PEQUENO DICIONÁRIO DE CEARÊS EM CORDEL II

Para tudo os nordestinos

Tem o seu próprio dialeto

Usado pra coisa, gente,

Todo tipo de objeto.

Dicionário muito rico

E também muito concreto.

Se sujeito for pequeno

Será bem pixototinho.

Se lhe falta um dos membros

Só tem mesmo o cotoquinho.

Se a falta for do braço

Chamaremos de bracinho.

Um sujeito aleijado

Será de troncho chamado.

Quando fede tem inhaca.

Se tem sorte tá cagado.

Se não se veste direito:

Será um malamanhado.

A uma coisa folgada

Damos nome de foló.

Peia é se bater num cara,

Sem piedade e não ter dó.

O sujeito sem bufunfa,

Liso, é pobre de Jô.

Para o mosquito da dengue

Demos nome muriçoca.

Carne seca com farinha

Nós chamamos de paçoca.

O cuscuz para sulista

É a nossa boa tapioca.

Se os olhos estão sujos

Estão com muita remela.

Nosso gado come e bebe

Sempre dentro da gamela.

Não comemos omelete.

Malassada o nome dela.

Nós nunca damos a volta

Porque sempre arrodeamos.

Nunca se encher o saco

Isso porque aperreamos.

Numa casa jamais se entra;

Aqui nós emburacamos.

Nordestino não tem trejeito,

Ele sempre faz mungango.

Gente que em Brasília ficou

Conhecida por candango.

No Nordeste tem forró

Aqui não dança fandango.

A um tiro, ou estrondo

Nós chamamos de papoco.

Quando o cara vai foder

Ele vai tirar um coco.

E se ele não ouve bem

Será um sujeito moco.

Quando se é brincalhão

Nós chamamos de enxerido.

Baitola esse nome damos

a um viado assumido.

Se veículo é veloz

É porque passa zunido.

Quando há bastante barulho

Nós dizemos que tem zoada.

Uma pessoa muito boba

É chamada de lesada.

Porém há muitos que gostam

E preferem abestada.

Cabaré pra nordestino

Trata-se de quenquenbal.

Onde há putas juntas,

Ali tem raparigal.

Já quem é bastante alto

Chama-se de vara pau.

Nada se põe no lixo;

Pois, rebola-se no mato.

Peba é coisa ruim

Massa, se for boa de fato.

Quando se tem uma amante

Diz-se que se tem um gato.

Nordestino diz boneco

Quando bota um barraco.

Quando se diz que é frouxo

não se trata de buraco,

mas medroso é o cara.

Babão, baba ovo chamamos

Quando se é puxa-saco.

Damos nome de nó cego

Para uma pessoa errada

Que só vive de confusão

E fazendo presepada.

Mas se ele também for boba;

Conhecida por aluada.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

FORTALEZA, AGOSTO/2008