Prosaico
Prosaico quando era prosa, fingia ser peão
Cantava rima e reinava os gatos
Fingia fogo e ferrava pingado
Espertava espero, nunca encostado
Quando queimava os queixos, virava abusado
Prosaico, quando era prosa, inventou uma invenção
Maquinava as horas em martírio só
Dedilhando cordas, pensativo de dó
Mas o dó que dava, logo passava em nó
Moleque que tanto brocava milho verde e aro poró
Prosaico, quando era prosa, quis brincar de lampião
Chamou Cremildo, coitado, couro fraco e fedorento
Fez o moleque fingir que furava todo frouxo que fosse relento
E espalhou entre os estranhos esse embuste escandalento
E Cremildo, coitado, crente que era valente que nem era o pensamento
Prosaico, quando era prosa, resolveu fazer dinheiro com as mãos
Abriu uma parada, coisa pouca na esquina, e chamou de Velha Guarda
Tinha aperitivo, tevê e cerveja, tudo que todo vagabundo precisava
E foi por isso que prosperou. Amelita, sua mulher, era só quem não gostava
É que enquanto ele aproveitava, fingindo trabalho, era ela quem limpava
Prosaico, quando era prosa, vivia a vida que nem façanha - feito cachaça com limão
Fez filhos, ficou rico, foi ferrado e levantou
Sorria às sete, quando acordava, e nunca foi alvo de mau-humor
Achava que agora era sempre, e sempre assim continuou
A fazer de tudo graça, até quando a desgraça da cachaça finalmente o entornou.