Prosaico

Prosaico quando era prosa, fingia ser peão

Cantava rima e reinava os gatos

Fingia fogo e ferrava pingado

Espertava espero, nunca encostado

Quando queimava os queixos, virava abusado

Prosaico, quando era prosa, inventou uma invenção

Maquinava as horas em martírio só

Dedilhando cordas, pensativo de dó

Mas o dó que dava, logo passava em nó

Moleque que tanto brocava milho verde e aro poró

Prosaico, quando era prosa, quis brincar de lampião

Chamou Cremildo, coitado, couro fraco e fedorento

Fez o moleque fingir que furava todo frouxo que fosse relento

E espalhou entre os estranhos esse embuste escandalento

E Cremildo, coitado, crente que era valente que nem era o pensamento

Prosaico, quando era prosa, resolveu fazer dinheiro com as mãos

Abriu uma parada, coisa pouca na esquina, e chamou de Velha Guarda

Tinha aperitivo, tevê e cerveja, tudo que todo vagabundo precisava

E foi por isso que prosperou. Amelita, sua mulher, era só quem não gostava

É que enquanto ele aproveitava, fingindo trabalho, era ela quem limpava

Prosaico, quando era prosa, vivia a vida que nem façanha - feito cachaça com limão

Fez filhos, ficou rico, foi ferrado e levantou

Sorria às sete, quando acordava, e nunca foi alvo de mau-humor

Achava que agora era sempre, e sempre assim continuou

A fazer de tudo graça, até quando a desgraça da cachaça finalmente o entornou.

Ie
Enviado por Ie em 25/08/2008
Código do texto: T1145837
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