Pequi, um fruto qui só trás recordações

Cuma difatu varas vêiz

Quandu ia cuiê piquí,

Ubicervava u qui Deus fêiz

Na mia frenti bem alí.

Era bunito a genti vê-la

Paricia inté u’a istrela

Iguá aquela de Daví.

Eu ficava ubicervanu

Incronto o fruto eu tirava,

Iço era todus finá di anu

Quandu sua épuca xegava.

Saia demaiã cedim

Cumenu articun nus camin

Qui mia boca lambuzava!

Num dexava pra despôis

Já era de obrigação,

Aqueli tempero nu arrôiz

Qui eu cumia cum fejão.

Despois ia cumê jatobá

Qui nu mermo cerradu de lá

As bagi caia nu xão.

Já ôji mutio distanti dali

Du cerrado adondi eu ia,

Nunca mais seu frutu eu vi

Nunca mais fui ni Brazia.

Aqui só ci vê curráu

Leiti, boi e pé de cacau

Nesti cantão da Bahia.

Recordá o fruto min faiz

Pois mamãe morava ali,

Quanta recordação min traiz

Aquele xeirinho du piqui.

Pareci inté um mistério

Pois ôji lá é um cimitério

Nu cerradu qui cunhicí.

Como os pé du piquizêiro

Cum suas raiz infincada

Minha mãe tomém por alí

Naquele lugá fêiz morada

Adonde os piqui eu ia pegá

Junto cum as bagi de jatobá

Ta lá minha mãe interrada.

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 30/08/2008
Reeditado em 30/08/2008
Código do texto: T1153578