

__Sou a mais bonita e gostosa,

Alta, loira e sensual.

Sou rica, boa e formosa.

Gosto de dança e lual.

Dou bom dia e não dou prosa,

Não sei o que é ter rival.

__Olhos verdes, e solteiro,

Alto, bonito e charmoso.

Rico, forte e com dinheiro.

Dizem que sou o mais gostoso.

Sou moreno, sou mineiro,

Sou um gatinho, carinhoso.

Encontros virtuais diários.

Brincadeiras de namoro.

Palavras sem comentários.

Um adeus, um novo choro.

Muitos intermediários.

Muitos chorando em coro.

Não me fale de beepes,

Nem dos nossos rudes ícones.

Nem dos seus queridos nicks.

Prefiro ficar sem tiques.

Vou correndo pros links.

Isto não é nada chique.

Nunca vi coisa mais triste.

Pensei que fosse amor,

Aquele beijo que vistes

Na tela do monitor.

A dor chegou e persiste,

Neste coração sem ardor.

Neste forró virtual,

Foi que encontrei meus dois amores;

A música de Vital

E a doce Maria Dolores,

Neste momento final,

Digo adeus, navegadores.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 01/03/2006
Reeditado em 02/03/2023
Código do texto: T117357
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